09 abr, 2024 - 07:37 • Anabela Góis , Olímpia Mairos
A Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa, lança esta terça-feira a Rede Prescrição Social Portugal e disponibiliza o primeiro manual de prescrição social a nível nacional.
Trata-se de uma intervenção inovadora que visa responder às necessidades não clínicas das pessoas.
A iniciativa liga os utentes dos cuidados de saúde aos recursos disponíveis na comunidade. Podem ser caminhadas, aulas de dança, de hidroginástica, ou participação em grupo de teatro, de música ou de pintura.
Nesta altura há mais de 10 projetos em curso no país que já beneficiaram mais de 800 pessoas.
À Renascença, Sónia Silva, diretora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) explica que “cerca de 80% dos problemas de saúde hoje dependem do que nós chamamos os determinantes sociais”.
“Há também alguma evidência que nos mostra que 20% do tempo de consulta é gasto a falar exatamente destas necessidades mais sociais”, aponta, destacando que “a prescrição social surge, assim, como uma intervenção inovadora, que procura dar resposta a estas questões e que é, no fundo, uma iniciativa de integração de cuidados em saúde com cuidados mais sociais, culturais que se centram exatamente nas necessidades das pessoas”.
A investigadora diz que “há aqui uma ligação entre o setor saúde, quando identifica as pessoas e as suas necessidades aos recursos disponíveis na comunidade para promover a saúde e o bem-estar das populações”.
“Por exemplo, alguém que sente que tem uma vida muito isolada ou está em num princípio de depressão ou tem sentimentos de ansiedade, pode ser auxiliado com respostas que vêm da comunidade”, aponta.
Essa resposta pode ser dada, por exemplo, através da "participação em aulas de dança ou em grupos de música ou de jardinagem”, assinala Sónia Silva, destacando que “são alternativas existentes que permitem respostas numa vertente preventiva e de promoção da saúde”.
A Rede Prescrição Social Portugal integra investigadores, profissionais multidisciplinares, cidadãos, gestores e decisores políticos, e ambiciona “reforçar a intervenção da prescrição social, construir amplas parcerias institucionais e implementar projetos-piloto e boas práticas”.
“A prescrição social, na verdade, surge de uma necessidade real dos profissionais de saúde do terreno e que muitas das vezes são confrontados com necessidades dos seus utentes, necessidades sociais, emocionais ou práticas, por exemplo, questões ligadas a um maior isolamento à solidão, a questões ligadas com ansiedade, sintomas depressivos ou algumas vulnerabilidades sociais ou económicas. E que muitas das vezes têm uma ligação ou um impacto direto ou indireto na saúde”, conclui.