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Entrevista a Luís Araújo

Turismo de Portugal: Qualidade, diversidade e Ronaldo atraem cada vez mais turistas endinheirados

26 fev, 2023 - 22:22 • Ana Carrilho

Presidente do Turismo de Portugal reconhece o peso da TAP no sucesso do turismo nacional e alerta que a companhia aérea precisa de estabilidade.

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A qualidade dos produtos, a diversidade e receber bem atraem cada vez mais a Portugal turistas de mercados de alto rendimento, diz o presidente do Turismo de Portugal (TP), Luís Araújo, em entrevista à Renascença.

2022 foi um ano turístico bom, as perspetivas para 2023 são as melhore, mas é preciso contar com o fator incerteza, relacionada co a guerra na Ucrânia, alerta Luís Araújo.

A procura pelo destino Portugal é cada vez maior. O primeiro mercado emissor estrangeiro continua a ser o europeu, mas os americanos e canadianos rendem-se ao país diverso, com produtos de qualidade e que recebe bem. Isso nota-se na receita turística. Mas a busca continua por outros mercados de alto rendimento. México, Colômbia, Austrália, Coreia do Sul e China estão na lista do Turismo de Portugal, revela o presidente do Turismo de Portugal.

O responsável sublinha a importância do turismo para o país e dos mercados de longa distância. O interesse das companhias aéreas é grande e o TP “fala com todas porque é preciso garantir a c0nectividade aérea”. Luís Araújo reconhece o peso da TAP no sucesso do turismo nacional e alerta que a companhia aérea precisa de estabilidade. Quanto ao novo aeroporto, enquanto não há decisão, o remédio é trabalhar com o que há: ou seja, Lisboa e os outros quatro do país, para onde tenta que as companhias de aviação voem.

Quanto à falta de mão de obra, Luís Araújo defende que é preciso uma solução de longo prazo, com atratividade para o setor, formação dos portugueses que já trabalham no turismo e dos imigrantes, que têm de prestar serviço com o mesmo nível.

Recados do presidente do Turismo de Portugal, a poucos dias do início da maior feira internacional de turismo realizada do país, a BTL. Decorre na FIL do Parque das Nações, de 1 a 5 de março.

Tivemos um ano turístico de 2022 muito bom para todo o país, com destaque para algumas regiões. E para 2023, quais são as expetativas?

São muito boas, há muito interesse sobre Portugal. Portanto, acredito que havendo interesse dos mercados e dos consumidores, conectividade e capacidade de prestar uma boa experiência a quem nos visita – o que temos conseguido - 2023 também vai ser um ano positivo.

Com um novo recorde?

Sim, eu acho que vamos continuar a crescer. Aliás, o nosso objetivo é continuar a crescer para atingir os 27 mil milhões de euros de receita turística em 2027 e estamos a acelerar para esse objetivo. As previsões do Banco Portugal são positivas, muito alavancadas também no turismo, mais de 8% para este ano. O mesmo acontece com as previsões da European Travel Commission, com crescimento de 9-10%. Tudo indica que vai ser um ano positivo, mas obviamente, há muita incerteza.

E muita dessa incerteza tem a ver com a guerra, que começou há um ano. Do ponto de vista do turismo, acabou por ser positivo para Portugal, visto como um destino seguro e longínquo do conflito. Parte do crescimento tem a ver com isso?

Sim e não. Digo não, primeiro porque grande parte dos mercados que vêm para Portugal não são daquela região. O mercado russo, bielorusso, ucraniano, representava 0,2% do total de turistas para Portugal antes da guerra.

Lançámos uma campanha em novembro, em Times Square, com o Ronaldo. Esse momento foi visto por quase 20% da população mundial

Mas antes da guerra havia quem escolhesse destinos mais próximos daquela região da Europa para fazer férias.

Mas mesmo aqueles mercados cresceram. A Grécia cresceu, a Turquia cresceu e até a Polónia – que faz fronteira com a Ucrânia – não cresceu, mas curiosamente, teve um resultado melhor do que esperava.

A incerteza e a insegurança que provoca do ponto de vista de segurança física, mas também segurança económica e financeira geram uma retração na procura e sentimos isso nos primeiros meses da guerra, a questão é essa. Sentimos é que continuamos com capacidade de atração, estamos a atrair mercados que não eram para aquela região e a conseguir diversificação.

