16 out, 2020 - 06:50 • João Carlos Malta
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O Inverno ainda nem chegou e Portugal já ultrapassou os dois mil casos de Covid-19 diários, com o Instituto Ricardo Jorge a alertar que nos próximos dias o número possa subir para três mil. É neste contexto, que a 2 de novembro, decorrerá a romaria aos cemitérios em Portugal, no Dia de Fiéis Defuntos. Contudo, como é habitual muitas pessoas antecipam essa ida ao cemitério, na véspera, Dia de Todos os Santos, feriado nacional e que este ano calha no domingo. Estes espaços são geridos pelas autarquias e o risco de infeções levou já várias câmaras a anunciar que vão fechar os cemitérios. Outras há que garantem que os vão manter abertos.
Em Vila Nova de Gaia, o presidente Eduardo Vítor Rodrigues revela que a autarquia vai manter os cemitérios abertos. A decisão foi tomada em conjunto com as freguesias, com as autoridades de saúde e as autoridades policiais. O autarca alerta que, se “entramos no raciocínio de que tudo pode ter risco, qualquer dia fechamos tudo, porque tudo tem risco”.
E até questiona: “Não sei se ao abrir os cemitérios não estarei a impedir que as pessoas se concentrem nos 'shoppings', onde tem havido grande facilidade de acesso, ou se concentrem em espaços públicos muito concretos, aí sim, com dificuldade de controlo de pessoas”.
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Eduardo Vítor Rodrigues afirma que, naquela cidade junto ao rio Douro, haverá um tempo limitado de permanência para cada pessoa ou família. No máximo, vão poder estar 45 minutos no interior do cemitério.
O autarca explica ainda que haverá “apoio policial e dos funcionários das freguesias no controlo dos acessos” para que, num momento do dia possivelmente mais concorrido, se garanta que ninguém entra no cemitério.
Os horários vão ser alargados para 12 horas no total, entre as 7h30 e as 19h30, na maior parte dos casos.
Há ainda um outro fator que, na opinião do líder da Câmara de Vila Nova de Gaia, foi fundamental para que se possa garantir a segurança de todos: um contacto próximo com os padres de cada paróquia.
A estes foi pedido, e todos aceitaram, que este ano não houvesse “a tradicional celebração no cemitério, que em alguns casos era uma celebração religiosa, noutros casos uma procissão ou uma bênção coletiva”.
Aliás, no Minho, o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, anunciou também que, nos dias 1 e 2 de novembro, não serão permitidas romagens e procissões aos cemitérios nem celebrações comunitárias nesses espaços por causa da pandemia de Covid-19.
Antes, já os bispos da Igreja Católica em Portugal tinham pedido que nos próximos dias 1 e 2 de novembro, respetivamente dia de Todos os Santos e dia dos Fiéis Defuntos, as autoridades mantenham os cemitérios abertos para que as pessoas possam cumprir a tradição de ir homenagear os seus familiares que já morreram.
Numa nota pastoral emitida após a reunião do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa, que se realizou na segunda-feira em Fátima, os bispos reconhecem os constrangimentos provocados pela pandemia, mas avisam que o luto mal resolvido pode matar tanto quanto a Covid.
“É certo que não depende da Igreja a gestão da grande maioria dos cemitérios nacionais. Confiamos, porém, que as autarquias e entidades que os tutelam saberão interpretar as exigências do bem comum encontrando um justo, mas difícil equilíbrio entre os imperativos de proteger a saúde pública e o respeito pelos direitos dos cidadãos”, lê-se.
Eduardo Vítor Rodrigues acredita que este é o passo certo a tomar, e destaca o facto de o Governo, na recente atualização de medidas no regresso ao estado de calamidade, ter deixado de fora qualquer recomendação para estes dias.
“Não há uma circulação pulverizada no cemitério, quem entra sabe ao jazigo a que vai.”
Ainda no Norte, a Câmara de Viana do Castelo está a articular com as juntas e uniões de freguesia um plano que visa assegurar a realização da habitual romagem aos cemitérios no dia 1 de novembro, com todos os condicionamentos necessários e acessos controlados.
