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Estudo

"Estragar a Biodiversidade pode ficar caro. Preservá-la, vai compensar"

15 set, 2020 - 23:02 • Ana Carrilho

A diretora do Fundo Ambiental e a reitora da Universidade de Évora assinaram no Ministério do Ambiente o protocolo de cooperação para a realização do estudo “Biodiversidade 2030: contributos para a abordagem portuguesa para o período pós-metas de Aichi”. Deverá estar pronto daqui a dois anos e o seu coordenador – Miguel Araújo – promete ideias “fora da caixa”.

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Miguel Araújo, professor da Universidade de Évora, espera que o estudo “Biodiversidade 2030: contributos para a abordagem portuguesa para o período pós-metas de Aichi” seja uma “ponta de lança” para propor novas iniciativas que ajudem na adoção de políticas nacionais na área da conservação da biodiversidade.

“Nas últimas décadas foi o parente pobre das políticas de Ambiente, teve pouca atenção. Nos últimos anos tem um bocadinho mais, mas há muito a fazer”, alerta, em conversa com os jornalistas no final da sessão de assinatura do protocolo e apresentação do trabalho “Biodiversidade 2030”.

O especialista admite que a equipa (constituída por professores de diversas universidades do país) está cheia de ideias. E lança uma delas como exemplo: “toda a gente fala em biodiversidade e alterações climáticas, mas surpreendentemente, não há um país no mundo que tenha um a política de biodiversidade adaptada às alterações climáticas. Se conseguirmos levar as nossas ideias a bom porto, Portugal poderá ser o primeiro a avançar com medidas concretas nesta área”.

Quem estraga, paga; quem preserva e cria, é recompensado

Outra ideia que ainda está em fase de estudo mais aprofundado é a remuneração dos serviços dos ecossistemas. “Hoje em dia estragar a biodiversidade é muito barato”. Propõe, por isso, que se torne bem mais caro. “Terá duas consequências: ou deixam de o fazer ou têm que pagar por isso. Se pagarem, esse dinheiro pode servir para remunerar/recompensar quem preserva e cria biodiversidade, nomeadamente alguns agricultores que usam práticas agrícolas sustentáveis ou quem faz uma exploração florestal sustentável. Será remunerar atividades que têm um preço que, como sabemos, é tudo menos remuneração económica”.

A obtenção de alimentos é uma grande fonte de ameaças para a biodiversidade: “há um conflito entre a necessidade de nos alimentarmos (e comemos cada vez mais) e a preservação da biodiversidade. É preciso encontrar um equilíbrio e por isso grande parte das ações que pensaremos em termos de remuneração dos serviços dos ecossistemas estarão alinhadas para a intervenção no sector da alimentação”, revela Miguel Araújo.

O coordenador do estudo admite que não são ideias completamente inovadoras, já há algumas experiências realizadas na Austrália, África do Sul e Finlândia e a sua adoção a Portugal e mesmo à Europa terá de ser reequacionada.

O estudo está dividido em cinco eixos fundamentais: Biodiversidade e Clima; Biodiversidade e Território; Biodiversidade e Áreas Interiores; Biodiversidade e Oceanos e Biodiversidade e Pessoas.

Em relação aos oceanos, Miguel Araújo diz que um dos objetivos é identificar 30% da Zona Económica Exclusiva portuguesa, classificando-a como área protegida marinha para preservar a biodiversidade.

Ou seja, em linha com os objetivos da Estratégia para a Biodiversidade da União Europeia para 2030 e que, nomeadamente, apela ao esforço de, pelo menos, se proteger 30% das terras e mares da UE.

Não há um m2 de território a mais em Portugal

O ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes admite que antes houve outras prioridades na política ambiental, mas agora, alguma coisa está a ser feita. Mostra-se convicto que, com este estudo, será possível mostrar que o país, “na sua fecundada diversidade, não tem um metro quadrado de território a mais. Todo o território tem que ter um projeto e vai tê-lo”, garante.

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) viu o quadro de efetivos reforçado com mais vigilantes e meios. Por outro lado, este ano começaram a ser feitos os pagamentos dos serviços dos ecossistemas. Segundo o Ministro, catorze projetos na Serra do Açor e Parque Natural do Tejo Internacional receberam 3,4 milhões de euros.

Números que nos devem fazer pensar e mudar comportamentos

Quinhentos anos depois da viagem de circum-navegação de Fernão Magalhães, os mares estão muito diferentes: “em vez de peixes voadores, vemos o lixo de uma sociedade de desperdício acumular-se em linhas flutuantes e entrar na dieta alimentar de muitos organismos e os recursos a diminuírem”, alertou o Ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos.

Em cinco séculos a população mundial aumentou 14 vezes, vai em quase oito mil milhões de habitantes. Três quartos da superfície terrestre não gelada foi alterada pela atividade humana. Mais de 85% das regiões húmidas interiores e costeiras perderam-se.

O planeta está sobrepovoado e a biomassa de apenas uma das espécies – o Homem – é vinte vezes superior à de todos os mamíferos selvagens, frisou Serrão Santos. Números complementados e reforçados por Miguel Araújo: a biomassa humana representa 36% dos mamíferos do planeta; 60% provém do gado, especialmente bovino e suíno. “O Planeta é dominado por vacas e porcos”, conclui o especialista.

E combinando terra e mar, 96% dos mamíferos são humanos ou servem de alimento à Humanidade.

“Não é o estigma da pandemia que nos fará baixar os braços. Aliás, deve incentivar-nos ainda mais”, desafia o ministro do Mar.

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  • Ricardo Carvalho
    19 set, 2020 10:19
    Fiquei curioso em saber o custo dessa cooperação. A ler notícias deste tipo, fico sempre com a ideia que quando alguém não tem ideias se encosta àqueles que aparentam ter ideias, mesmo que isso seja pouco mais do que um "jogo de aparências" e não resolva necessariamente aquilo que se pretende resolver (e muito menos da melhor maneira...). Como aspecto negativo desta estratégia, acaba-se por se financiar sempre os mesmos, que podendo ter visibilidade não são necessariamente os mais capazes no assunto em análise, e esgotam-se os recursos que tanta falta faziam para coisas concretas e para apoiar uma maior diversidade de intervenientes, que é o que realmente faz falta. Na conservação da natureza, mais do que tentar reinventar a roda, faz falta implementar o que está identificado como necessário e o que já se sabe que funciona. Existem por exemplo muitíssimos documentos, nacionais e europeus, relativos a várias espécies, habitats e áreas naturais, na execução dos quais já se gastou muito dinheiro no passado. Seria de esperar que as medidas identificadas nesses documentos fossem minimamente executadas.... Infelizmente, vai faltando dinheiro e apoio aos muitos e variados "players" que estão de mangas arregaçadas, preparados e cheios de vontade para essa tarefa... e nós vamos percebendo porquê....

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