Se não nos dissessem que há uma guerra, quase não acreditaríamos logo à saída para a rua ou até da estação de comboios.
Cheguei a Lviv em pleno recolher obrigatório pouco depois da meia-noite. Atravessei a cidade a partir da estação de comboios local graças ao condutor de uma carrinha com um lugar vago. Declinou pagamentos e deixou-me no centro ao início da madrugada, em horas em que não há táxis mas circulam carrinhas e carros particulares que vão buscar familiares à estação.
Vigora no país uma lei marcial que coloca o Exército no comando e no controlo efetivo das ruas. A lei está em vigor já há 10 dias e assim estará pelo menos até 24 de março. A medida implica uma restrição na saída do país de homens entre os 18 e os 60 anos e há também um recolher obrigatório entre as 22h00 e as 6h00 da manhã.
Uma cidade dita normal não tem um silêncio noturno tão profundo. Mas ao atravessar as ruas e avenidas, não se observa a presença massiva de militares e de polícias. Vemos veículos do Exército e Polícia a circular e se olharmos com atenção há trios de soldados que patrulham algumas ruas. Observei também trabalhos de vigilância em carrinhas descaracterizadas a baixa velocidade, laborando em várias camadas de vigilância.
Em busca de infiltrados
Nesta zona da Ucrânia não têm sido registados grandes problemas ao nível dos combates. Na última noite antes de chegar aqui soaram as sirenes pelas 21h00 obrigando as pessoas a recolher aos abrigos.
Uma das maiores preocupações das autoridades da Ucrânia, sobretudo a Oeste, é a prevenção total de infiltrações de inimigos entre a população.
Enquadra-se naquilo que o Estado Maior General das Forças Armadas (EMGFA) ucranianas chamava, em comunicado, de “operação de estabilização”, com a execução de tarefas de “defesa territorial” de forma a evitar “ações ofensivas”, atividades de sabotagem pelo inimigo e de grupos de reconhecimento. Isto ao mesmo tempo que mantém a defesa antiaérea, nomeadamente face a possíveis bombardeamentos.
Isto leva naturalmente os ucranianos a estado de alerta que implica passar tudo a pente fino em determinadas circunstâncias, como a entrada no país.