19 set, 2024 - 02:25 • Miguel Marques Ribeiro
O presidente da Câmara de Águeda, Jorge Almeida, faz duras críticas à forma como o fogo foi combatido no concelho nos últimos dias, reforçando as queixas já antes apresentadas.
Segundo Jorge Almeida, o mal podia ter sido cortado pela raíz logo em Sever do Vouga, município vizinho do qual as chamas foram importadas.
“Estivemos a alertar praticamente durante toda a tarde de ontem [terça-feira] que havia aqui um resquício, um problema na zona de Vilarinho e das Talhadas, de Sever do Vouga. Que era extraordinariamente perigoso se ele passasse para este lado, que seria difícil de apanhar. E aconteceu”, afirmou o autarca em entrevista à Renascença.
O autarca garante ainda que lhe foram feitas promessas de ajuda que não foram cumpridas. “Fui enganado pelo menos 3 vezes, disseram-me que vinham para cá e não vieram”.
A conclusão é a de que se devia ter agido mais cedo “nesta intervenção e noutras”. “Nós temos estes comandos hierarquizados e de alguma forma burocráticos, demorados, que nos fizeram perder toda a manhã”, refere.
Para já, o edil prefere não especificar quem falhou no apoio prometido, mas deixa reparos ao comando nacional que está a coordenar as operações.
Os cidadãos locais foram apanhados de surpresa pel(...)
“Nós capacitamo-nos o mais possível para termos informação e opinião sobre as coisas que acontecem na nossa terra. E depois muitas vezes quando estes incêndios adquirem uma dimensão nacional e passam a um comando nacional, às vezes vêm pessoas que sabem demasiado e que não querem ouvir”, referiu.
Nos últimos dias, a Proteção Civil tem sido alvo de críticas de vários autarcas, o que já motivou uma resposta do comandante nacional André Fernandes.
O autarca de Águeda foi entrevistado pela Renascença em Préstimo, um dos pontos críticos no combate às chamas, no final de um dia extenuante.
Quando estes incêndios adquirem uma dimensão nacional e passam a um comando nacional, às vezes vêm pessoas que sabem demasiado e que não querem ouvir
“Vai ser muito difícil colocarem-me na minha cabeça de que não poderia ter sido ali evitado”, diz pesaroso, perante o cenário desolador em que se transformaram grandes áreas do concelho, agora reduzidas a cinzas.
Assim, o autarca mostra-se desiludido com o rumo que as operações tomaram. ”Hoje estou muito chateado porque tudo aquilo que nós prevíamos que ia acontecer, aconteceu, tudo aquilo que nós chamamos a atenção que ia acontecer, aconteceu, e tudo aquilo que não foi feito devia ter sido feito. É essa a conclusão a que nós temos que chegar”.
Jorge Almeida fala de “uma catástrofe económica, mas sobretudo ambiental” para Águeda, município que possui a maior mancha florestal do distrito de Aveiro, 95% da qual constituída por eucalipto.
“Percebíamos desde a primeira hora que estávamos aqui perante uma bomba atómica que seria perigosa de conter”, afirmou.
Para além da área ardida há ainda a lamentar a perda de dez construções.
Se vier vento como nos outros dias, provavelmente temos um inferno de novo montado
Nas operações estiveram envolvidos seis canadairs, mais de 600 operacionais e 100 meios de combate.
O fogo foi controlado, mas “é uma corrida contra o tempo” que vai decorrer nos próximos dias. “Se vier vento como nos outros dias, provavelmente temos um inferno de novo montado”.