Lá dentro, o caixão, colocado ao centro, entre a assembleia e o altar, evidencia o vazio e a solidão do momento. José Joaquim Martins e o diácono que preside às exéquias aproximam-se. Rezam por Casimiro, antes de, em cortejo fúnebre, o levarem à campa.
“A morte é inevitável e natural”, dirá o reformado que, apesar de ter estado em dezenas de enterros, assume que não o confrontam com o dia em que, também ele, desaparecerá.
“Não fico a pensar: ‘qualquer dia sou eu’. Não gosto muito de pensar nisso. Gostava de viver mais uns anos.”
Novo máximo: 233 funerais de gente abandonada ou sozinha
Tal como José Joaquim Martins, há outros 20 voluntários da Irmandade de São Roque que acompanham pessoas que morrem sozinhas, na cidade de Lisboa, sem terem um familiar ou amigo que vá ao enterro.
O ano passado, esta associação de fiéis, com mais de 500 anos de história, registou o maior número de sempre deste tipo de funerais: 233. São mais 51 casos do que em 2020. Um aumento que evidencia a solidão do final da vida, e que Mário Pinto Coelho, provedor da Irmandade, atribui parcialmente à Covid-19. Na última década, a média anual de casos foi de 123.