26 set, 2022 - 20:38 • Ana Carrilho
A secretária de Estado do Turismo considera que 2022 será “um ano positivo" para o setor.
"A nossa esperança concretizou-se. Arrancámos com o objetivo de alcançar receitas mais ou menos iguais às de 2019 (mais de 18 mil milhões de euros) e nesta altura acreditamos que vão ser superiores em cerca de 4-5 %; vão andar pelos 20 mil milhões de euros”, disse Rita Marques, em declarações à Renascença.
Mas a situação mudou: há uma guerra na Europa que nunca mais termina, a inflação continua a subir, os custos também e as famílias veem o poder de compra reduzido. Viajar, para muitos, deixará de estar na lista de prioridades.
“Estamos atentos, muito atentos àquilo que nos reserva 2023”, garante Rita Marques, embora sublinhando que “Portugal é uma marca turística forte, altamente competitiva e que, certamente, vai continuar a vingar”.
Essa é uma das razões que leva o Turismo de Portugal a intensificar a promoção em mercados de maior rendimento e longínquos, como o Brasil, Estados Unidos e Ásia.
“Apesar destas limitações, acredito que voltará a ser um ano bom para o turismo. E estes mercados, em que os turistas fazem férias fora da nossa época alta, ajudam a reduzir a sazonalidade”, refere a secretária de Estado
Congressos, conferências, grandes eventos desportivos, musicais e outros, como produções cinematográficas. Portugal está na moda e a procura é muito grande. Para a captação de eventos, o Turismo de Portugal tem 5 milhões de euros por ano e o Fundo de Apoio ao Turismo de Cinema, no valor de 14 milhões de euros.
“Recursos que se têm revelado insuficientes porque estamos quase a ser vítimas do nosso próprio sucesso. Começámos devagarinho em 2019 e depois da pandemia, Portugal tornou-se um destino por excelência para filmagens, com grandes produções”, admite Rita Marques.
Para 2023, segundo a Secretária de Estado, as perspetivas são muito boas e “este apetite” tem sido acompanhado com linhas de financiamento que facilitam o investimento e podem fazer atingir os objetivos definidos na Estratégia Turismo 2027: 27 mil milhões de euros de receita turística e combater a sazonalidade.
“A nossa sazonalidade é de 36-37%, a mais baixa da Europa do Sul”, o que "quer dizer que julho, agosto e setembro continuam a ser os meses mais importantes, mas são cada vez menos, face aos fluxos turísticos que identificamos nos outros meses”.
Para Rita Marques, a sazonalidade combate-se de várias formas mas, especialmente, de duas: por um lado, com a atração de turistas de mercados emissores que funcionam em contraciclo. “Daí a importância dos Estados Unidos e Brasil, que fazem férias em fevereiro/março ou em novembro/dezembro. Por outro lado, com os produtos turísticos. É o caso do golfe, cuja época decorre de outubro a maio, ou seja, fora da época alta”.
A responsável pela pasta do Turismo não tem dúvidas de que as empresas vão levar alguns anos a recuperar a situação económico-financeira depois de dois anos de pandemia em que o setor esteve praticamente parado.
“Está a ser um bom ano, mas as empresas vão precisar de tempo para recuperar da situação frágil depois da pandemia. Por outro lado, se as receitas têm crescido, os custos também, nomeadamente com os recursos humanos, respondendo à lei da oferta e da procura. Apesar de repercutirem esses custos nos preços, as margens são muito curtas e isso é preocupante porque o turismo é o motor da economia”.
Esta situação, pode retardar a retoma. “Portanto, estamos sempre preparados para lançar linhas específicas de apoio, sendo que já temos o Reativar o Turismo. Mas, mais do reinventar novas linhas, a prioridade deve ser a utilização deste Programa”.
À espera de publicação da Resolução do Conselho de Ministros que inclui diversos apoios aos empresários atingidos pelos grandes incêndios, nomeadamente na Serra da Estrela. Entre eles, uma linha de microcrédito de 3 milhões de euros gerida pelo Turismo de Portugal, sem qualquer intervenção da Banca.
Faltam cerca de 45-50 mil trabalhadores no setor do turismo. O problema já existia antes da pandemia e agravou-se depois. Admitindo que a resolução plena é difícil porque o problema não é apenas português, o governo aprovou legislação que facilita a entrada e concessão de vistos de imigrantes.
Há um contacto privilegiado com os países da CPLP – Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Segundo a Secretária de Estado Rita Marques, seis dos nove membros já ratificaram o Acordo de Mobilidade.
A maior aproximação está a ser feita a Cabo Verde, onde daqui a um mês, se desloca uma missão empresarial com o objetivo de fazer recrutamento de trabalhadores. Missão que inclui também elementos do Instituto de Emprego e Formação Profissional dos serviços consulares, para agilizar a atribuição de vistos.
Rita Marques frisa que há uma preocupação de trazer os imigrantes, mas também de lhes providenciar meios para a sua formação, de forma a garantir a excelência do serviço que caracteriza o turismo português.
Sem esquecer as condições de vida condigna, associadas à saúde, segurança social e habitação. A Secretária de Estado refere que no setor do turismo há vários empresários que já incluem o alojamento nessas condições. E especialmente em novos empreendimentos turísticos já há uma parte edificada destinada aos trabalhadores, até porque muitos destes empreendimentos estão fora dos centros urbanos e sem transportes acessíveis.
“Estou convicta que estamos a caminhar para uma solução numa solução que trará mais tranquilidade, mas que não resolverá todos os problemas que temos, provavelmente precisaremos de outros acordos”.
É nesse sentido que Portugal está em conversações com outros dez países (para além dos nove da CPLP): India, Nepal, Bangladesh, Marrocos, Tunísia, Filipinas, Tailândia, Moldávia, Geórgia e Uzbequistão.
Há muito que o novo aeroporto de Lisboa devia estar decidido, mas enquanto isso não acontece, a Secretária de Estado do Turismo defende que é necessário trabalhar com as outras infraestruturas aeroportuárias.
“Temos capacidade de resposta a Norte (o aeroporto Sá Carneiro tem capacidade de expansão), a sul, em Faro e nas regiões autónomas. “Desde há meses, mesmo anos, diz Rita Marques, que face às limitações da Portela, trabalhamos com os outros aeroportos porque sabemos como a interconectividade aérea é importante: 85% dos turistas chegam a Portugal por via aérea. É a solução possível”.