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Padre José Antunes

​“Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe. E que o Vitória ganhe!”

20 jul, 2019 - 11:00 • Filipe d'Avillez

Em Guimarães "gosta-se muito do Vitória" e eu, diz José Antunes, "sou mais um". Mas nem tudo é consensual: difere da maioria dos outros em pelo menos duas coisas: é padre e candidato a presidente da Assembleia Geral.

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O padre José Antunes lembra-se de ir, ainda novo, ao antigo campo de futebol da Amorosa pela mão do seu pai. “Sempre gostei e gosto de futebol, portanto, é uma coisa que está entranhada em mim, e amar o Vitória faz parte”.

Nesta conversa ninguém comete o erro de falar do Guimarães. Guimarães é a cidade, o clube é Vitória Sport Clube, ou simplesmente o Vitória, e os adeptos não gostam que se confundam as duas coisas. “Aqui vive-se o clube de uma forma muito, muito intensa. É algo inexplicável”, diz o padre José Antunes, “porque às vezes este gostar tanto do Vitória pode até levar a situações que não são as mais corretas, é verdade, mas o facto é que este povo ama, ama o Vitória, ama o futebol.”

Em Guimarães, conclui, “gosta-se do Vitória. Eu sou mais um”.

Padres que gostam de futebol são muitos, mas mais raro é o padre que se deixa envolver no mundo do dirigismo desportivo, sobretudo, em clubes de topo. Para este sacerdote não existe incompatibilidade. “A Igreja deve estar onde estão as pessoas e o futebol também é um meio, um espaço onde está gente. Gostar de desporto e o ser-se católico não é incompatível, mas ajuda-nos também a compreender o futebol naquilo que tem de bom para a comunidade, para a sociedade, é algo que nos ajuda também a unir.”

“O futebol em si tem coisas boas, evidentemente também tem negativas, mas as negativas eu dispenso, naturalmente”, diz o padre Antunes, que acredita ainda que tem como missão “tentar elevar um bocadinho o meio”.

“Podem dizer que o padre deve estar fechado na Igreja, mas não, o padre tem uma missão de trabalho, está inserido no mundo e é ali que deve manifestar a sua fé e com o seu testemunho atrair a si também e a outras pessoas que vivem com ele”, defende.

"Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe. E que o Vitória ganhe"

Embora a sua paixão pelo Vitória seja grande, admite que nunca deixou que esta fosse um obstáculo ao seu ministério: “Há que compatibilizar as coisas. Tenho trabalho, gosto muito de futebol, mas primeiro está o meu dever.”

E até tenta não misturar as coisas. Tenta… “Na missa não falo do Vitória, mas às vezes quando me despeço da assembleia dou a bênção final e digo ‘Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe. E que o Vitória ganhe’”.

A devoção ao clube já o levou à direção, onde serviu como vice-presidente da Assembleia Geral. Mais recentemente foi nomeado para o Conselho Vitoriano, de onde pediu demissão para poder integrar uma lista candidata à direção, com o cargo agora de presidente da AG. Em todas estas posições tenta-se pautar pelo “fair-play”, num clube cujos adeptos são conhecidos por serem duros de roer.

“De facto há alguns cuja paixão é tão grande que não admitem sequer que alguém seja de outro clube e que venha aqui à cidade livremente. Mas isso são casos raros, a árvore não faz a floresta”, diz, e conta um episódio em que interveio para ajudar um grupo de adeptos de um dos clubes grandes, que foi rodeado por vitorianos no exterior do estádio e estava a ser agredido. “Meti-me a meio e pedi juízo às pessoas, que respeitassem. Felizmente calaram-se, não continuaram a sua atitude má. Acompanhei as pessoas do outro clube até ao carro e pedi-lhes que seguissem para casa, que não se importassem mais com isso.”

Valeu-lhe, nessa situação, ser reconhecido, pois em Guimarães poucos não sabem quem é o padre José. Mas o sacerdote recorda ainda outro episódio em que se passou o contrário e em que lhe valeu não saberem quem era. “Não vou dizer onde foi, mas há campos de futebol onde eu não vou, por isso mesmo, pela rivalidade doentia, pela atitude de violência que pode acontecer”, começa.

Dessa vez, viu “um casal com uma criança, que ia com um cachecol do Vitória. estavam lá pessoas do clube da casa e tiraram o cachecol à criança e agrediram o pai, ao meu lado.”

“Se eu me manifestasse do Vitória também seria alvo da fúria e da ira daquelas pessoas. Acobardei-me, é verdade, e disse que a esse campo de futebol jamais iria, porque não é o meu modo de ser”, diz.

26/5/2013

“Não somos adeptos das vitórias, somos adeptos do Vitória”, diz o padre José Antunes, citando uma frase tradicional entre os adeptos daquele clube.

De facto, do historial do clube não há registo de mais do que uma Supertaça e de uma Taça de Portugal, em termos de grandes troféus. Mas isso só serve para tornar essas conquistas ainda mais saborosas. Uma data, em particular, está gravada nas suas memórias.

“26 de maio de 2013, Taça de Portugal, vencemos o Benfica por 2-1, no Estádio Nacional e foi o momento mais alto da minha vida como adepto do Vitória. Os mais velhos, como eu, que tenho 62 anos, esperámos 50 anos por esse acontecimento”, afirma.

