Um operacional presente no local contou à Renascença que o combate às chamas foi caótico: o autotanque ficou sem água, as bocas de incêndio não tinham pressão e por pouco os bombeiros não foram flanqueados pelo fogo na rua sem saída.
No dia do incêndio, com o vento a instigá-las, as chamas viajaram quilómetros e apanharam os moradores de Mogadouro desprevenidos. Por volta das 14h, Alice e o marido, Cesário, saíram de casa para ir ao centro de saúde e dar um salto à mercearia. “Via-se um bocadinho de fumo acolá. Lá para baixo, muito longe”, recorda Cesário.
Ora, o casal já estava às compras quando um vizinho lhes ligou a dizer que “o fogo já andava nas redondezas”.
“Eu disse à minha mulher: ‘Se precisares de mais alguma coisa, vens cá noutro dia. Vamos embora que o fogo anda perto da nossa casa.’ E viemos. Mas chegámos ao centro da aldeia e a GNR já não nos deixou passar”, conta.
Perto das oito da noite, cerca de seis horas depois de ter saído de casa, o casal foi autorizado a regressar. Só aí souberam que a sua habitação não tinha ardido, pois até então o vale estivera coberto por uma cortina de fumo. Ao mesmo tempo, descobriram os estragos na casa de Arlinda.
Dos escombros ainda flamejantes vinha muito barulho. “Parecia sei lá o quê. Parecia uma bomba que tinha rebentado”, conta Cesário.
Passados sete dias do incêndio, ainda há troncos e raízes em volta da casa de Alice e Cesário a queimar, lentamente. Por vezes, vêem-se pequenos focos de fumo. O perigo continua a espreitar e, por isso, não é fácil dormir. “Só de há duas noites para cá é que a gente consegue [dormir] mais ou menos. De vez em quando, levantava-me. Acordava com aquele susto”, admite Cesário Simões.
O homem de 79 anos encolhe os ombros, não usa a palavra trauma para descrever a experiência. Mas aponta nessa direção: “Os nossos cérebros ainda não estão bem… isto ainda vai demorar uns tempos.”