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Operação rara e complexa. Siamesas separadas com sucesso no Hospital D. Estefânia

08 ago, 2023 - 00:10 • Miguel Marques Ribeiro

Operação durou 14 horas e envolveu dezenas de profissionais. Crianças de quatro anos estão nos cuidados intensivos, mas estáveis.

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Duas siamesas de quatro anos foram separadas no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, no dia 28 de julho. As gémeas ainda se encontram nos cuidados intensivos, mas em situação estável.

A cirurgia decorreu ao longo de 14 horas e, apesar da “complexidade e risco” envolvidos, foi considerada um "êxito" pela presidente do Conselho de Administração do Centro Hospital Universitário de Lisboa Central (CHULC), Rosa Valente de Matos, numa conferência de imprensa realizada esta segunda-feira.

As duas irmãs nasceram unidas pela zona abdominal e pélvica e partilhavam vários órgãos, sobretudo do sistema digestivo. A intervenção cirúrgica envolveu dezenas de profissionais.

O responsável pela Cirurgia Pediátrica do Hospital da Estefânia, Rui Alves, afirmou que não se tratou de um "one man show, mas [de] um trabalho de equipa pluridiscplinar que ultrapassa muitas vezes as fronteiras do Hospital Dona Estefânia".

"Uma cirurgia deste tipo implica um procedimento pré-operatório e planificação longa", explicou o diretor clínico. A operação obrigou a um "estudo aprofundado das doentes para antever as complicações" e planear a cirurgia já que existia "comunhão de orgãos".

Uma das partes mais sensíveis foi a separação do fígado, aspeto para o qual foi solicitada a colaboração de Hugo Pinto Marques, diretor de cirurgia geral do Hospital Curry Cabral.

Outro desafio foi o facto dos canais de ligação dos rins às bexigas estarem intercalados entre as gêmeas o que obrigou à sua correta colocação.

Também o intestino grosso era partilhado e apenas uma das meninas poderá continuar a viver com essa parte do órgão digestivo.

Feita a separação das irmãs, foi necessário recorrer à cirurgia plástica para se conseguir fechar o abdómen das pacientes (algo que ainda só foi alcançado com uma delas). Neste âmbito, está a ser utilizado, pela primeira vez, um biomaterial fornecido por uma empresa alemã, que esteve em Portugal a acompanhar a sua aplicação.

Há 24 anos que não se realizava uma separação de siameses em Portugal. A última vez, tinha ocorrido precisamente no Hospital da Estefânia, sob coordenação do Dr. Gentil Martins, um facto que pode ser explicado pela raridade deste tipo de problemas congénitos que atinge uma em cada 200 mil gravidezes.

Às gémeas vão agora enfrentar um processo demorado de recuperação que vai incluir cirurgias complementares e intervenções ortopédicas para que possam andar, algo de que foram privadas até à data devido à posição viciosa dos membros inferiores.

A identidade das crianças de quatro anos não foi revelada, para garantir a sua privacidade e saúde, mas fonte do hospital informou que se trata de duas meninas de origem angolana. A sua vinda para Portugal foi feita ao abrigo de um acordo que aquele país mantém com a Direção-Geral da Saúde.

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