10 ago, 2024 - 00:06 • João Pedro Quesado
A menos de três meses das eleições presidenciais nos Estados Unidos, Kamala Harris lidera as sondagens a nível nacional e colocou vários estados cruciais para chegar à Casa Branca em empate técnico. A candidata do Partido Democrata conseguiu desestabilizar uma eleição em que as sondagens pouco mexiam, e em que os democratas praticamente nunca as lideraram contra Donald Trump, candidato pela terceira vez.
Kamala Harris lidera agora por dois pontos nos mais importantes agregadores de sondagens, nomeadamente no “The New York Times”, “The Economist”, “FiveThirtyEight” e no “Silver Bulletin” (de Nate Silver, fundador do "FiveThirtyEight").
A aproximação nas sondagens começou a acontecer logo depois de Joe Biden desistir da recandidatura. O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) praticamente nunca esteve na liderança nas sondagens em todo o ano de 2024, registando apenas algumas décimas de vantagem nos dias antes do fatídico debate de 27 de junho.
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A substituição de Biden foi, aparentemente, o remédio certo para a maleita eleitoral do Partido Democrata – onde já havia candidatos ao Senado e Câmara dos Representantes a recusar aparecer junto ao Presidente em comícios para estancar as perdas eleitorais.
Desde 28 de julho, apenas uma sondagem à votação global nacional mostrou Trump a liderar. Todas as outras colocam Harris a liderar por pelo menos um ponto; uma, de umas das empresas de sondagens mais bem cotadas (a Marquette), coloca a democrata com seis pontos de vantagem.
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Uma sondagem da Ipsos publicada esta quinta-feira mostra Harris com cinco pontos de vantagem na votação nacional (42% para 37%). A mais recente sondagem da YouGov para a “The Economist” coloca Harris com dois pontos de vantagem.
A última sondagem realizada para o “The New York Times”, no final de julho, mostrava Kamala Harris a garantir uma percentagem de apoio entre eleitores democratas semelhante à de Trump entre republicanos: 93%. Isso deve-se, em parte, a um aumento de apoio em partes importantes do eleitorado, como as minorias latina e afro-americana.
Um fator no aumento do apoio será a avaliação positiva da vice-presidente dos EUA, tida por 46% dos inquiridos na mesma sondagem – algumas sondagens mais recentes já dão valores maiores, enquanto mostram a avaliação negativa a descer. A campanha focada em esperança e numa mensagem positiva - à semelhança de Barack Obama em 2008 -, parece estar a funcionar.
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Do outro lado está uma imagem de Donald Trump que já está consolidada e pouco se altera – apenas é reforçada. O polémico “Projeto 2025” ajuda os Democratas nessa tarefa: uma sondagem do final de julho apurou que 45% dos inquiridos que os planos do projeto são uma descrição “precisa” do que Trump defende. E o apoio ao projeto cai nove pontos entre os apoiantes de Trump e 17 pontos entre os republicanos em geral.
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Além disso, grande parte dos eleitores republicanos concorda que os comentários de J.D. Vance sobre mulheres sem filhos, assim como a dúvida levantada por Trump sobre a identidade racial de Kamala Harris, são estranhos (42% e 34%, respetivamente).
Apesar disso, não é o total de votos de cada candidato que decide a eleição presidencial, mas o Colégio Eleitoral – onde cada estado tem um número de votos eleitorais dependente da sua população. Há uma tentativa de acabar com este sistema eleitoral, mas ainda está longe de ser concretizada.
O desenho deste sistema eleitoral beneficia os republicanos, já que os votos eleitorais de cada estado correspondem à soma do número de deputados de cada estado na Câmara dos Representantes ao número de senadores, que são sempre dois por estado. A soma dos dois senadores reforça o poder dos muitos estados menos populosos, que tendem a votar no Partido Republicano, e tem um efeito insignificante nos estados maiores, onde os democratas tipicamente vencem (com a exceção do Texas e da Flórida).
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Isto significa que uma vantagem de dois pontos nas sondagens nacionais não assegura uma vitória aos democratas, e ainda assume que, em cerca de 20% das vezes, os republicanos podem vencer.
Segundo a avaliação do “The Cook Political Report", seis dos sete estados decisivos têm um resultado imprevisível, devido a diferenças muito reduzidas nas atuais sondagens entre Kamala Harris e Donald Trump.
Os estados com resultado imprevisível equivalem a 77 votos eleitorais. Enquanto os democratas têm do seu lado estados suficientes para chegar aos 226 votos, os Republicanos conseguem chegar aos 235.
Entre o Arizona, a Geórgia, o Michigan, o Nevada, a Pensilvânia e o Wisconsin, o mais provável é que seja a Pensilvânia a dar os votos eleitorais decisivos ao vencedor da eleição, devido a ter o maior número de votos do grupo de estados decisivos, mas também às sondagens e à demografia do estado.
Isso explica alguma da surpresa com a escolha de Tim Walz para candidato a vice-presidente por Kamala Harris, já que a outra possibilidade – e considerada a mais forte desde o início - era a escolha de Josh Shapiro, o governador da Pensilvânia, para beneficiar de qualquer possível ganho marginal na votação.
Tal como na “corrida” à Casa Branca, é importante (...)
Harris, que ainda vai beneficiar do tempo de antena dado pela convenção do Partido Democrata em Chicago, entre 19 e 22 de agosto, tem agora o desafio de manter o entusiasmo dos Democratas até 5 de novembro. O outro é convencer os indecisos a votar nela, à medida que reage a ataques da campanha de Trump e vai divulgando mais medidas que quer pôr em prática como Presidente.