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Projeto da Cruz Vermelha

Netos de companhia. O ponto final na solidão dos idosos de Seia

26 mai, 2021 - 20:04 • Liliana Carona

A delegação da Cruz Vermelha de Seia quer levar alimento à alma dos idosos que vivem sozinhos e isolados. Animação, atividades, dois dedos de conversa ao domicílio, numa iniciativa que começou em março e tem o nome de: “Netos de Companhia”.

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Artur vem de enxada ao ombro, sem saber que, à porta de casa, o espera uma festa de aniversário, dos seus 78 anos de vida.

“Eles andam-me a enganar”, deixa-se rir Artur Ferreira que vive sozinho, mas desde março que os seus dias ganharam nova cor. “Nem tenho palavras para estas minhas netas que me apareceram há pouco tempo. Olhe vêm-me cá dar um bocadinho de conversa que é um grande conforto e fazem-me ver que eu não estou sozinho de todo, é o que me dá consolo ter as visitas destas meninas, o que a gente quer é ter algum carinho”, admite Artur, viúvo a residir sozinho.

Orlando Batista, 41 anos, é militar da GNR e o presidente da delegação da Cruz Vermelha de Seia. Tem a ambição de fazer crescer o projeto “Netos de Companhia”.

Esta ideia surgiu com a falta de apoio aos idosos que estão em casa, àqueles que não estão em instituições, para complementar o que é feito pelas IPSS, a nível da alimentação e cuidados médicos, promovendo o envelhecimento ativo, começámos no dia 1 de março em Alvoco, em que temos sinalizadas 34 pessoas e estamos agora a caminhar para Loriga, onde há 50 pessoas sinalizadas.

Em Seia, ao todo serão 300 pessoas, o nosso objetivo é ampliar para Gouveia e Oliveira do Hospital, na ordem das 1000 pessoas, temos trabalho para os próximos anos”, prevê o responsável, acrescentando que a iniciativa como o nome indica “pretende fazer um bocadinho de companhia, principalmente nesta fase da pandemia, mais do que nunca é importante este projeto, vamos falar, mas principalmente ouvir as histórias, numa situação de itinerância em que estamos semanalmente com eles”, conta Orlando. Prevista está também a criação dos ‘espaços dos avós’.

“Em Vasco Esteves de Baixo, a freguesia disponibilizou-nos uma casa, ou seja, trazer os idosos para um espaço comum onde possamos fazer atividades em conjunto”, revela, admitindo o alargamento a outras freguesias.

Objetivo é chegar a 1.000 idosos

As netas, voluntárias da Cruz Vermelha de Seia, oferecem a Artur uma moldura dele com elas, deixando-o sem palavras, comovido. Os presentes do dia de anos foram feitos à mão pelas novas netas que Artur Ganhou. Liliana Ramos, 26 anos, socióloga, além de coordenadora do projeto Netos de Companhia, tem um novo avô com quem também aprende. “Os conselhos que eu dou aos jovens é que se portem sempre bem e que tratem sempre bem os velhinhos, porque amanhã são vocês, onde hoje estou, quem semeia ventos colhe tempestades”, avisa Artur, observando Liliana a acenar positivamente.

Entre o grupo de voluntários que acompanharam Liliana estão alunas do IG- Escola Profissional de Gouveia, estagiárias de animação sociocultural e informática que aplaudem a inclusão dos mais velhos.

Para Beatriz Fonseca, 17 anos, “está a ser uma experiência única, diferente, eles aprendem e nós também, não tinha noção que era tanta gente a viver assim isolada”, diz, enquanto a colega, Filipa Saraiva, 18 anos, prepara as prendas para oferecer a Artur. “Acho uma boa iniciativa para ajudar as pessoas”, conclui.

O neto mais velho é o voluntário Mário Rui, 70 anos. “Conheço o concelho como ninguém e temos muitos idosos solitários e com a boa disposição desta juventude os idosos sentem-se muito mais felizes. Aparecer-lhes esta juventude à frente depois de meses sem ver ninguém, é evidente que faz muita falta um projeto assim”, considera.

A meia centena de voluntários da Cruz Vermelha de Seia, quer chegar a 1000 idosos até ao final do ano, mas para já são cerca de 30 que em Alvoco da Serra recebem, mas também dão amor.

Artur pega no acordeão para os encantar.

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