A guerra nunca é positiva para ninguém, como é óbvio, mas nós conseguimos posicionar o país de uma maneira - mesmo durante a Covid - que nos permite alavancar mais a imagem de Portugal como um destino exclusivo, com segurança, em que se pode viajar com uma boa qualidade/preço. E que está a conseguir manter esta linha de pensamento e esta linha de atratividade dentro dos mercados.

E é dessa forma que define o destino Portugal?

Bom, eu defino com um bocadinho mais de "storytelling", mas aquilo que estamos a fazer junto dos mercados, principalmente dos que não eram tão tradicionais, é que Portugal tem produtos de qualidade e está preparado para receber bem qualquer pessoa, venha de onde vier e com respeito pelas diferenças.

Por exemplo, os Estados Unidos, que estão no top cinco de mercados para Portugal e é o primeiro mercado para Lisboa, é um mercado de longa distância. Conseguimos reduzir a dependência dos mercados europeus e criar esta ligação com os Estados Unidos, que é um mercado muito diverso. Um turista de Nova Iorque não é igual a um turista de Washington ou de São Francisco, mas estamos a conseguir ganhar espaço e a conquistar estes mercados.

Lançámos uma campanha em novembro, em Times Square, com o Ronaldo. Esse momento foi visto por quase 20% da população mundial. Estamos em 1,8 mil milhões de pessoas que foram impactadas com aquela ação. Mas a campanha em si - "Close to US" - já atingiu mais de 50 milhões de pessoas. E é uma campanha que mostra, obviamente, um Portugal diverso. E esta mensagem está a passar muito bem no mercado americano. Portanto, como é que se vê no destino Portugal? Depende, obviamente, de cada mercado e depende do interlocutor que temos à frente.

Já falou na importância da conetividade aérea e há uma negociação constante. Como é a manifestação de interesses? Mais de Portugal ou das companhias aéreas, devido à notoriedade que o país ganhou?

Nós temos uma comunicação permanente com as companhias aéreas e, principalmente durante a pandemia, o nosso foco foi manter esta ligação com aquelas que já viajavam para Portugal, tentando retomar os números de 2019, reforçar algumas rotas, tentar que o façam para os cinco aeroportos nacionais e, finalmente, despertar a curiosidade de outras companhias internacionais.

Fazemos um acompanhamento muito próximo, em conjunto com a ANA - Aeroportos, cada região de turismo onde exista um aeroporto, portanto, é sempre um acompanhamento, digamos, tripartido. O que é que nasce primeiro? A curiosidade ou o nosso incentivo? Diria que é recíproco.

Aquilo que fazemos sempre é, a partir do momento em que existe uma rota ou que existe uma ligação, a nossa atenção para esse mercado multiplica-se e nós apostamos com campanhas. A grande vantagem do digital é que nós conseguimos acionar, desviar ou canalizar as campanhas para onde queremos e para as pessoas e os segmentos que queremos. Tudo isso é feito em conjunto, pelo Turismo de Portugal e estes parceiros.

Uma das companhias que obviamente é aqui bastante importante para trazer turistas para Portugal é a TAP, nomeadamente nas rotas de longa distância. Mas é uma companhia que neste momento está a passar por um período de grande polémica e tudo indica que vai ser reprivatizada. Que implicações é que isto tem para o turismo nacional?

Para nós, todas as companhias são importantes. A partir do momento em que temos cinco aeroportos, que dependemos em dois terços do turismo internacional e 90% desses dois terços chegam por via aérea, se não trabalhássemos com todas as companhias, não estaríamos a fazer o nosso trabalho como deve ser.

A TAP tem um peso reforçado e importantíssimo pela dimensão que tem para o país, pela quantidade de turistas que traz e pelas ligações que nos permite ter também com outros mercados. Portanto, é importante esta componente da estabilidade e do bom trabalho da TAP. É essencial percebermos isto. Aliás, nós temos trabalhado com a TAP e agora lançámos em conjunto um novo programa "Stopover" para fazer com que as pessoas que vêm, principalmente mercado de longa distância, fiquem mais tempo em Portugal, com condições mais vantajosas e que tenham uma oferta também exclusiva nesse sentido. E trabalhamos para uma série de rotas em campanhas conjuntas para esses mercados.

