Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Estudo

Eucaliptos "podem não consumir mais quantidade de água" do que pinheiros bravos

02 jul, 2021 - 12:07 • Lusa

Estudo foi desenvolvido em bacias com características físicas semelhantes, localizadas na Serra do Caramulo, com clima mediterrânico húmido e rocha mãe de xisto. As conclusões do estudo foram publicadas na Revista Water 2021.

A+ / A-

Um estudo liderado por uma investigadora da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Coimbra demonstrou que plantações de eucalipto "podem não consumir mais quantidade de água" do que povoamentos adultos de pinheiro bravo.

O estudo foi liderado por Anne-Karine Boulet, investigadora do Centro de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade (CERNAS) da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC).

"O trabalho levado a cabo teve como objetivo identificar diferenças nos processos hidrológicos de duas pequenas bacias florestais com área inferior a um km2, uma delas dominada por pinheiros bravos [Pinus pinaster Aiton] com idade superior a 20 anos e a outra dominada por eucaliptos [Eucalyptus globulus Labill] de várias idades, e cobre seis anos de estudo, de 2010 a 2016", refere um comunicado do IPC.

Segundo a nota, o estudo foi desenvolvido em bacias com características físicas semelhantes, localizadas na Serra do Caramulo, com clima mediterrânico húmido e rocha mãe de xisto.

"A medição contínua da precipitação e do caudal dos cursos de água permitiu calcular o balanço hídrico das duas bacias e também analisar a sua resposta aos episódios de chuva, bem como estabelecer correlações entre vários parâmetros, nomeadamente características da precipitação, taxas de evapotranspiração, humidade do solo, escorrência superficial e cobertura do solo", é referido.

A fonte indica que "a evapotranspiração média anual da bacia com predominância de pinheiros foi de 907 mm, maior do que na bacia povoada integralmente com eucaliptos (739 mm), mostrando que povoamentos de pinheiro com mais de 20 anos consomem mais água do que uma mistura de povoamentos de eucalipto de idades variadas".

O Politécnico de Coimbra refere que, ao longo dos seis anos de investigação, "as taxas de evapotranspiração anuais variaram entre 37% a 78% nos pinhais e entre 34% a 73% nos eucaliptais, entre o ano mais chuvoso e o mais seco", o que, para Anne-Karine "levanta preocupações quanto ao impacto das alterações climáticas na disponibilidade de água durante os períodos mais secos nas áreas montanhosas das regiões com climas mediterrânicos".

Atendendo a que os resultados obtidos no estudo vêm contrariar a ideia preconcebida de que o eucalipto consome mais água que o pinheiro, a coordenadora da investigação alerta para a "importância do tipo de floresta existente", salvaguardando, no entanto, "que os resultados obtidos foram validados para condições muito específicas de clima e de solo e não se podem generalizar a todo o território".

As conclusões do estudo constam no artigo "Hydrological Processes in Eucalypt and Pine Forested Headwater Catchments within Mediterranean Region", publicado na Revista Water 2021, edição especial "Impact of Land-Use Changes on Surface Hydrology and Water Quality" (disponível em https://www.mdpi.com/2073-4441/13/10/1418).

O artigo é o resultado da investigação efetuada por Anne-Karine Boulet no âmbito da sua tese de doutoramento, realizada na Universidade de Aveiro, com orientação de Celeste Coelho e Jan Jacob Keizer (CESAM - Centro de Estudos do Ambiente e do Mar) e de António Dinis Ferreira (CERNAS-ESAC - Centro de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade da Escola Superior Agrária do Politécnico de Coimbra).

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • EU
    02 jul, 2021 PORTUGAL 20:49
    Estudos, são apenas estudos. A realidade será esta? Sou PROVINCIANO e neto de Mulher agricultora. Nessa agricultura uma grande área era de PINHAL. Como sabem, os pássaros, principalmente o GAIO, MELRO, ROLA e o POMBO BRAVO dão-se bem com os pinhais. Mas eles são bons transportadores de sementes. Claro que o vento também as transporta, mas os pássaros são os melhores. Lembro-me que a minha Avó não queria um único REBENTO de EUCALIPTO nas matas. Sempre fui educado a não destruir um pinheirinho, mas sim a amparalo. Havia o cedro e também o carvalho, isto nas MATAS. Ainda hoje, passadas umas décadas, amparo o pinheiro e deixo crescer os carvalhos. Há dois ou três dias andei lá, na mata, a deitar água em CASTANHEIROS que plantei há uns tempos. Não quero por em causa os ESTUDOS ACADÉMICOS, mas pergunto. Porque será que o solo onde o Pinheiro é rei e senhor abunda a vegetação, enquanto no solo onde existe o EUCALIPTO o solo é desértico. Porque será também que os PASTORES do gado Caprino, Ovino, Cavalar e Bovino pastoreiam o seu gado em solos de pinhal e não do eucalipto. Por outro lado, no abate do pinheiro o seu TOCO não rebenta, enquanto no do eucalipto rebentam meia dúzia de novas árvores. Claro que posso estar a demonstrar uma grande ignorância, mas as zonas que conheço de uma e outra árvore, são completamente opostas. Por outro lado e já o disse variadíssimas vezes, o fogo num eucaliptal alastra à velocidade do SOM, não tenham dúvida. EUCALIPTO só para aquecer e compro-a.
  • Bruno
    02 jul, 2021 aqui 12:34
    Portanto, está tudo bem. Podemos continuar a ter a floresta miserável que temos, com eucaliptais abandonados debaixo dos quais nada cresce e nada vive. Falta vir o estudo a defender que afinal os eucaliptos não são altamente inflamáveis e que afinal não ajudam a propagar os incêndios. Cortem-se os quercus que ainda existem e meta-se lá mais eucalipto. Eucaliptos por toda a parte! Viva o eucalipto! O eucalipto faz bem ao colesterol!

Destaques V+