08 ago, 2022 - 15:40 • Redação, com Lusa
O Observatório de Violência Obstétrica questionou, na segunda-feira, a organização dos serviços de obstetrícia face "ao caos" instalado com o fecho de urgências, defendendo a criação de centros de parto normal para melhorar os cuidados prestados nesta área.
"A situação atual remete para a criação dos centros normais de parto que a Ordem dos Enfermeiros (OE) apresentou recentemente", para rentabilizar os recursos humanos e garantir acessibilidade aos cuidados de saúde materna e obstétrica, adianta o Observatório de Violência Obstétrica (OVO PT) em comunicado.
Os centros de parto normal surgiram com o objetivo de resgatar o direito à privacidade e à dignidade da mulher durante o trabalho de parto e pós-parto, num local semelhante ao seu ambiente familiar e, ao mesmo tempo, garantir cuidados seguros, oferecendo-lhes recursos tecnológicos apropriados em casos de eventual necessidade.
Tal como a OE, também o Observatório defende o envolvimento dos enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica na reorganização dos serviços, assumindo estes as funções de vigilância da gravidez e assistência ao parto de baixo risco.
O Observatório, uma associação sem fins lucrativos formada por utentes e profissionais do sistema de saúde, insiste também na multidisciplinaridade dentro do Serviço Nacional de Saúde, designadamente no envolvimento dos profissionais não médicos, considerando que "desta forma é possível melhorar os cuidados prestados e, simultaneamente, retirar a atual pressão sobre a classe médica".
A posição tomada pela Ordem dos Enfermeiros, emitida pela Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem em Saúde Materna e Obstétrica, foi enviada no início de julho à ministra da Saúde, na sequência dos "constrangimentos severos" que têm ocorrido nos serviços de urgência de obstetrícia.
No final de junho, a bastonária da OE, Ana Rita Cavaco, afirmou, em declarações à Lusa, que existe "uma diretiva comunitária, já com alguns anos, que determina -- e a maioria dos países assim o fez -- que estes enfermeiros especialistas detêm competências para seguir autonomamente a gravidez de baixo risco nos centros de saúde", mas que nunca foi transposta em Portugal.
A bastonária disse que se esta diretiva tivesse sido transposta para Portugal, significaria que "as grávidas teriam um seguimento normal e regular nos centros de saúde das gravidezes de baixo risco, recorrendo muito menos à urgência" dos hospitais.
Recentemente, o Observatório também lamentou a "total dependência" dos hospitais perante os médicos especialistas.
"Os serviços são organizados com total dependência de médicos especialistas, ao invés de ser dada autonomia aos enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia, o que resulta num total colapso do sistema de apoio às mulheres grávidas em todas as fases do seu acompanhamento", advertiu.
De acordo com a OE, existem em Portugal 3.182 enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia.