24 jun, 2023 - 17:50 • Olímpia Mairos
O bispo eleito de Bragança-Miranda chega à diocese sem programa, mas com muitos sonhos.
Em declarações à Renascença, D. Nuno Almeida conta que vem com “muitos sonhos” e traz no coração “o desejo de fidelidade e comunhão com o Papa Francisco, neste levar-nos por esta igreja com um rosto sinodal e também uma igreja em saída, podemos dizer, missionária”.
“Isso significa também uma igreja samaritana, porque estamos atentos, em especial àqueles que passam por situações de vulnerabilidade, de sofrimento, que precisam, muitas vezes, não só da palavra, mas da ação”, explicita.
O olhar do novo bispo diocesano dirige-se, neste momento, de um modo particular, para os jovens, a quem promete acolhimento e acompanhamento.
“Neste momento, seria um pecado de omissão grave não estarmos a caminhar com os jovens, na preparação espiritual e também logística, naturalmente, da Jornada Mundial da Juventude. Mas independentemente deste acontecimento, os jovens têm que estar sempre no coração de um bispo e serem protagonistas na igreja e na sociedade, porque é a partir daí que também tornamos o nosso mundo mais feliz e mais fraterno”.
Por isso, o novo bispo da diocese de Bragança-Miranda promete ter sempre o seu coração escancarado para os jovens.
“Sem dúvida. E a casa, e também aquilo que for necessário disponibilizar, mesmo da parte da diocese. Sobretudo, que os jovens sintam que o bispo lhes quer bem e que acredita também nos jovens”, disse, acrescentando que tem “feito essa experiência, que Deus atua e trabalha muito em especial no coração dos jovens, não só para a sua alegria, mas para bem da Igreja e também da sociedade”.
Em conferência de imprensa, a um dia de tomar posse como bispo de Bragança-Miranda, D. Nuno Almeida disse querer fazer com toda a diocese um caminho sinodal, onde padres e leigos façam caminho em conjunto.
“A Igreja não pode ter um rosto clerical, precisa de ter um rosto de mãe, onde os cristãos leigos, onde as famílias têm um papel na vida pastoral”, destaca.
Neste sentido, o novo bispo propõe-se fazer “um percurso de diálogo, olhando os problemas, vendo as necessidades, interpretando, refletindo sobre as questões que existem e, depois, tomando decisões juntos”.
Aludindo aos tempos de instabilidade que se vivem na Europa, devido à guerra na Ucrânia e não só, D. Nuno Almeida admite que “há motivos de interrogação, de perplexidade”, realçando que “no dia a dia, por vezes, há a dificuldade para encontrar sabor e rumo para os problemas da vida pessoal, da vida familiar; dificuldade de encontrar o sentido para a vida de cada dia e um sentido, também, último, no fundo, de valores, que seja uma espécie de GPS e de bússola para a vida das pessoas”.
Neste contexto, o prelado mostra-se preocupado, porque “muita gente vive 'debaixo de um guarda-chuva', sem uma abertura espiritual”, ressalvando não confundir “a dimensão espiritual do ser humano com a vida religiosa, de projetar, de olhar mais longe, que leva também a vertebrar a vida por valores que nos humanizam”.
“Ter um projeto de vida feliz é o mais importante e a Igreja tem a missão de oferecer respeitosamente, de anunciar, de propor precisamente o Evangelho como luz que nos oferece um projeto de vida com esperança e fecundo”, assinala.
Questionado sobre o problema dos abusos sexuais dentro da Igreja, D. Nuno Almeida considera que não pode haver abusadores nem silenciadores.
“Não pode haver abusadores e também não pode haver o silenciar quando, infelizmente e dolorosamente, sabemos que podem acontecer”.
Segundo o bispo, “temos as coisas claras neste momento. Houve caminho que a Igreja fez, com muita decisão, até em termos de normas de procedimentos, de reflexão e, portanto, de facto, é hora de agir, mesmo quando isso é, de facto, muito difícil”
“É doloroso, mas não pode ser de maneira nenhuma nem adiada, nem adiado o que se deve fazer e, muito menos, hesitar naquilo que é necessário fazer, seguindo a lei civil - porque somos cidadãos como qualquer outro cidadão - e seguindo sempre a lei canónica e, muito em especial, aquilo que o Papa Francisco ultimamente determinou no famoso Vade-Mecum, onde estão discriminados os passos a fazer”, defende.
O prelado reconhece que nem tudo correu bem, após a divulgação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, mas justifica o que aconteceu com um problema de comunicação, garantindo que na conferência episcopal sempre houve diálogo e comunhão e que as decisões foram sempre assumidas.
“Houve, de facto, um momento que não correu nada bem, até de comunicação, quando as decisões tinham sido tomadas de uma forma consensual, porque as decisões sobre estas questões foram sempre dialogadas na conferência episcopal e foram sempre assumidas em unidade, portanto, praticamente, de uma forma consensual”, explica.
O responsável sublinha ainda que “a Igreja tem feito um bom caminho”, explicando que, neste momento, “estamos numa etapa nova, tendo em conta aquilo que aconteceu, de publicação do relatório deste novo grupo de trabalho, que está a trabalhar intensamente, que vai prestando contas também do que está do que está a acontecer”.
“Isto é fundamental para se criar confiança e abertura. E eu apelo a todos a esta cultura de vigilância, porque, se não a assumimos todos, não é possível superarmos este drama, nem na Igreja nem na sociedade”.
Por fim, o novo bispo da diocese de Bragança-Miranda deixa uma “mensagem de esperança e de confiança” e apela a quem “ainda não sentiu força para poder abrir o coração e, eventualmente, comunicar aquilo que acha que deve comunicar, que não tenha receio”.
“Neste momento, a Igreja oferece várias possibilidades, mais próximas ou mais distantes, para manter um certo anonimato para quem tiver que partilhar alguma situação dolorosa de abuso o possa fazer e, sobretudo, depois, a partir daí, reencontrar também um caminho de esperança ou receber a ajuda, tanto médica como outra que seja necessária”, destaca.
D. Nuno Almeida toma posse este domingo como bispo da diocese de Bragança-Miranda, a quarta diocese do país mais vasta em termos de território, com menos de 123 mil habitantes, dispersos por 600 localidades, de 321 paróquias.
Sucede a D. José Cordeiro que comparou “a uma espécie de celeiro com muito grão, belo e bom, mas, também, grão que já foi semeado, que já está lançado à terra”.
“O percurso que a diocese de Bragança-Miranda fez com coragem e decisão, no que diz respeito às unidades pastorais, olhando também a evolução demográfica, é uma espécie de exemplo para outras dioceses”, afirmou, acrescentando que vai “procurar aprofundar o que já está feito, e é muito e belo, e, ao mesmo tempo, dar continuidade a este caminho”.