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Covid-19. Pandemia "agravou" necessidade de intervenção psicológica

04 set, 2021 - 08:30 • João Malheiro

O bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses alerta para a falta de psicólogos nos serviços de saúde, apesar da oferta de profissionais. À Renascença, Francisco Miranda Rodrigues admite a possibilidade de efeitos psicológicos da Covid-19 continuarem para lá da crise epidemiológica.

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A pandemia "agravou" a procura por tratamento psicológico, em Portugal, e não há psicólogos suficientes nos serviços de saúde para responder à necessidade.

O alerta é deixado pelo bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Francisco Miranda Rodrigues, em entrevista à Renascença, neste sábado em que se assinala o Dia do Psicólogo.

"A pandemia provocou, sobretudo, ansiedade e depressão. A própria doença em si deixa, numa percentagem considerável de pessoas infetadas, outro tipo de problemas, como stress pós-traumático", explica Francisco Miranda Rodrigues.

Sete em dez portugueses que estiveram em quarentena ou já recuperados da Covid-19 acusaram sofrimento psicológico e mais de metade apontou sintomas de depressão moderada a grave, segundo um estudo do Instituto Nacional Ricardo Jorge (INSA), de janeiro deste ano.

O bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses aponta que houve serviços que "durante um ano tiveram a atividade, praticamente, suspensa".

Já o serviço de aconselhamento psicológico da linha SNS24 ultrapassou os 100 mil atendimentos, neste último ano e meio.

E este é só um exemplo para o que Miranda Rodrigues descreve como "os enormes tempos de espera" que impedem as pessoas de receber a resposta clínica necessária.

O bastonário alerta que isto acontece, apesar de “haver 24.000 psicólogos no país”.

"O problema não é a falta de profissionais. Nós temos profissionais, só que não estão presentes nos serviços de saúde, nomeadamente os públicos, onde podem apoiar as pessoas. Há milhares de portugueses sem acesso a psicólogos", alerta.

Para Francisco Miranda Rodrigues, um dos primeiros passos para resolver este problema seria "uma contratação que duplicasse o número de psicólogos existentes nos centros de saúde".

Covid-19 continuará a ter impacto psicológico

O bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses alerta ainda, em entrevista à Renascença, que "os impactos psicológicos da pandemia vão continuar a sentir-se depois dos impactos físicos".

"Deve-se esperar impactos que vão perdurar durante muito tempo. Teremos que lidar com coisas como a evolução económica, como é que as empresas se vão adaptar a uma nova realidade", explica.

Miranda Rodrigues diz que "a recuperação psicológica das pessoas é essencial para a recuperação económica".

"Não é sustentável voltar a como as empresas abordavam o bem-estar no trabalho, antes da pandemia. Não vale a pena esconder o problema da saúde mental nos locais de trabalho, dos riscos psicossociais existentes e o bem-estar que tem de existir nas organizações para elas serem mais produtivas e competitivas", alerta.

Se as lideranças das empresas não se preocuparem mais com a saúde mental dos seus trabalhadores, continuará a haver muitos problemas por resolver, muito depois da pandemia ter terminado, segundo o Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Portugal é o quinto país da OCDE que mais compra antidepressivos

Entre janeiro e agosto de 2020, as farmácias venderam mais de 13 milhões de embalagens de antidepressivos e ansiolíticos, registando o valor mais elevado dos últimos três anos, segundo dados do Infarmed.

Miguel Ricou, presidente do Conselho de Psicologia Clínica da Ordem dos Psicólogos, alertou à Renascença, em janeiro, que "a tendência é que aumente”.

E Portugal é também o quinto país da OCDE que mais compra ansiolíticos e antidepressivos.

O bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses considera que esta "não é a resposta desejável".

"Há situações de doença que necessitam desta intervenção. A questão é que os níveis de consumo que nós temos indicam que estamos a prescrever mais do que seria desejável", avisa.

Francisco Miranda Rodrigues aponta que há uma falta de "respostas ao nível da intervenção psicológica" que garantam que as pessoas tenham um apoio que não sejam o medicamento.

E o bastonário rejeita, mais uma vez, que seja por falta de psicólogos especialistas na área da clínica e da saúde. "Existem cerca de cinco mil psicólogos nesta área, mas a grande maioria não está no SNS. O SNS tem apenas mil psicólogos, pouco mais."

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