Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Greve na cp

"Chego aqui e não há comboios. Nem ninguém que nos dê informação"

22 jul, 2024 - 11:30 • João Cunha

Greve na CP está a ter grande impacto na circulação de comboios por todo o país. Pelo menos na manhã desta segunda-feira, nenhum comboio Alfa Pendular ou Intercidades circulou. A greve repete-se na quarta-feira.

A+ / A-

Timothy Alvin acaba de chegar à Gare do Oriente, vindo dos Estados Unidos. Ele, a mulher, e duas crianças de 2 anos, gémeas, num daqueles carrinhos de bebé que bem podia ter, atrás, uma indicação de veículo longo, qual camião.

Para além das crianças, que não param de chorar, o carro transporta, na parte inferior, várias pequenas malas de viagem e, pelo meio, um pacote de guloseimas, que ajudam o casal a manter as crianças distraídas. O casal também transporta duas malas enormes, que, certamente, passaram o peso permitido quando fizeram o check-in ao entrar no avião, ainda nos Estados Unidos.

Olham para os quadros informativos nas televisões, existentes em cada lanço de escadas de acesso às plataformas e não percebem a informação que delas consta. Ainda tentam nas bilheteiras, fechadas, obter alguma informação. Até que ganham coragem, metem conversa e perguntam o que significa o "suprimido" constante de todas as ligações.

Lá percebem que quer dizer que não há ligações ferroviárias. Muito menos de longo curso. E eis que no sistema sonoro, depois da informação em português, lá se diz, em inglês, que a ligação para Faro acaba de ser suprimida. As crianças, que continuam a chorar, já estão cansadas da longa viagem desde Boston. E também por isso os pais quase que entram em pânico, não percebendo como vão fazer para chegar a Faro, ainda hoje, onde já têm hotel marcado.

Ali mesmo ao lado está uma máquina de venda automática de bilhetes de autocarro, que lhes é indicada como a única alternativa para chegar hoje ao Algarve. Deles e de tantas outras dezenas de passageiros, já com bilhete comprado, que se vêm obrigados a gastar mais dinheiro para fazer uma viagem já comprada há semanas. Sem saber quando, mesmo pedindo a devolução do dinheiro no site da CP, vão receber o dinheiro.

Num café no interior da estação, Juliano Lanzonni desabafa, enervado.

"Vim do Brasil para ver o meu filho, que está em Aveiro. Vou passar 15 dias em Portugal. Comprei tudo antecipadamente no Brasil, para não haver erro e ter os horários certinhos. Chego aqui e não há comboios para Aveiro. Nem ninguém que nos dê informação. Está tudo fechado. É um caos".

A esta hora já terá chegado a Aveiro, depois de uma viagem de autocarro. E mais uma dúzia de euros gastos. O mesmo aconteceu com dezenas de outros turistas que, chegados à estação, davam de caras com a greve e com a necessidade de encontrar uma alternativa de transporte. Houve mesmo quem, depois de largas horas de voo até chegar a Portugal, tivesse optado por um táxi para os levar até Portimão, por exemplo.

Suburbanos de Sintra a abarrotar

Ainda antes das sete da manhã já centenas de habituais utentes da CP se aglomeravam nas plataformas da estação de Agualva-Cacém. Às 06.40, entrou na estação um comboio vindo de Sintra, em direção ao Rossio, já apinhado de gente. E mais apinhado ficou, porque saíram poucos passageiros e entraram dezenas de outros. à força. Empurra para aqui, puxa dali, e lá se conseguiram fechar as portas para o comboio poder seguir viagem. Um maquinista da CP, que preferiu o anonimato, referia que não entendia por que motivo, em determinadas linhas suburbanas, se decretavam serviços mínimos.

"Não se faz ideia do perigo que representa para os passageiros ter comboios a circular apenas de hora a hora, nas horas de ponta. Quem consegue entrar sujeita-se a uma viagem que pode levar mais tempo do que o habitual em condições verdadeiramente inacreditáveis: calor intenso e falta de espaço, que provocam indisposições e ataques de pânico em muitas pessoas".

Há cerca de um ano, um comboio da CP parou pouco antes de chegar à estação de Benfica, o que gerou o pânico entre os passageiros. O comboio estava sobrelotado e algumas pessoas sentiram-se indispostas e tiveram crises de ansiedade. Muitos forçaram as portas para sair e acabaram na linha férrea, obrigando á interrupção da circulação.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+