25 set, 2023 - 19:45 • Diogo Camilo
Numas eleições marcadas pela perda da maioria absoluta da coligação PSD/CDS, as regionais na Madeira deste domingo ditaram também a queda abrupta do PS e a ascensão dos "pequenos" partidos, com dois a entrarem no parlamento madeirense pela primeira vez (Chega e Iniciativa Liberal) e outros dois a regressarem (PAN e Bloco de Esquerda).
O “Somos Madeira”, de sociais-democratas e centristas, conquistou menos um deputado que a soma dos dois partidos nas últimas eleições de 2019, mas o cenário podia ter sido de ainda maior indecisão.
Segundos cálculos da Renascença através do Método D'Hondt, o 23.º mandato conseguido por PSD e CDS - e que os coloca a um deputado da maioria e permite a negociação com IL ou PAN para formar um governo maioritário - foi conquistado por uma margem de apenas 240 votos, ou seja, 0,18%.
Quando faltava contar os votos de apenas uma freguesia na noite eleitoral de domingo, a de São Martinho no Funchal, os números provisórios atribuíam apenas 22 mandatos à coligação.
Com os resultados da freguesia, PSD e CDS conseguiram eleger o 23.º mandato, o último a ser eleito, por uma margem de apenas 240 votos para o sexto mandato do Juntos pelo Povo (JPP).
Este 23.º mandato coincidiu também com o terceiro centrista na lista da coligação, o que permite que o CDS tenha três deputados regionais, enquanto o PSD terá 20.
Olhando para os resultados das eleições regionais, a coligação "Somos Madeira" recuperou quatro concelhos que o PSD tinha perdido para o PS nas últimas eleições, em 2019: Funchal, Machico, Porto Santo e Santa Cruz.
A coligação foi a mais votada em 52 das 54 freguesias e também a mais votada em 14 freguesias onde os socialistas tinham sido o partido mais votado nas últimas regionais.
Ainda assim, a percentagem de votos na coligação foi inferior à soma de PSD e CDS em 2019 em oito dos 11 concelhos e em 43 das 54 freguesias madeirenses.
E houve diferenças na expressão da vitória do “Somos Madeira” por todo o arquipélago: se na Calheta, a margem de vitória foi de quase 50 pontos percentuais, nos concelhos de Santa Cruz e Machico a margem para o segundo partido mais votado foi inferior a 10 pontos percentuais.
O PSD pode ter perdido (momentaneamente) a maioria, mas o maior derrotado em números nestas eleições foi o PS. Os socialistas perderam oito deputados em relação às regionais de 2019, passando de 19 para 11 mandatos e de 35,8% para 21,3% dos votos.
Com o cabeça de lista Sérgio Gonçalves, o PS obteve menos votos em todas as freguesias e concelhos da Madeira, em comparação com as últimas eleições, e perdeu os concelhos e freguesias sobre os quais tinha levado a melhor ao PSD em 2019.
Numa freguesia em particular, Santo António da Serra, no município de Santa Cruz, os socialistas foram a quarta força política mais votada, algo que não tinha acontecido em nenhuma freguesia nas últimas eleições.
Houve um pouco de tudo nas eleições regionais dest(...)
Os votos no trio PSD, CDS e PS caíram 20% em relação às últimas eleições: se em 2019 representaram mais de 80% de todos os votos na região, nestas eleições uma em cada três pessoas votaram noutro partido.
Nas últimas regionais, pouco mais de 21 mil pessoas votaram noutro partido que não PSD, CDS e PS, um número que mais do que duplicou nestas eleições: 44.542 pessoas votaram noutros partidos que não a coligação “Somos Madeira” ou o PS.
O Juntos Pelo Povo (JPP), com Élvio Sousa como cabeça de lista, é agora a terceira força política na Madeira, conquistando cinco deputados, mais dois que nas últimas eleições e o mesmo número das regionais de 2015.
Com pouco mais de 11% dos votos e quase 15 mil votos, o JPP foi o segundo partido mais votado no concelho de Santa Cruz e conseguiu a particularidade de ter conquistado o maior número de votos nas duas freguesias que “fugiram” à coligação PSD/CDS - Gaula e Santo António da Serra.
O JPP foi ainda a terceira força política em três dos 11 concelhos na Madeira e triplicou o número de votos no Funchal, ao passo que o Chega foi o terceiro partido mais votado em sete concelhos.
Nestas eleições, e devido à eleição de um mandato por parte de partidos como PAN, Bloco de Esquerda, CDU e Iniciativa Liberal, a percentagem de votos em partidos sem representação baixou para mais de metade (de 8% para 3,2%).
O partido com mais votos e sem deputados foi o PTP, com 1%, mas a mais de mil votos de eleger um representante parlamentar.
A percentagem de votos e nulos aumentou ligeiramente em relação às últimas eleições (+0,4%), tal como a taxa de abstenção, que foi de 46,66%, um aumento de dois pontos percentuais em relação aos 44,5% das regionais de 2019.
Esta é a segunda maior taxa de abstenção na Madeira, depois dos 50,3% de abstenção em 2015.