Assim, para que as famílias possam cumprir a tradição, serão implementadas medidas de segurança, com acessos controlados para evitar aglomerados. A medida vai contar com o apoio dos escuteiros, da GNR e da PSP.
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No centro do país, em Coimbra, o presidente da autarquia local, Manuel Machado, preparou uma operação para esta data, que passa por alargar para três dias o período em que os cemitérios funcionam com um horário maior do que é habitual. A ideia é evitar grandes concentrações de pessoas num só momento ou dia.
“Vamos alargar o horário do cemitério para as pessoas que queiram visitar na véspera do dia 1, no dia 1 e no dia 2, e teremos condições de segurança acrescidas, com controlo de acessos em termos de número de pessoas para evitar ajuntamentos e respeitar as regras da Direção-Geral da Saúde”, elucida.
Estes espaços em Coimbra estarão abertos de “sol a sol”, segundo o presidente, que sublinha que na cidade há um grande cemitério municipal, localizado na Conchada, no qual a lotação máxima será de 800 pessoas em simultâneo. Manuel Machado diz que o número foi obtido tendo em conta a área e as regras das autoridades de saúde para ajuntamentos de pessoas.
Em todos os outros cemitérios da cidade, a lotação será menor porque têm menos espaço. Qualquer que seja o cemitério, só será permitido entrar com a máscara colocada no rosto e no pressuposto de cumprimento do distanciamento social.
Nem todas as autarquias optaram por ter as portas dos cemitérios abertas. Depois da Póvoa de Varzim, também Vila do Conde e Trofa decidiram encerrar os cemitérios, por decisão da vigaria local.
Em comunicado, o padre Luciano Lagoa, vigário de Trofa e Vila do Conde, explica que a decisão se deve às “circunstâncias” impostas pela pandemia de Covid-19 após recomendação da CEP, que aconselhava a suspensão de “concentrações religiosas passíveis de forte propagação da pandemia”.
“Aconselha-se os fiéis ao respeito das indicações emanadas pelas autoridades competentes quanto à aglomeração de pessoas e capacidade dos espaços. Todos sabemos que este tem sido um ano particularmente difícil no que se refere ao luto por aqueles que já partiram, de modo especial aqueles que faleceram durante e devido à pandemia. Invocamos a misericórdia de Deus sobre todos eles e pedimos a virtude da esperança para superar as feridas humanas e sociais provocadas por este tempo”, diz o mesmo comunicado.
Em Estarreja, a mesma decisão. “Os cemitérios têm gestão das Juntas de Freguesia que manifestaram a sua preocupação perante a previsibilidade de aglomerados de milhares de pessoas, incluindo com deslocações de fora do concelho, e à dificuldade em garantir todas os meios exigíveis para que sejam asseguradas as normas de segurança”, anuncia em comunicado a edilidade.
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Aquela autarquia salienta a excecionalidade da medida que “surge no âmbito do combate à propagação da doença provocada pelo novo coronavírus”.
“Tal como já tem vindo a acontecer ao longo da pandemia noutras datas, também este feriado terá de ser vivido de forma diferente. Apela-se à compreensão e colaboração de todos”, escreve em comunicado a autarquia de Estarreja.
Mais a sul, em Cascais, a opção será outra. O presidente da Câmara Municipal, Carlos Carreiras, garante que “vai manter o funcionamento como tem estado a fazê-lo”, mas “obviamente reforçando os meios para se cumprirem as regras colocadas pela DGS”, quer em termos de concentração de pessoas, quer na preocupação de higienização de todos aqueles que queiram visitar os cemitérios.
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Carreiras defende que “o cemitério é um espaço público” e sendo assim “aplicam-se as medidas previstas com o limite máximo de cinco pessoas”. Por isso, não teme qualquer problema adicional.
“Perigo no sentido de risco penso que já todos incorporámos. Risco existe sempre e não haverá ninguém que possa dizer que não haverá risco e perigo”, avalia.
Por isso, sentencia: “Não é diferente estar num cemitério ou num parque verde urbano.”