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Revolta nas Forças Armadas. Ramalho Eanes encabeça carta com críticas à reforma da estrutura superior

14 mai, 2021 - 07:09 • Marta Grosso

São seis páginas de críticas aos planos do ministro da Defesa e a primeira manifestação de revolta no setor em 47 anos.

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A polémica à volta da reforma do Governo às Forças Armadas está a subir de tom e alcançou um patamar que não se via desde a Revolução de 1974. Numa ação inédita e cheia de simbolismo, também político, 28 antigos chefes militares dos três ramos das Forças Armadas dirigem uma carta ao Presidente da República, ao primeiro-ministro, ao ministro da Defesa e aos partidos com assento parlamentar.

Em causa está o plano de reforma do ministro da Defesa, que pretende mudar o comando superior das Forças Armadas, reforçando o poder do Chefe de Estado-Maior-General.

O “Grupo dos 28” (donde se exclui apenas o general Valença Pinto, ex-chefe do Estado-Maior do Exército) criticam o método da reforma e acusam João Gomes Cravinho de “tentativa de imposição de pontos de vista únicos”, por vezes sob a “pressão implícita de ‘desqualificação’ e ‘destruição’ da reputação de quem discorde”.

Na opinião dos subscritores da carta enviada na quinta-feira, o ministro usa uma “novilíngua” como linguagem, o que está a piorar o estado de coisas.

“Assistimos a episódios de uma nova forma de fazer política”, com “avisos intempestivos e ameaças veladas, veiculadas publicamente", que “deixou profundas marcas”, lê-se no documento, segundo o “Expresso”.

Os signatários pedem, por isso, que, em vez das deliberações apressadas, o tema seja discutido num debate alargado à sociedade civil.

Sobre a reforma em concreto, dizem ser “assumida solidariamente pelo Governo com base em projetos de terceiros", pelo que recomendam uma “adequada prudência e reflexão” e classificam a “ação política” do ministro como “apressada” e “não convencional”.

“Começou-se da pior maneira e de forma pouco prometedora, uma espécie de exercício político e administrativo degradado”, defendem.

A reforma do comando superior das Forças Armadas será votada no Parlamento na próxima terça-feira, dia 18, pelo PS, com apoio do PSD.

A carta de contestação é encabeçada pelos mais antigos chefes de Estado-Maior dos três ramos – o ex-Presidente da República general Ramalho Eanes (Exército), o almirante Fuzeta da Ponte (Armada) e o general Brochado Miranda (Força Aérea) – e assinada por outras figuras de topo, como os generais Garcia dos Santos, Cerqueira Rocha, Pina Monteiro e Rocha Vieira, e ainda os almirantes Mendes Cabeçadas, Melo Gomes e Macieira Fragoso, entre outros.

O ministro da Defesa, que em março classificou as resistências dos militares na reforma como “interesses corporativos”, disse no início desta semana estar contra “uma agremiação de antigos chefes militares” que tenta “perpetuar a influência” nas FA.

Na terça-feira, João Gomes Cravinho, afirmou que a reforma nas Forças Armadas “é matéria de debate político”, sendo “secundário” o que está à volta, e que os diplomas estão “onde devem estar”, no Parlamento.

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  • Rui Mata
    15 mai, 2021 Sintra 16:03
    Os políticos da nossa praça não têm o mínima noção do que são umas forças armadas a começar pelo ministro da defesa. As nossas FA´s foram completamente esvaziadas, sem meios, sem homens, uma miséria. Fecham-se bases aéreas, fecham-se quartéis, compram-se helicópteros civis para a FA sem certificado militar porque é mais barato, compram-se e fazem-se navios completamente desarmados, enfim um rol de asneiras se fim. Comparem as nossas FA´s com países da nossa dimensão como a Grécia, Holanda, Dinamarca ou Bélgica e vejam a diferença colossal de equipamentos. Hoje em dia só servem para as paradas militares para os políticos pavonerem-se frente a uma população infelizmente com poucos conhecimentos desta actual situação. UMA VERGONHA.
  • José J C Cruz Pinto
    14 mai, 2021 ÍLHAVO 10:38
    Os nossos militares têm de facto imensa graça! "Os signatários pedem, ..., que, em vez das deliberações apressadas, o tema seja discutido num debate alargado à sociedade civil. Boa! O Governo não percebe nada de assuntos militares, ... mas a sociedade civil sabe disso a potes!

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