15 set, 2020 - 19:49 • Lusa
A liderança da ex-guerrilha colombiana das FARC pediu publicamente perdão pelos milhares de sequestros que efetuou no país sul-americano e lamentou a “dor” e as “humilhações” infligidas às vítimas.
“O sequestro foi um grave erro do qual apenas temos de nos arrepender”, declarou num comunicado esta terça-feira divulgado a direção desta formação que se tornou num partido político designado Força alternativa revolucionária comum.
Este foi o mais expressivo pedido de perdão feito pela ex-guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) desde a assinatura em 2016 de um acordo de paz com o governo.
A antiga guerrilha marxista, fundada em 1964 e uma das mais poderosas da América Latina, reconheceu igualmente que “os sequestros (…) feriram de morte” a “legitimidade e a credibilidade” da sua rebelião armada contra o Estado colombiano.
"Este fardo (…) ainda pesa hoje na consciência e no coração de cada um de nós”, acrescentou o comunicado.
A ex-guerrilha responde pelos seus atos perante um tribunal especial criado pelo acordo de paz que permitiu a desmobilização de cerca de 133 mil rebeldes das FARC, incluindo 7 mil combatentes.
A Justiça Especial para a Paz (JEP) investiga mais de 20.000 raptos perpetrados pelas FARC, designadamente centenas de polícias, e personalidades políticas como a franco-colombiana Ingrid Betancourt, que permaneceu seis anos em cativeiro antes de ser libertada em 2008 durante uma operação militar.
A antiga rebelião deve também responder pelo recrutamento de milhares de crianças e adolescentes no decurso de mais de meio século de conflito armado.
Os principais chefes da ex-guerrilha comprometeram-se em confessar os seus crimes perante a JEP e a indemnizar as vítimas e suas famílias, em troca de penas alternativas à prisão. Caso não cumpram este compromisso, deverão comparecer perante a justiça comum.
Segundo os números oficiais, o complexo conflito armado na Colômbia provocou mais de nove milhões de vítimas (mortos, desaparecidos e deslocados internos).
A dissolução da guerrilha das FARC diminuiu o nível de violência na Colômbia, mas grupos armados, incluindo com ligações à extrema-direita, continuam ativos em zonas recuadas do país, alimentadas principalmente pelos recursos extraídos do narcotráfico.
Os antigos guerrilheiros das FARC e os líderes comunitários são considerados geralmente um obstáculo para estas grupos criminais, que procuram controlar os territórios também para aumentar as culturas ilegais de coca destinadas ao fabrico de cocaína.