Portanto, eu diria que o sucesso da TAP é o sucesso também de Portugal enquanto destino turístico. E isto é uma condição que não se separa.

E em relação à privatização? Acha que pode haver risco para o hub de Lisboa, conforme o grupo que ficar com a maioria do capital?

O destino Portugal é importante e é importante definirmos isso. Tanto que, este verão, praticamente todas as companhias aéreas estão a reforçar a sua atividade para o nosso país. Há interesse e curiosidade, mesmo das companhias que ainda viajam, mas querem voar para Portugal.

Acho que o caminho que fizemos até agora está a dar frutos e isso também é importante para qualquer companhia aérea, venha de onde vier ou interprete cio interpretar o modelo de negócio futuro da TAP.

O que está a dizer é que seja qual for o grupo que entre no capital da TAP, não tem interesse em abdicar do hub de Lisboa?

Aquilo que eu quero é que, obviamente, se continue a dar esta visibilidade e esta capacidade de ligação e de conectividade com Portugal. E quando digo Portugal, digo os cinco aeroportos internacionais que temos e que trabalham efetivamente com o mercado internacional. Isso para nós é a maior preocupação e, obviamente, vamos trabalhar com qualquer companhia aérea, venha de onde vier.

Continuamos sem decisão sobre o novo aeroporto, o da Portela está cada vez mais congestionado e as obras ainda não começaram. Receia algumas situações como as que vimos o ano passado, com longas filas e horas de espera?

Todos nós esperamos que não aconteçam aquelas situações que, aliás, não foram só em Portugal, aconteceram por toda a Europa. Não estávamos preparados para uma retoma tão rápida depois da Covid e houve que fazer alguns ajustes.

Um aeroporto novo é importante para conseguirmos crescer, não só em Lisboa, mas em todo o país porque o Aeroporto de Lisboa distribui para todo o território. O que é essencial é trabalharmos com o que temos, enquanto não há uma decisão sobre onde vai ser e quando vamos ter um novo aeroporto.

Tem havido inúmeras ações por parte da ANA - Aeroportos para melhorar a eficiência dos circuitos internamente, a comunicação, para melhorar também, a forma como as pessoas de países não Schengen entram no país. Tudo isto funciona muito bem no plano concetual, das ideias ou das vontades, precisamos é que esteja no terreno. Acredito que está porque um insucesso numa situação destas não é só do destino: também do aeroporto, da empresa que gere o aeroporto, das companhias aéreas e de todos. Portanto, todos temos de estar envolvidos, entidades públicas e privadas. Vamos fazer tudo para que não existam situações como as do ano passado. Mas pode haver sempre imprevistos.


Até porque vamos ter grandes eventos. O maior de todos é a Jornada Mundial da Juventude, na primeira semana de agosto, com a visita do Papa Francisco. Estamos preparados, a todos os níveis, para receber mais de um milhão de jovens?

Em eventos anteriores, obviamente não com esta dimensão, já demos provas de que conseguimos receber. Aliás, estamos no “top 10” do ranking do ICCA [Associação Internacional de Congressos e Convenções] a nível de país e Lisboa é número um ou dois entre as cidades europeias. Isto é importante numa ótica de captação, até de outro tipo de eventos.

O Turismo Portugal participa no grupo de trabalho do Governo relacionado com a Jornada Mundial da Juventude, não numa ótica de logística, mais de comunicação. Do ponto de vista logístico, o número é de facto desafiante para qualquer cidade, mas estamos todos a trabalhar para que estejamos preparados.

Há aqui um grande investimento, sobretudo para os próximos anos.

Sem dúvida, é isso que temos de perceber. Isto não é só um grande evento; isto é um grande evento que traz uma população que certamente são os turistas do futuro e que não vão esquecer esta experiência de estar em Portugal em 2023. E que, se calhar, vão querer mostrar isso às suas famílias em 2043 ou em 2053. É um investimento para o futuro.

