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OCDE. Só em 2023 será atingido o nível de emprego pré-pandemia

07 jul, 2021 - 17:07 • Ana Carrilho

Desde o início da pandemia, perderam-se 22 milhões de empregos nos países da OCDE e a recuperação - lenta - ainda não permitiu repor os níveis de emprego registados no final de 2019.

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As Perspetivas de Emprego 2021 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) indicam que só no ano de 2023 será atingido o nível de emprego pré-pandemia.

Desde o início da pandemia perderam-se 22 milhões de empregos nos países da OCDE e a recuperação - lenta - ainda não permitiu repor os níveis de emprego registados no final de 2019.

“A nossa previsão é que isso não acontecerá antes de 2023”, referiu o secretário-geral da Organização da OCDE, Mathias Cormann, na conferência de imprensa em que apresentou o “Employment Outlook 2021”.

O desemprego nos países da OCDE caiu 6,6% em maio, mas ainda continua acima dos níveis pré-pandemia. “Apesar dos esforços e da forte recuperação económica nos países da organização, isso ainda não se traduziu plenamente em novos postos de trabalho para repor os níveis de emprego pré-pandemia na maioria dos países membros. Ainda há 8 milhões de desempregados e outros 14 milhões de inativos (pessoas que não procuram ativamente um emprego). O total de horas trabalhadas no 1º trimestre de 2021 continua 7% abaixo do registado no final de 2019. E apesar dos esforços, os níveis de emprego pré-pandemia não deverão ser atingidos antes de 2023. É a nossa previsão”, sublinhou Mathias Cormann.

O secretário-geral da OCDE insistiu que as retoma da economia e do emprego também depende da vacinação: ”é preciso vacinar o maior número de pessoas em todo o mundo”. Por outro lado, defendeu que é preciso adotar políticas que encorajem o investimento e a criação de emprego, assim como o aumento da formação e qualificação, garantindo que todos os têm as melhores oportunidades para participar e beneficiar da recuperação”.

Entre as recomendações da OCDE, o responsável lembrou ainda que a implementação dos planos de recuperação pelos governos devem incluir o apoio às famílias mais carenciadas e ao mesmo tempo, orientar melhor as políticas orçamentais para promover o crescimento das empresas e do emprego que tenham um futuro viável no período pós-covid. “É preciso providenciar os incentivos certos para o investimento empresarial que conduza à recuperação e à criação de mais novos empregos”.

Mathias Cormann considera que retirar os apoios demasiado cedo pode pôr em risco a recuperação. Os custos, a curto prazo, das medidas de apoio fiscal podem ser reduzidos através do reforço da orientação para setores mais vulneráveis, empresas e famílias, ao mesmo tempo que se fomenta a criação de novas empresas e emprego.

No entanto, alerta que “manter os apoios por muito tempo, pode comprometer a robustez e a qualidade da recuperação a longo prazo, atrasando a necessária realocação de capital e de trabalho na economia”.

Os mecanismos de apoio à manutenção do emprego no auge da crise apoiaram cerca de 60 milhões de postos de trabalho, - mais de dez vezes do que durante a crise financeira – e salvaram outros 21 milhões, ajudando a limitar a subida do desemprego em muitos países.

No entanto, segundo a OCDE, agora é altura de direcionar o apoio para setores ainda atingidos por restrições de distanciamento social, como o turismo; outros mecanismos devem ser ajustados para promover a recuperação económica e outros ainda, eliminados.

A aposta em políticas ativas de emprego é uma prioridade para ajudar os trabalhadores a encontrar emprego. No entender da OCDE, os governos devem integrar melhor os serviços de emprego e formação e individualizar o apoio, de forma a tornar-se mais eficaz. A formação ao longo da vida também deve ser fomentada.

Pandemia atingiu todos, mas uns, mais que outros

As mulheres, jovens e os trabalhadores não qualificados foram os mais atingidos pelos efeitos da pandemia no emprego. Para muitos, o desemprego de longa duração pode deixar “cicatrizes”.

Nos setores obrigados a fechar logo no início da pandemia (por exemplo, turismo, restauração, serviços) as mulheres predominavam e por isso, elas foram as primeiras e mais afetadas.

Assim como os jovens: segundo o relatório, em dois meses – de fevereiro a abril de 2020 – a taxa de desemprego jovem disparou dos 11,3 para 18,9%. A possibilidade de ficarem sem emprego em relação aos outros trabalhadores “adultos” mais do que duplicou. E apesar do desconfinamento no verão de 2020, em muitos países registou-se uma queda na contratação dos mais novos. Um dos países foi Portugal.

Os jovens que tinham terminado a formação académica, mas ainda não tinham entrado no mercado de trabalho ficaram particularmente expostos. Nos países da OCDE, a média de “NEET” , ou seja, jovens que não estudam, não estudam ou frequentam uma formação– era de 1/10 jovens entre os 15 e os 29 anos. Com a pandemia, essa proporção aumentou 4 pontos percentuais em vários países, incluindo Portugal. E quando se trata de um jovem com formação média-baixa, a possibilidade de se tornar NEET é quatro vezes maior do que para aqueles que têm um curso superior.

A continuação da pandemia favorece o crescimento do desemprego de longa duração. Muitas pessoas perderam o emprego ainda antes ou no início da pandemia. Segundo o relatório da OCDE, no fim de 2020 – nove meses depois do início da pandemia de Covid-19 – a média de indivíduos desempregados entre 6 e 12 meses já tinha duplicado. E muitos deles continuam desempregados.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico salienta que na Europa, apesar do apoio dos diversos governos à manutenção do emprego, o desemprego de longa duração (DLD) está a aumentar. Portugal é um dos países em que o número de desempregados de longa duração já tinha duplicado fim do ano passado.

E alerta que o DLD, associado a dificuldades financeiras, stress mental e material, pode causar “cicatrizes” que inviabilizam as perspetivas de ter emprego no futuro, tornando os empregos mais difíceis de encontrar, menos bem pagos e mais instáveis.

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