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Turismo britânico

Portugal fora da lista verde. Virologista diz que decisão “não tem a ver com dados científicos”

04 jun, 2021 - 08:00 • Marta Grosso , Pedro Filipe Silva , Redação

Especialistas consideram exagerada a decisão de Londres e desconfiam da razão apontada, pois não existe uma super-variante. Adeptos britânicos que estiveram no Porto aconselhados a autoisolarem-se.

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“Estamos a falar, acima de tudo, da variante indiana e não agora de uma super-variante indiana, portanto, é com muita estranheza que recebemos estas notícias”, afirma o microbiologista João Paulo Gomes, do Instituto Ricardo Jorge, em reação à decisão do Reino Unido de retirar Portugal da lista verde de países para viajar.

“É com muita estranheza que recebemos estas notícias, porque, de facto, a variante indiana no nosso país está a 4,8%, não atinge ainda os 5% – um panorama muitíssimo diferente daquele que se vive no Reino Unido”, comentou o especialista, na noite de quinta-feira, na SIC Notícias.

João Paulo Gomes confirmou, em Portugal, existem “apenas 12 casos onde esta mutação adicional foi detetada” e adianta que, “em todo o mundo, foram reportados apenas 90 casos”.

Uma campanha de turismo interno?

Assim que que soube da decisão de Londres, as reservas previstas para as próximas semanas no Algarve começaram a ser canceladas. De acordo com a agência Bloomberg, estavam previstos para Portugal 1.800 voos com partida do Reino Unido, durante este mês de junho.

À Renascença, o presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia admite que a decisão não foi baseada em qualquer dado científico, mas sim tomada para promover o turismo interno.

“Penso que não tem a ver com dados científicos. Parece-me, honestamente, uma campanha orquestrada para os ingleses se concentrarem dentro de muros. Parece uma coisa absolutamente forjada”, afirma.

Paulo Paixão não vê motivos para tanta preocupação. “Esta situação de se dizer que é por causa de termos esta variante em baixíssimo número e que possa levantar algum problema a um país que, ele próprio, é que tem sido o exportador de uma série de variantes, parece-me uma desculpa. Do ponto de vista virológico, não me parece que haja sentido”.

Na opinião deste virologista, é Portugal que corre mais riscos em ter os britânicos cá do que o contrário.

“Do ponto de vista virológico, corremos nós mais riscos vindo tantos britânicos para cá, porque, infelizmente, como já vimos, uma parte deles – não estou a dizer que todos os britânicos são assim – é menos cumpridora, mesmo no que se refere à utilização de máscaras do que nós. Portanto, corremos nós mais riscos de eles virem para cá do que eles alguma vez levarem alguma variante de preocupação do nosso lado para lá”, destaca.

Nesse sentido, a medida britânica até poderá favorecer a saúde dos portugueses, mas, “do ponto de vista económico, não é uma boa notícia”.

Certo é que, a partir do próximo dia 8, terça-feira, os turistas britânicos que vierem a Portugal, incluindo à Madeira e aos Açores, terão de fazer quarentena no regresso ao Reino Unido.

O anúncio britânico teve impacto imediato na bolsa de valores de Londres. Na quinta-feira, as maiores companhias aéreas e operadores turísticos desvalorizar entre os 3% e os 6%.

Empresas como a Ryanair, a EasyJet, a British Airways, a agência de viagens TUI e os hotéis Intercontinental desvalorizaram mais de dois mil milhões de libras.

Adeptos da Champions devem autoisolar-se

As autoridades britânicas estão a pedir aos adeptos que se deslocaram ao Porto, para a final da Champions, que se autoisolem, pois, ao regressarem ao Reino Unido, foram detetados casos positivos de Covid-19.

A imprensa britânica sublinha, por seu lado, que Portugal sofreu um aumento de casos de infeção pelo novo coronavírus, tendo reportado, na quarta e quinta-feira, mais de 700 novos doentes – valores que não se verificavam desde abril.

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