Obviamente, temos aqui outros atributos. O facto de mostrarmos Portugal como grande organizador de eventos, de mostrarmos Portugal como país aberto ao mundo - mais uma vez que recebe e respeita as diferenças - de mostrarmos Portugal como país espiritual que tem um património religioso vastíssimo e rico em todo o país -da nossa herança católica, judaica, etc. – que pode ser visitado. Aliás, é um dos segmentos em que temos apostado nos últimos anos.

A TAP tem um peso reforçado e importantíssimo pela dimensão que tem para o país, pela quantidade de turistas que traz e pelas ligações que nos permite ter também com outros mercados

Já falou na importância dos eventos internacionais. Há um grande investimento na captação desses eventos, de filmagens, etc... para dar a conhecer Portugal na sua diversidade?

Sim, através das delegações internacionais mostramos Portugal como país diverso e que está disponível para acolher eventos. Não só os de grande dimensão, como a Jornada, mas até eventos pequenos: casamentos, festas de comemoração, encontros de empresas, viagens de incentivo para colaboradores.

Em breve vai ser lançado o "Portugal Events", o nosso programa de apoio a eventos que tenham obviamente uma componente de comunicação internacional e que posicionem o país num patamar mais elevado, em determinadas áreas.

Existe também a componente das filmagens, que é uma área importantíssima para mostrar o país de uma maneira diferente e temos trabalhado com o Fundo de Apoio ao Turismo e Cinema. Muitas vezes são as próprias produtoras internacionais que nos dizem que querem filmar em Portugal e precisam de saber como é que as podemos ajudar, que tipo de lugares aqui existem. E nós colaboramos, em conjunto com o ICCA e com a Portugal Film Commission. É um potencial que temos vindo a trabalhar nos últimos anos.

Há dias o Governo apresentou o programa "Mais Habitação", que tem diversas medidas que põem em causa a atividade do alojamento local, pelo menos como existe. Sendo que esta modalidade já tem um peso significativo na oferta total de alojamento, mesmo que haja alterações, que impacto é que podem ter para a atividade e para o turismo?

Bom, este é um trabalho que está a ser feito a nível governamental. O que dizemos é que o alojamento local é uma atividade turística que está consagrada legalmente, na qual muitas pessoas investiram, que tem um contributo importante para o país, até em regiões que de outra forma não teriam qualquer tipo de alojamento, que dá um contributo enorme do ponto de vista de reabilitação de património e de visitação das nossas cidades, que serve para muitas famílias e micro e pequenos empresários desenvolverem também a sua atividade e terem o seu próprio negócio. Essas são certezas que acho que todos temos e reconhecemos ao Alojamento Local.

Agora, como disse o secretário de Estado do Turismo, acredito que as medidas que vão ser apresentadas tenham em consideração esta importância, mas também uma necessidade que o país tem de habitação. Tem de existir equilíbrio. Nós também estamos a dar apoio ao nosso secretário de Estado e acredito que as soluções serão as mais equilibradas e melhores para o país.

Como é que vai ser a presença do Turismo de Portugal na BTL, a maior feira de turismo português?

Intensa. Temos um conjunto de iniciativas e de atividades naquela que é a maior feira a nível nacional. É uma oportunidade receber muitos dos nossos parceiros e estamos envolvidos num conjunto de iniciativas.

Para já, no dia 28 de fevereiro vamos organizar uma conferência pré-BTL, precisamente para falar de futuro, muito focada na internacionalização das empresas, nos segmentos de aposta para o futuro, muito focada na imagem de Portugal que nós temos de transmitir.

Depois, para o dia 2 de março, estamos a organizar uma conferência sobre sustentabilidade dentro da BTL, muito focada na componente social. Porque quando falamos de sustentabilidade, saltamos sempre para o planeta e acho que temos de trabalhar o social, até nesta componente da habitação.

Estamos também a participar no programa de hosted buyers (compradores convidados), vamos receber mais de 100 agentes de viagem e operadores internacionais, tê-los em Lisboa e fazer viagens com eles pelo país.

O NEST (Centro de Inovação do Turismo) vai estar presente com uma série de apresentações de startups dentro da BTL. Vamos ter uma ligação muito grande com um conjunto de iniciativas, desde a poupança de água até às praias mais acessíveis. Portanto, acho que vai ser uma Feira muito positiva, para partilhar o sucesso de 2022, mas principalmente, para preparar o caminho de futuro que queremos para 2023.

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