24 jul, 2023 - 20:37 • Olímpia Mairos
O primeiro grupo de jovens dos Açores já está a caminho do Pico, a montanha mais alta de Portugal. Seguem 16 jovens, oito sacerdotes e alguns jornalistas, liderados pelo bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues.
Sorridente, na hora da partida, o bispo de Angra admitiu o peso da mochila, mas também o entusiasmo e a vontade em chegar lá acima e “Tocar o Céu” - assim se designa a iniciativa - antes da partida para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
“O calvário faz parte da vida. Quando olhamos para esta montanha e nos sentimos atraídos nada, nenhuma dificuldade, impede que avancemos. Claro que levo aqui uma mochila grande demais. Pensava que fosse mais pequenina, mas a vida também tantas vezes tem mochilas e tem cargas superiores às nossas forças, mas acredito que vai lá chegar acima”, assinala.
Para D. Armando Esteves Domingues, “a caminhada é sempre um desafio, mas acredita que quando se caminha, vamos em direção ao destino e durante o caminho aparecem as surpresas e aparecem os milagres, é uma das grandes novidades de Cristo, que era sempre no caminho que deixava as grandes mensagens”.
“Acredito que a surpresa maior também será Ele a dá-la a mim, e se calhar a mais alguém. Eu vou escutar não só montanha, mas o Senhor da Montanha”, confidencia.
Questionado pela Renascença, se subir ao ponto mais alto de Portugal é também uma oportunidade para desafiar os jovens a alargarem os horizontes da vida, o bispo de Angra refere que esse desafio é para os jovens e para os bispos.
“Eu acho que o ponto mais alto de Portugal também para nós é muito simbólico e é um convite a olhar este mundo com os olhos de Deus. Quando se olha lá de cima para baixo, é tudo muito igual os desníveis desaparecem, as pessoas são todas iguais. Deus olha a todos, não um daqui outro d'além, homem, mulher, desta cor ou daquela cor, todos filhos. E que nós tenhamos este olhar da fraternidade universal lá de cima, que eu acho que é o que Deus também tem sobre o mundo criado”, diz.
Ainda sobre os desafios aos jovens açorianos - seguem 900 para a JMJ - D. Armado diz que o grande desafio agora é “aguentar esta pedalada com os nossos jovens dos Açores e também se for preciso empurrá-los ou puxá-los e que eles me puxem a mim, mas que vamos juntos, caminhar juntos, ir juntos, ter um ritmo que dê para todos, que não deixe os velhos para trás, os novos para a frente”.
“Somos uma única Humanidade e lá em cima na montanha quem me dera que ao pôr lá uma assinatura, que depois, provavelmente, também todos podem ver e colocar, seja um compromisso com esta bela criação que Deus nos dá nas pessoas, nas coisas, na natureza. Que nós nunca nos cansemos de louvar a Deus por todo o criado, por tudo o que nos dá e que o façamos juntos neste mundo, que deixemos algum rasto não só pegada ecológica é mesmo uma pegada nova de homens que querem transformar este mundo”, observa.
Também o diretor nacional da Pastoral Juvenil, padre Filipe Diniz, está a palmilhar o caminho rumo ao topo da montanha.
De mochila às costas - experimentando o peso - diz que “há sempre muita coisa que nós queremos sempre levar”, mas realça que o importante é “levar a comida, barras energéticas e muita água também”, admitindo que isso faz aumentar o peso.
“No caminho o importante é levar o essencial na mochila para levarmos também o que é o essencial da nossa vida para podermos subir ao mundo e agradecer o dom da vida”, observa.
Admite que “a força divina ajuda e é essa que nos vai levar até lá acima, mas destaca que a motivação do grupo também vai ajudar”.
“Acho que nós vamos conseguir chegar de facto”, vaticina, reforçando que se trata de uma grande oportunidade subir ao alto desta montanha e celebrar juntos a mesma fé”.
“Vai ser um desafio muito bonito nesta grande aventura que é a Jornada Mundial da Juventude. Precisamos de ir ao monte para contemplar e agradecer e dar graças por esta grande aventura, porque é um momento que não pode passar ao lado. É um momento que muitos jovens querem subir este grande monte - não é esta grande montanha - para estar, encontrarem-se verdadeiramente com Deus”, conclui
Albano Gomes, 24 anos, veio da ilha de S. Jorge. Faz esta experiência “pela aventura e pelo espírito de comunidade que tem vindo já desde o planeamento para as Jornadas Mundiais da Juventude”.
“E acho uma iniciativa bastante interessante da diocese a gente subir a montanha do Pico e fazer uma missa lá em cima”, realça.
Gosta “muito de fazer trilhos” e conta que “ao longo dos últimos dias na minha ilha, tentei fazer mais um pouco trilhos, andar mais um pouco para estar devidamente preparado para subir a montanha”.
Ser enviado para a JMJ a partir do ponto mais alto de Portugal diz que é algo que “arrepia”.
“Para além de ser uma coisa única, acho que é um incentivo bonito os jovens dos Açores terem este momento especial para enviar para um evento com as dimensões que têm as jornadas, um evento mundial com milhões de pessoas”, completa.
Francisco Soares, 18 anos, veio da ilha de São Miguel “pela fé e também pelos jovens que queriam vir e não tiveram possibilidade”.
Está “animado” e acredita que “vai ser uma experiência muito boa e que vai ser marcante para a vida inteira”.
Neste primeiro grupo segue o picaroto Renato Goulart, guia de montanha. É a pessoa que mais vezes subiu a Montanha do Pico. Para as três mil vezes falta mais ou menos uma centena.
Não tem conhecimento de uma iniciativa de tão grande envergadura no topo da montanha. Espera que “corra bem” e que juntamente com o grupo que vai subir ao fim da noite “seja um encontro de fraternização todos juntos”.
“Espero que os que consigam chegar lá sejam abençoados pela montanha para também a montanha lhes poder dar um abraço”.
Acredita que o bispo de Angra não terá grandes dificuldades na subida, mas já não tem tantas certezas em relação a alguns dos participantes.
“Em princípio o senhor bispo consegue, mas tenho algumas dúvidas em relação a outras pessoas que estão cá para fazer essa atividade, porque talvez não têm bem noção da dimensão e da dificuldade da montanha, tendo em conta que a pernoita é mais difícil porque tem mais peso, mais logística. Pode ser um fator determinante para a pessoa não conseguir terminar a atividade”, diz.
O segundo grupo, com 87 pessoas, - no qual segue a Renascença - parte pelas 0h00, depois de uma eucaristia às 22h00 na igreja da Madalena. Quando os dois grupos estiverem reunidos no cimo da Montanha do Pico será celebrada uma eucaristia de envio dos jovens dos Açores à Jornada Mundial da Juventude.
No final, os jovens vão assinar um compromisso, uma espécie de pacto, com a defesa da Casa Comum, que inclui além de questões ambientais o cuidado do irmão.