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Guerra Israel-Hamas em números

Gaza. 2 milhões de palestinianos passam fome e 20 mil bebés nasceram em guerra

22 jan, 2024 - 17:06 • Salomé Esteves

Em entrevista ao Hora da Verdade, Jorge Moreira da Silva, representante da ONU, deu conta de alguns números do conflito na Faixa de Gaza. Passados mais de 100 dias de guerra, a Renascença volta a fazer as contas.

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O Ministério da Saúde Palestiniano comunicou às Nações Unidas a morte de mais de 25 mil pessoas, incluindo mil palestinianos mortos em solo israelita, e dá conta de mais de 60 mil feridos. Estes são os números mais recentes, à data da publicação da entrevista de Jorge Moreira da Silva, sub-secretário-geral das Nações Unidas, no programa Hora da Verdade, da Renascença e do Público,

A 19 de janeiro, o Observatório Euro-Med dos Direitos Humanos referia que o número total de mortos em território palestiniano pode já ultrapassar os 30 mil, incluindo mais de 12 mil crianças. Esta organização contabiliza pessoas presumivelmente mortas, como aquelas que poderão estar debaixo de escombros.

Do lado de Israel, o número de mortos comunicados pelas autoridades oficiais estabilizou a 9 de novembro, nos 1200 israelitas, depois de ter sido reduzido de 1400. Neste grupo incluem-se 36 crianças.

A grande maioria destes israelitas morreram a 7 de outubro. Já cidadãos palestinianos têm sido mortos todos os dias. Entre 19 e 21 de janeiro, o Ministério da Saúde reportou a morte de 343 pessoas.

O diretor-executivo do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos divulgou, durante o Hora da Verdade, alguns números recolhidos pelas Nações Unidas sobre a crise humanitária na Faixa de Gaza.

Jorge Moreira da Silva sublinhou que chegou a ver 500 camiões parados na fronteira com Gaza. Antes de 7 de outubro, este era o número de veículos de ajuda humanitária que diariamente entravam no território.

Entre 20 e 21 de janeiro, 325 camiões de alimentos, medicamentos e outros bens essenciais atravessaram as fronteiras de Rafah e de Kerem Shalom. Mas este número não tem sido constante ao longo dos mais de 100 dias de conflito. A fronteira de Kerem Shalom, entre Gaza e o Egito, assegurou, desde o início do conflito, a passagem de 22% dos camiões de ajuda humanitária, refere a atualização diária da ONU deste domingo.

Segundo a declaração de Jorge Moreira da Silva ao Hora da Verdade, os camiões de ajuda humanitária fazem cerca de 150 km pelo Egito, Israel e Gaza, apenas para fazer revistas obrigatórias, quando podiam fazer 50 km num percurso direto entre o Egito e a Faixa de Gaza.

A mesma atualização da ONU deste domingo refere que estavam planeadas 29 missões humanitárias para entrega de produtos essenciais no norte da Faixa de Gaza nas duas primeiras semanas de janeiro, mas que apenas sete dessas ações se realizaram. Às restantes 22 missões, nota o documento, “foi negado o acesso pelas autoridades israelitas”.

A 20 de janeiro, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas sublinhou que as pessoas na Faixa de Gaza “já não estão a morrer apenas devido a bombas e balas, mas também por falta de comida e água potável, hospitais sem energia e medicamentos, e jornadas extenuantes para territórios cada vez mais pequenos onde não há conflito”.

Neste momento, 55% da população está em situação de fome e 375 mil crianças estão em risco de subnutrição. Cada criança tem apenas um litro de água por litro de água, em vez dos necessário 15, reforçou Jorge Moreira da Silva.

A Organização Mundial de Saúde alerta para o risco premente de fome para toda a população da Faixa de Gaza e para a disseminação de doenças, exacerbadas pelas pobres condições de higiene e falta de cuidados de saúde. Já em dezembro, a Human Rights Watch tinha acusado o Governo de Israel de "utilizar a fome de civis como método de guerra" na Faixa de Gaza ocupada.

Segundo o mais recente relatório da IPC (Integrated Food Security and Nutrition Phase Classification), uma associação criada pela União Europeia, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá, quase toda a população de Gaza, perto de dois milhões de pessoas, estão em situação de crise, emergência ou catástrofe na escala de segurança alimentar.

Isto significa que quase todas as famílias saltam refeições todos os dias e que “quatro em cinco agregados familiares no Norte e metade das famílias deslocadas no Sul passam dias e noites inteiras sem comer”, revela o relatório realizado entre 24 de novembro e 7 de dezembro de 2023 e com projeções até fevereiro de 2024.

Uma situação de fome extrema é particularmente grave para crianças pequenas, mulheres grávidas ou a amamentar e idosos, sublinha a associação.

Permanecem em Gaza cerca de 335 mil crianças com menos de 5 anos de idade, segundo a UNICEF, que estão particularmente vulneráveis a doenças contagiosas como varicela, diarreia crónica e infeções respiratórias.

Moreira da Silva lembrou ainda que, neste momento, há em Gaza uma casa de banho para cada 400 pessoas e um chuveiro para cada 1850 pessoas. Apenas uma das três fontes de água vindas de Israel está em funcionamento, indicam dados da ONU.

Apenas 16 dos 36 hospitais na Faixa de Gaza estão em funcionamento. Destes, nove localizam-se no Sul e seis, no Norte, para onde os acessos estão condicionados.

Os 16 hospitais, mesmo os que estão a funcionar parcialmente, estão a trabalhar em excesso de capacidade, em particular nas unidades de cuidados intensivos que, segundo a ONU, chegam a ter 250% da sua taxa de ocupação. É a Sul que se sente mais pressão, depois de 75% da população se ter deslocado internamente e recorrer, agora, aos serviços de saúde da região.

Tess Ingram, representante da UNICEF, denota que a organização recebeu relatos “particularmente no Norte, de mães que tiveram de fazer cesarianas sem anestesia”. A UNICEF estima que quase 20 mil bebés nasceram na Faixa de Gaza entre 7 de outubro e meados de janeiro.

Ingram acrescenta que a grande maioria dos recém-nascidos vive as primeiras semanas em abrigos temporários sujeitos a condições insuficientes para garantir o seu crescimento saudável.

Nas suas atualizações diárias, a Organização das Nações Unidas sublinha que, desde 7 de outubro, ainda não foi possível às suas equipas recolherem dados independentes e que todos os dados divulgados provêm do Ministérios da Saúde palestiniano e das autoridades israelitas.

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