Um modelo matemático elaborado pela Renascença indica que quatro albufeiras portuguesas podem ficar sem água, até 2024.
O modelo prevê que as albufeiras de Alto Lindoso (Viana do Castelo) Alto Rabagão (Vila Real), Bravura (Faro) e Campilhas (Setúbal) cheguem aos 0% de capacidade em dois anos ou menos, se pouco ou nada chover e se nada for feito para combater a seca que se tem feito sentir por estes territórios do país.
À Renascença, o analista de dados Paulo Maia refere que o modelo estatístico aprende com os “dados históricos” do volume de água nas albufeiras e não quer dizer "que as coisas aconteçam mesmo". Realça que a previsão "assume bastantes coisas que podem ser prevenidas".
"A primeira componente é a tendência, que é o valor de crescimento, que normalmente é uma coisa mais a longo prazo. Por exemplo, se o nível da água está a baixar ao longo do tempo, a tendência vai ser uma linha de crescimento negativa. Esta componente é linear. Depois há componentes sazonais que são adicionados à tendência original. E podes ter aqui sazonalidades semanais, mensais, anuais. E o modelo tenta também aprender isto", explica.
Em reação a estas previsões, Alice Pisco, porta-voz da Plataforma Água Sustentável (PAS), diz que "é preocupante que isto seja uma possibilidade", mas indica que a situação já era problemática "há alguns anos".
A representante da Plataforma acrescenta que "todas as barragens do
Algarve estão com armazenamento abaixo da média" e não tem dúvidas que
mais "se encaminham para o mesmo cenário" às do modelo da
Renascença.
Já Rosa Guedes, também da PAS, considera que as medidas tomadas
até agora para combater a seca têm sido "pontuais e não estruturais".
Rodrigo Proença de Oliveira, doutorado em Engenharia Civil do
Ambiente, lembra que “há medidas de eficiência que estão a ser tomadas,
há algumas barragens em que foi proibida a produção de energia, outros
em que foi proibida o uso da água para rega.”
Em fevereiro deste ano, o Governo ordenou a suspensão da produção elétrica em cinco barragens da EDP: Alto Lindoso/Touvedo, Alto Rabagão, Vilar/Tabuaço, Cabril e Castelo de Bode no Zêzere. Foi também suspenso o abastecimento de água para a rega a partir da albufeira da Bravura em Lagos. O objetivo: garantir o abastecimento de água para consumo humano durante dois anos, mesmo em barragens utilizadas para produzir eletricidade.
Albufeiras com volumes de água entre os 3% e os 20%
De
acordo com o Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, a
barragem em pior situação é a de Campilhas, no concelho de Santiago do
Cacém, que está a 3% da sua capacidade, com valores abaixo do volume
morto de 1 milhão de metros cúbicos.