06 jul, 2023 - 14:00 • Olímpia Mairos
- “Bom dia, Dona Isaura”.
- “Olá, bom dia. Como estão?”
- “Cá estamos, mais uma vez, a visitá-la, como é costume, para ver se está tudo bem. Como está a sua filhinha?”
Assim se inicia o diálogo entre os cabos da GNR Vasco Marques e Vítor Alves com Isaura, idosa de 73 anos que vive sozinha e isolada com a filha de 40 anos, doente psiquiátrica, numa aldeia do concelho de Chaves.
A conversa decorre de forma agradável. Nota-se que há uma grande relação de confiança e, por isso, os assuntos fluem com toda a naturalidade. Falam da saúde, dos cuidados de segurança, das carências económicas… Tudo sem pressa e como se não houvesse mais visitas a fazer.
“Já os conheço, são boas pessoas e a gente fica melhor, mais tranquila”, diz Isaura à Renascença, acrescentando que “são a única visita” que tem.
“Ao fim e ao cabo, aqui ninguém mais me vem visitar. De vez em quando vem aqui um, mas isso é indesejável, que é o meu marido. Já conheço [os militares da GNR] e gosto que passem por aqui.”
Isaura vive com uma pequena reforma e é com a GNR que partilha as suas dificuldades. E da GNR recebe, muitas vezes, respostas para satisfazer as suas carências.
“Está tudo muito caro, mas sobrevive-se. Não se pode comer melhor, come-se pior”, confidencia, referindo que da GNR recebe “de vez em quanto um cabaz de alimentos”. “Eles já fazem bastante. Fazem o que podem. É muito gratificante”, diz.
Nesta visita que a Renascença acompanhou, ficou já agendada uma entrega de alimentos com a colaboração de uma instituição da cidade.
Isaura agradece reconhecidamente e diz que “tudo o que vier é bom, é uma ajuda”, porque a medicação da filha “pesa muito” e o dinheiro não chega para tudo.
Também não chega para comprar uma televisão. A que tinha avariou e o conserto ficava mais caro do que comprar uma nova. Este será um dos presentes que vai receber nos próximos dias.
Num outro ponto da aldeia, Laura de Sousa, de 79 anos, vive sozinha e, por isso, diz-se confortada com a visita dos militares.
“Vêm-nos visitar”, diz por entre gargalhadas de alegria, considerando a presença dos militares “muito importante” e que “até deviam passar mais amiúde”.
O diálogo com os militares prossegue e Laura confidencia-lhes que o médico a queria enviar para hemodiálise, mas que rejeitou. E aqui entram os conselhos.
“Pense bem, porque isso causa-lhe sofrimento. Estamos a falar de coisas sérias como a saúde, que deve ser cuidada”, aconselha o cabo Vítor Alves.
Laura promete pensar no assunto e vai falando das suas maleitas: “Os rins só funcionam a 15%, tenho muitas dores nas pernas...” Os militares escutam atentamente e vão aconselhando esta idosa, sempre muito bem-disposta e a interagir com cada um.
Na despedida, com um aperto de mão, ficam ainda alguns conselhos ligados à questão da segurança, como “não abrir a porta a estranhos” ou “ligar para a GNR se precisar de alguma coisa”.
Também Emília, quase a completar 79 anos, recebe a visita da GNR. Vive sozinha e confessa-se um pouco descuidada em termos de segurança, referindo que abre “a porta a toda a gente”.
“Não pode confiar em toda a gente. Nem toda a gente vem com boas intenções. Às vezes as pessoas acham que toda a gente vem com boas intenções, falam com toda a gente, dão informações a mais e depois acontecem os problemas”, adverte o cabo Vítor Alves, realçando que “hoje ninguém vem dar nada a ninguém”.
Emília agradece os conselhos e promete ser mais cuidadosa. “Vou ter mais cuidado, sim”, diz, valorizando o trabalho de proximidade da GNR. “Fico-lhes obrigada por isto, pela visita e pelos bons conselhos, porque fazem sempre falta.”
À Renascença, o tenente Teixeira explica que a Guarda Nacional Republicana, “através das secções de prevenção criminal e policiamento comunitário, desenvolve a operação 'Idosos em Segurança' ao longo do ano todo, em que visita idosos que se encontram em situações de isolamento, que vivem sozinhos em locais ermos nas aldeias do distrito”.
Só no distrito de Vila Real, na última operação Censos Sénior, foram sinalizados mais de cinco mil idosos em situações de isolamento.
“É um dos distritos mais envelhecido do país. Temos bastantes idosos a viver em situações de isolamento. E nós aproveitamos esta operação para contactar com eles, para os visitar, para lhes dar alguns conselhos de segurança e cuidados a ter, que é para também se sentirem mais seguros”, explica o militar.
Questionado sobre se a época de férias deixa estas pessoas ainda mais vulneráveis, o tenente Teixeira refere que o Verão não é a altura mais crítica.
“Normalmente o Verão, aqui na nossa zona, é uma altura em que muitos emigrantes regressam às suas terras para passar as férias do mês de agosto e muitos dos idosos acabam por ter algum momento com algum familiar. O momento mais crítico ao longo do ano até acaba por ser o Inverno, que é mais frio, mais rigoroso, em que as populações se sentem mais isoladas.”