“É um momento único na nossa vida e foi um momento de alegria, de exaltação e de amor clubístico único em Guimarães. Esperamos ter mais alegrias, porque esses momentos de festa fazem-nos bem. Para ser adepto de quem ganha sempre, seria adepto da Juventus ou de outros clubes grandes. Sou adepto do Vitória e o Vitória é como é. Queremos que seja grande, mas infelizmente não ganha sempre, contudo não deixamos de gostar do Vitória”.

Atualmente o Vitória disputa com o Sporting Clube de Braga a supremacia futebolística do Minho e a rivalidade é muito forte. Mas em termos eclesiais é Guimarães que está sujeito à arquidiocese de Braga. O padre José Antunes ri-se e garante que entre os padres das duas cidades há brincadeiras sobre a rivalidade, mas não passa disso, e recorda o seu grande amigo, o cónego Melo, que morreu em 2008, mas era uma figura importante da estrutura do Sporting Clube de Braga.

Já o arcebispo D. Jorge Ortiga assume-se adepto do Futebol Clube do Porto, o que não chateia o padre José. “Se fosse do Guimarães teria de ser do Gil Vicente, Braga, Fafe, então não é por ninguém da diocese. É pelo Porto. Deus o abençoe e o faça santo.”

Pode não ser o melhor dos mundos, mas é o mundo real

Pode ser relativamente raro um padre fazer parte de uma direção de um clube de futebol, mas o padre José Antunes não é caso único. O Fátima, clube que chegou a disputar a Segunda Liga, tem como presidente um padre.

O clube foi mesmo fundado por um sacerdote, mas o padre António Martins Pereira diz que não é obrigatório ser presidido por um clérigo. “O meu caso é uma exceção. Em primeiro lugar sou culpado disto, porque gosto. Em segundo lugar, é difícil arranjar outro. Não há quem queira assumir”, ressalva.

“Eu nunca deixei o meu trabalho, a minha missão, em prol do futebol. Até porque aos domingos tenho muita dificuldade em estar nos jogos. Mas a noite podemos sempre dispensá-la para esses trabalhos, porque é uma causa que também considero muito importante, estar no mundo real, onde estão os jovens, onde estão as atenções do povo. Pode não ser o melhor dos mundos, mas é o mundo real”, observa.

Sobre o lado mais obscuro do mundo do dirigismo desportivo, o padre António Martins Pereira diz que pela dimensão do Centro Desportivo de Fátima isso não o afeta. “O meu clube é muito pequenino. Não tem nada a ver com os grandes. Isto é muito pequenino e é muito difícil, temos de lutar muito. Agora, não há dúvida que é um negócio, e tudo o resto, mas não estamos voltados para aí, porque somos pequeninos de mais.”

Apesar das dores de cabeça que o cargo lhe dá, o presidente admite que retira muita satisfação da sua ligação ao futebol. “Naturalmente, estou no Fátima pela formação, pelos pequeninos. É isso que me mantém no Fátima e também, digo com toda a franqueza, a alegria de ver o nome de Fátima no desporto. Fátima não é só o santuário, é uma terra como as outras e o desporto é muito importante”, sublinha.

“Ao domingo vou sempre ao futebol”

Já foi vice-presidente do Tirsense, quando era pároco em Santo Tirso, e agora é presidente da assembleia geral da Associação de Futebol do Porto.

O padre Jorge Duarte é assistente espiritual da Renascença em Gaia e a bola está-lhe no sangue. Faz questão de ir ao futebol todos os domingos. “Tenho o clube de que sou adepto, que é o Porto, mas se o Porto jogar longe vou ver outro qualquer. Todas as semanas vou ver um jogo de futebol, ou um bocadinho de futebol, melhor dizendo.”

O que o atrai é, sobretudo, “o ambiente popular, as emoções, a reação das pessoas, experimentar algo que não se experimenta em mais lado nenhum, desde a liberdade de linguagem às reações das pessoas que conhecemos de outros lados, mas são completamente diferentes quando estão no jogo.”

“É sermos completamente apanhados, envolvidos, não irmos apenas ver um espetáculo, mas sentirmos que fazemos parte do espetáculo. É por isso que ver um jogo de futebol sem pessoas é uma tristeza.”

Mas, acima de tudo, preza a força das amizades que o futebol ajuda a forjar. “Para aqueles que têm a sorte de conhecer várias pessoas ligadas ao futebol, e de vários clubes, acredito que é uma boa maneira de fazermos amigos para toda a vida. Graças ao futebol posso dizer que tenho amigos na maior parte dos clubes portugueses. Mas amigos mesmo, daqueles que nos momentos importantes da vida eu faço questão que estejam presentes, e são de vários clubes. Essa é a parte mais bonita do futebol, ser não só uma escola de valores, mas também uma oportunidade de criar amizades e ligações que perduram uma vida inteira. E isso é muito bonito.”

Por tudo isto, apesar de ser padre, Jorge Duarte sente que tem obrigação de responder positivamente, quando possível, aos convites que lhe fazem para integrar listas. “É importante que as pessoas não critiquem apenas e que metam a mão na massa. E é por isso que dentro da limitação de tempo que tenho, dou sempre o meu contributo. Se as pessoas mais ou menos bem formadas, que têm algumas preocupações éticas e de transparência e de lealdade, desaparecem e não dão o seu contributo, isto pode ser cada dia pior”, conclui.

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