Geóloga portuguesa esteve a um metro do vulcão na Islândia. "Nunca tinha visto um laranja assim"

Diana Brum está na Islândia a estudar vulcanologia e assistiu à erupção do vulcão na montanha de Fagradalsfjall em direto. Deslocou-se então para o local e esteve a um metro da fissura.

04 ago, 2022 - 18:52 • Pedro Mesquita , Pedro Valente Lima (edição de vídeo)



Diana Brum está a frequentar um mestrado na Universidade da Islândia.

Quando uma fissura vulcânica na montanha de Fagradalsfjall, na Islândia, entrou em erupção na quarta-feira, a geóloga portuguesa Diana Brum, que está a fazer um mestrado sobre vulcanologia na Universidade da Islândia (Háskóli Íslands), estava a olhar para ela num ecrã da universidade. Depois de ver o momento em direto, deslocou-se até ao local da erupção, com grande entusiasmo. "É uma experiência que as pessoas não têm, principalmente uma pessoa que está a estudar vulcanologia", diz, em entrevista à Renascença.

"Nunca tinha visto um laranja assim", conta Diana, descrevendo um "calor insuportável", acompanhado de um "barulho de vidro a partir".



Entrevista da geóloga Diana Brum sobre a erupção na fissura vulcânica na montanha de Fagradalsfjall, na Islândia. Entrevista: Pedro Mesquita/RR
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Oiça aqui a entrevista da geóloga Diana Brum sobre a erupção na fissura vulcânica na montanha de Fagradalsfjall, na Islândia. Entrevista: Pedro Mesquita/RR

Assistiu à erupção deste vulcão em direto. Como é que foi?

Foi incrível, nós começamos a sentir a crise sísmica e fizemos uma reunião com os investigadores da Universidade da Islândia e também com pessoas do escritório de Meteorologia para ver o que é que se estava a passar com os sismos e o que é que eles indicavam. Entretanto, a reunião acabou e voltamos para o laboratório. Olhámos para uma das câmaras e reparámos que a fissura tinha aberto. Então decidimos todos ir ver a fissura, porque tínhamos de recolher amostras e fazer voos de drones…

Ir mesmo ao vulcão.
Exatamente. Foram 30 minutos do género: "despachem-se, arrumem as vossas coisas, vamos para o vulcão". Eu estava completamente excitada pelo caminho. É uma experiência que as pessoas não têm, principalmente uma pessoa que está a estudar vulcanologia.
Nós começámos a andar e antes de chegar ao vulcão começámos a ver imenso fumo a sair do chão, da terra. Continuámos a andar e quando começámos a descer a montanha... Bem, eu só olho para a minha frente e vi a mesma fissura - portanto, é uma erupção fissural - e era magma a sair desde uma ponta da fissura até a outra. Foi a norte…

Aquela lava incandescente.
Completamente incandescente. Mas é que é um laranja que eu nunca vi aquilo na minha vida. Eu nunca vi aquela cor na minha vida.

A que distância é que esteve da erupção?
Estive, para recolher amostras, estivemos mais ou menos a um metro, mas depois eu cheguei lá por volta das três da tarde. Portanto, a fissura tinha aberto há uma hora, cerca de uma hora, uma hora e meia.
Mas eu saí de lá à meia-noite e tal e a lava já tinha andado muito. Portanto, eu já estava a cerca de 100 metros da fissura, porque já tínhamos mesmo um lago de lava... Pronto, à volta da fissura, já não dava para estar tão perto.


Foto: cortesia Diana Brum
Foto: cortesia Diana Brum

Estar a um metro da fissura e com toda essa lava à frente, imagino que seja um calor insuportável.
Sim, completamente, porque o calor é o mesmo, sendo da fissura ou sendo da lava em si, é o mesmo. É um calor insuportável, mas temos de tirar fotografias, etc. Portanto, não havia volta a dar e, principalmente, a recolher amostras. Mas é um calor insuportável. Queima a pele. É engraçado, porque o barulho que ouvimos é o barulho de vidro a partir. Eu nunca tinha sentido este barulho. Mas é engraçado que é a lava que cria aquela crosta, arrefece muito rápido no contacto com a atmosfera, fica sólida, mas depois a lava por baixo continua incandescente, continua completamente viscosa. Portanto, aquilo que ouvimos é aquilo que já arrefeceu completamente, a partir como se fosse vidro.

Toda a gente se lembra da erupção do ano passado, numa outra fissura, presumo que perto. Na altura, havia muito receio das populações vizinhas. Desta vez, também deteta receio da população?
Sim, claro. É algo que neste momento está a ser discutido na Universidade da Islândia, porque no ano passado havia, de facto, muitas depressões e a lava, basicamente, não chegou a nenhuma população ou nenhuma central geotérmica, o que é muito importante, porque a Islândia é 99.9% independente em energia, graças à energia geotérmica.
Portanto, se a lava for para uma central geotérmica, nós simplesmente ficamos sem energia em Reiquiavique. Portanto, é muito importante esse ponto.

Parece-lhe que este ano há o risco, de acordo com os vossos estudos, de a lava poder vir a ameaçar habitações das redondezas?
Nós ontem vimos ao final do dia que estava a haver um "breakout" passageiro. Do lado de lá, começou a sair lava por um dos lados, o que faz completamente mudar a direção para onde a lava vai. Claro que sim. Tudo depende também da continuidade da erupção, depende muito do volume, em si, de magma que está a sair. Portanto, há a possibilidade de chegar a populações mais próximas? Claro que sim, mas ainda há um estudo que está a ser feito 24 horas sobre 24 horas.

Ainda não houve povoações evacuadas?
Não, isso não. A erupção é suficientemente pequena, por enquanto, para não se evacuar populações. Mas há que ter cuidado quando as pessoas vão lá, porque, por exemplo, eu ontem, quando estive em campo, estive lá na erupção e eu vi pessoas que se aproximavam demasiado.

Como é que se pronuncia o nome do vulcão?
Eu vou tentar pronunciar bem, porque eu não sou islandesa, mas é muito difícil, que é: "Fagradalsfjall".

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