25 jun, 2023 - 17:30 • Olímpia Mairos
D. Nuno Almeida, que o Papa nomeou como bispo de Bragança-Miranda, a 19 de maio, tomou posse este domingo, na Catedral de Bragança, assumindo o desejo de caminhar com todos, com vista a uma Igreja sinodal.
“Eis-me aqui hoje entre vós, com o sobressalto e a confiança dos enviados. Estou aqui para partirmos juntos, sinodalmente, à procura dos melhores caminhos, na escuta recíproca e na atenção ao Espírito Santo”, disso o prelado.
Na homília da eucaristia, D. Nuno Almeida começou por saudar os muitos fiéis, “vindos de vários lugares”, reunidos na “nova, bela e solene catedral da Diocese de Bragança-Miranda”.
Na homília, trazendo a Palavra de Deus para o contexto geográfico, D. Nuno Almeida evocou a Albufeira do Azibo ou os Lagos do Sabor para exemplificar a dimensão do lago de Galileia a que o Evangelho faz referência.
“Uma página do Evangelho maravilhosa e dramática aquela que acabámos de escutar! Num lago que é para a Galileia proporcional ao que é para nós a Albufeira do Azibo ou os Lagos do Sabor, levantou-se uma violenta tempestade, que encheu de água a pequena barca e de medo os discípulos”, acentuou.
Aprofundando o Evangelho, D. Nuno Almeida fez referência a Jesus que, “à popa, dormia deitado sobre uma almofada”, para dizer que “Jesus permanece no comando da nossa barca, da nossa vida, ainda que muitas vezes nem tenhamos consciência da força serena com que Ele nos guia”, alertando que “renovação pastoral” não é “aceleração pastoral”.
“Confundimos muitas vezes renovação pastoral com aceleração pastoral. Mas não é a nossa agitação que conta. É essencial e decisiva a Sua presença de amor”, alertou.
“É ao Senhor que confio, nesta hora, o meu ministério de serviço episcopal a esta querida diocese de Bragança-Miranda. Ao Senhor peço que vele por nós, que seja Ele, em nós e no meio de nós, a orientar a nossa barca, mesmo que vá recostado tranquilamente à popa: que a sua presença serena e amorosa dê sempre sentido e rumo ao nosso peregrinar juntos, sinodal, como povo de filhos e de irmãos!”
Servindo-se uma vez mais da geografia do território que lhe foi confiado, o responsável da diocese de Bragança-Miranda enalteceu a beleza da criação e evidenciou o amor com que Deus ama o seu povo, através da figura do pastor que ama o rebanho, que chama pelo nome e assegura que nenhuma [das ovelhas] se tresmalha, que dá - por elas - a vida.
Evocando lugares e realidades naturais da diocese - o Penedo Durão e as “uvas maduras, nas encostas do Douro”, a “neve” na Serra de Nogueira, na Serra de Bornes, na Serra de Montesinho, a “cor dos outeiros”, o “cheiro de castanhas assadas e do fumeiro em Vinhais”, as “amendoeiras em flor” e as “oliveiras verdejantes nas encostas do Tua e do Sabor”, a “doçura da fruta” do Vale da Vilariça, “as maçãs que crescem” em Carrazeda de Ansiães, o “orvalho nas searas do planalto Mirandês”, o bispo recordou que a criação convida a “apaixonar-nos pelo Criador” e o Criador convida a “apaixonar-nos pela beleza da criação”.
“Tudo tão belo. Deus convida-nos a ser sábios, a saber ver. É um Deus que convida a apaixonar-nos pela beleza da criação. É uma criação que convida a apaixonar-nos pelo Criador”.
Depois, D. Nuno Almeida definiu como pastoralmente prioritárias “as vias que conduzam pessoas, famílias e comunidades a viver unidas a partir da celebração do sacramento da Eucaristia, fonte de graça e força para uma vida espiritual autêntica”.
“Como é decisivo que a Palavra de Deus percorra os caminhos do mundo, que hoje são também os da comunicação, informática, televisiva e virtual. Que a Bíblia entre nas famílias para que pais e filhos a leiam, com ela rezem e seja lâmpada dos seus passos no caminho da existência”.
Na visão do novo bispo diocesano, “cada vez mais se interpreta a existência humana numa perspetiva exclusivamente horizontal e fechada nos confins do mundo, como se vivêssemos sob um grande guarda-chuva! Como se fossemos girassóis à meia-noite”.
“É uma necessidade pastoral, particularmente nos tempos atuais, colocar o Evangelho em diálogo com a vida concreta e com a cultura. Criar ligames entre os problemas reais e o Evangelho para ‘afinarmos’ assim o nosso pensar, sentir e agir. Tudo isto implica, antes de mais, suscitar sede e encanto pela luz, pela força e pela alegria do Evangelho”, defendeu.
Aludindo à Jornada Mundial da Juventude que “está mesmo à porta”, D. Nuno Almeida pediu que, “juntamente com os jovens, testemunhemos e levemos o Evangelho a todos, a começar por quem está ao nosso lado até chegar aos confins do mundo”.
“É preciso reunirmo-nos, de muitos modos, para a escuta e para que a Palavra se faça vida e a nossa vida se faça Palavra”, observou.
O prelado recordou também o Sínodo “Por uma igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, sublinhando “a alegria do encontro sincero e respeitoso entre irmãos e irmãs na fé”, no reconhecimento da dignidade comum derivada do batismo.
“Temos, hoje, mais consciência de que uma Igreja sinodal se funda no reconhecimento da dignidade comum derivada do Batismo, que torna todos os que o recebem filhos e filhas de Deus, membros da família de Deus e, portanto, irmãos e irmãs em Cristo, enviados para cumprir uma missão comum, caminhando lado a lado com todos”, disse.
Segundo D. Nuno Almeida, “uma Igreja sinodal é uma Igreja do encontro e do diálogo, que escuta e procura ser humilde”, sendo “capaz de pedir perdão” e com “muito a aprender”, porém, alerta que as instituições e estruturas por si só não são suficientes para tornar a Igreja sinodal.
“Temos consciência de que as instituições e estruturas por si só não são suficientes para tornar a Igreja sinodal”, sinalizou, apontando como necessárias “uma cultura e uma espiritualidade sinodais, animadas por um desejo de conversão ao Evangelho, alimentadas pela Eucaristia e sustentadas por uma formação adequada: integral, inicial e permanente, para todos os membros do Povo de Deus”.
A eucaristia da tomada de posse de D. Nuno Almeida como bispo de Bragança-Miranda foi concelebrada por 14 bispos e por mais de meia centena de sacerdotes, a maioria da diocese transmontana, mas também de Braga, Viseu e de outras limítrofes.
Natural de Sátão, na Diocese de Viseu, D. Nuno Almeida é licenciado em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica do Porto, mestre em “Fé e Psicoterapia” e doutorado em Teologia Dogmática pela Universidade Salesiana de Roma.
É o 45º bispo da Diocese de Bragança-Miranda, a quarta diocese do país mais vasta em termos de território, com menos de 123 mil habitantes, dispersos por 600 localidades de 321 paróquias, e sucede a D. José Cordeiro que deixou a diocese para assumir a Arquidiocese de Braga.