O novo diagnóstico foi no pulmão. Foi muito pior do que a primeira vez. Uma ideia de falhanço. “Tantas pessoas estão a contar comigo, como é que isto me apareceu agora? Como é que eu vou lidar com isto agora?”, pensou.
Ainda assim, meteu pés a caminho do hospital, pronta para resolver mais este contratempo. O problema estava apenas naquele órgão. Seguiu-se uma operação. Teve sucesso. “Passada uma semana estava num congresso de oncologistas. Ninguém queria acreditar. Todos pensaram: ‘esta miúda é do caraças’”, lembra.
Mas nem tudo foram rosas. Apesar de continuar com os treinos de cycling e sentir-se fisicamente melhor, estava a chegar o Natal. “As pessoas começaram a querer ver-me, estar comigo, e tirar fotografias”, descreve.
Aquilo abanou-a. “Pensei, as pessoas querem estar comigo porque pensam que eu vou morrer”, lamenta.
Estar pronta para a luta
Cristina está disposta a lutar, apesar confessar que naquela altura ficou muito “arreliada”, “muito chateada" consigo própria. “Tinha feito tudo tão certinho que pensava que estava arrumado. Foi uma dupla rasteira”, considera.
É um sentimento muito frequente entre as pessoas mais jovens diagnosticadas com cancro, conta Fátima Vaz, diretora do serviço de Oncologia do IPO de Lisboa.
"Há pessoas que estão em fim de vida e ainda não aceitam [o que lhes aconteceu] porque fizeram tudo bem", Fátima Vaz, diretora do serviço do Oncologia do IPO de Lisboa.
“Os oncologistas do meu serviço têm essa interação muitas vezes em todos os níveis de doença. As pessoas chegam lá e dizem: ‘Eu tenho 35 anos, fiz tudo bem. Eu não tomei a pílula porque achava que me podia fazer mal, faço exercício, tenho um peso adequado, tenho uma dieta adequadas, fiz as vacinas todas”, descreve.
Os doentes, segundo Fátima Vaz, atribuem a culpa quase sempre à possibilidade de uma alteração genética. Mas, “às vezes, a genética também não explica”, contrapõe.
A revolta é tão grande que, segundo a diretora do serviço de Oncologia do IPO de Lisboa, “há pessoas que estão em fim de vida e ainda não aceitam [o que lhes aconteceu] porque fizeram tudo bem”.