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Diplomacia

"Sofagate": Turquia rejeita críticas e diz que foi a UE a escolher as cadeiras

08 abr, 2021 - 13:32 • Hélio Carvalho

Na terça-feira, num encontro entre o Presidente turco e os líderes da Comissão Europeia e Conselho Europeu, Ursula von der Leyen foi relegada para um sofá, enquanto que os dois líderes masculinos ficaram em cadeiras. A presidente da Comissão Europeia não escondeu o desconforto diplomático.

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Perante as críticas da comunidade internacional ao embaraçado diplomático de terça-feira, a Turquia rejeitou as críticas de que decidiu isolar intencionalmente a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, numa reunião com o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

No encontro que foi imediatamente cunhado com o termo "Sofagate", Erdogan recebeu os líderes europeus numa sala a que a imprensa teve acesso, mas estavam disponíveis apenas duas cadeiras em frente às bandeiras da União Europeia e Turquia.

Erdogan encaminhou Michel para as cadeiras e a líder da Comissão Europeia ficou visivelmente incomodada, tendo depois sido sentada num sofá, distante de Erdogan e Charles Michel.

Foi lançado o debate sobre se teria sido um erro de protocolo ou uma afronta diplomática intencional, mas não ajudou à imagem da Turquia o facto de o país ter um historial de ataques aos direitos das mulheres, optando recentemente por sair do acordo de Istambul, uma convenção global de prevenção da violência contra mulheres e crianças.

Esta sexta-feira, a Turquia descartou qualquer responsabilidade pelo embaraço. O ministro dos Negócios Estrangeiros do país, Mevlut Cavusoglu, afirmou, citado pela Associated Press, que o mundo está a ser "extremamente injusto" para com a Turquia, que seguiu o protocolo diplomático internacional.

Cavusoglu adiantou ainda que, em reuniões entre diplomatas da Turquia e da União Europeia, tinha ficado definido que seria a UE a definir a disposição das cadeiras e, portanto, a culpa pertence apenas aos convidados europeus.

"O protocolo que foi aplicado durante a reunião no escritório do nosso Presidente cumpriu os requisitos do lado da UE. Por outras palavras, aquela disposição foi feita em linha com as sugestões da UE", disse.

Na sua comunicação externa, a Comissão Europeia tem tentado relativizar o acontecimento. O principal porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer, que na quarta-feira mostrou-se surpreso pelo que aconteceu, referiu hoje que Ursula von der Leyen não mencionou nada nas suas contas em redes sociais.

"Não vamos exagerar a importância que demos a este vento. Vamos garantir que as coisas são clarificadas para que futuros encontros possam avançar de acordo com a perceção comum dos protocolos", pediu Mamer.

Mas dentro da Comissão, a presidente admitiu desconforto pela situação. Fontes do gabinete de Von der Leyen confirmam o seu embaraço, audível com soltou um "ehm" ao ver os dois homens nas duas cadeiras disponíveis, e pediu que a situação não se repetisse.

De Erdogan, nem uma palavra. Já a terceira parte envolvida, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, lamentou num comunicado o "tratamento diferenciado, e até redutor, à presidente da Comissão Europeia", colocou a hipótese de uma "interpretação à risca" da diplomacia turca e vincou que, apesar de parecer "indiferente" nas fotografias, os seus "princípios de respeito" foram perturbados.

Apesar das críticas na comunidade internacional se limitarem a acusações de sexismo nas redes sociais, a principal resposta oficial e direta surgiu por parte da Áustria e da sua ministra para os Assuntos Europeus. Karoline Edstatdler disse que "este tratamento desrespeitoso transmite uma imagem profundamente alienante que, tendo ocorrido alguns dias após a saída da Convenção de Istambul, só pode ser visto como uma provocação".

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