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APETRO contra intervenção do Governo num mercado “livre e funcional”

14 jul, 2021 - 20:22 • Cristina Branco , Filipe d'Avillez

A indústria petrolífera em Portugal não gostou de ouvir o ministro falar de “subidas duvidosas” e diz que as margens e os preços altos dos combustíveis são normais.

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A Associação Portuguesa de Produtos Petrolíferos (APETRO) discorda da proposta de intervenção do Governo num mercado que sublinha ser livre e funcional.

O presidente da APETRO lamenta, também, as palavras do ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, que classificou de "subidas duvidosas" os aumentos no preço dos combustíveis.

Em entrevista à Renascença, António Comprido, da APETRO, começa por criticar a intenção do Governo e a leitura que está a ser feita do relatório do regulador.

“A nossa reação de princípio contra uma intervenção administrativa num mercado que é concorrencial e comprovadamente funciona é de desacordo. Obviamente, para além disso, só podemos pronunciar-nos quando conhecermos em detalhe o alcance e a metodologia que estiver por detrás dessa proposta.”

“Relativamente à classificação usada pelo senhor ministro, diria que é pelo menos infeliz na medida em que o crescimento das margens verificou-se num período de uma queda brutal dos consumos”, sublinha o dirigente, que recorda que o setor petrolífero “não reduziu em nada a sua oferta, ao contrário de muitos outros setores da economia. Não fechámos postos, não fizemos lay-off, não reduzimos horários. É natural que, tendo caído o consumo de uma maneira significativa, que durante esses períodos os custos fixos, que se mantiveram, em termos unitários, aumentaram, o que terá colocado alguma pressão nos preços.”

Segundo António Comprido, “o relatório reconhece que há uma subida significativa das cotações, e é essa a principal razão dos aumentos de preços” e adverte para a confusão que se pode fazer entre a margem e preços altos “o crescimento dos preços está explicado pela recuperação das cotações dos produtos petrolíferos nos mercados internacionais. O aumento das margens nos períodos de menor consumo justifica-se por se ter reduzido drasticamente a procura, mantendo-se a oferta ao mesmo nível, portanto com custos fixos que se mantiveram e que consequentemente em termos unitários tiveram um maior peso e pressão sobre o preço final. É normal que aconteça num mercado livre e concorrencial.”

Questionado sobre se a APETRO pretende discutir o assunto com o Governo, António Comprido diz que isso cabe ao Executivo, mas que a indústria sente que tem esse direito.

“Nós achamos que merecemos ser consultados para uma decisão deste tipo. Ainda não tivemos a possibilidade de digerir o assunto internamente, discuti-lo ao nível da direção da APETRO e ter uma posição relativamente ao assunto, mas obviamente gostaríamos de analisar o tema com os responsáveis políticos antes de eles avançarem com uma decisão final, mas isso não depende de nós, depende de ele quererem ou não quererem ouvir a indústria sobre esta matéria”, conclui.

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  • J M
    16 jul, 2021 Seixal 15:51
    Pelo facto de não fechar postos de abastecimento, não fazer lay-off, nem reduzir os horários, açambarcar uma margem de lucro de 36,8 cêntimos por litro (cts/l) na gasolina e 29,3 cts/l no gasóleo em março deste ano é normal. Diz este senhor que "O aumento das margens nos períodos de menor consumo justifica-se por se ter reduzido drasticamente a procura, mantendo-se a oferta ao mesmo nível". Por norma quando a procura desce e a oferta se mantém os preços descem, mas para a APETRO é normal que num mercado livre e concorrencial como o dos combustíveis, funcione ao contrário, ou seja, as margens de lucro aumentem. Agora que o governo pretende intervir, para acabar com este abuso, o Sr. Comprido refugia-se na conversa do costume, da livre concorrência, como se houvesse concorrência no mercado dos combustíveis. O cartel está instalado, a dificuldade é prova-lo. Desmascarados, caiu por terra, a justificação do elevado preço dos combustíveis dever-se à altíssima carga fiscal, com que andaram a intoxicar a opinião pública durante semanas. É inadmissível e injustificável a relação entre o preço do barril de petróleo e o preço dos combustíveis praticados pela indústria petrolífera em Portugal.
  • Bruno
    15 jul, 2021 aqui 06:12
    Eu já deixei de sustentar estes senhores das petrolíferas. Uso a bicicleta para a maioria das minhas deslocações e só ando de carro quando nisso é estritamente necessário. Na verdade, já nem me recordo da última vez que fui abastecer mas seguramente que isso aconteceu à mais de meio ano e ainda tenho o depósito acima de metade. Continuem a brincar com o preço dos combustíveis porque eu não me importo.

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