Entrevista ao presidente da Casa da Moeda

Passaporte imunitário para doentes de Covid-19 é "contraproducente"

15 mai, 2020 - 07:17 • Luís Aresta

"O ser humano é avesso ao risco e vai sentir-se muito confortável por ter em seu poder algo que diga que não está contaminado", observa Gonçalo Caseiro. Acresce a este fator a questão da proteção de dados. Nesta entrevista à Renascença, ficará a conhecer a nova grande aposta da INCM: o "Unicode", um selo não copiável desenvolvido pela Universidade de Coimbra. Em relação às contrastarias, o seu encerramento, durante o confinamento, era inevitável.

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Gonçalo Caseiro, licenciado em Engenharia Informática e Computadores, dirige há três anos a Imprensa Nacional Casa da Moeda (INMC), sociedade de capitais públicos que há muito deixou de ser uma simples fábrica de cunhagem de moedas e de impressão de documentos do Estado.

Hoje, a Imprensa Nacional Casa da Moeda, SA lidera alguns dos projetos mais inovadores à escala mundial, nas áreas da identificação de pessoas e da proteção de marcas. Em entrevista à Renascença, o Presidente do Conselho de Administração da INMC, revela os principais projetos em curso, dos seus "robots" e da segurança dos cidadãos.

Gonçalo Caseiro explica também por que motivo privou as ourivesarias do serviço de contrastaria durante o estado de emergência e revela que o Diário da República está a ser produzido em casa, em regime de teletrabalho.

Neste momento perturbador que vivemos, cujo termo se mantém incerto, como pode a INCM contribuir para a segurança e para facilitar a vida dos portugueses o seu dia-a-dia?

A INCM tem na sua missão produzir inúmeros documentos de identificação, como o cartão de cidadão, cartas de condução, passaportes, mas também certificar alguns bens quer para garantir a cobrança de impostos quer para proteger as marcas. São exemplo os selos sobre os maços de tabaco ou bebidas.

Mas também fazemos proteção de marca do queijo da serra, de alguns vinhos, equipamento desportivo dos clubes (merchandising). Portanto, já há algum tempo que nos centramos nessa capacidade de dar segurança, por exemplo, a quem está a comprar à distância.

Diria que com o advento do comércio "online" temos aqui uma grande oportunidade para que quem compra um determinado bem, com uma determinada marca, receba na sua casa o bem que efetivamente comprou e que, na logística intermédia, não houve nenhum dissabor.

Temo-nos concentrado em melhorar e inovar serviços que possam dar essa garantia. Uma das principais inovações, que é aliás uma patente mundial nossa, foi um projeto de investigação da Universidade de Coimbra, financiado por nós, a que demos o nome de "Unicode".

Trata-se de um selo que não é copiável, mesmo com a melhor fotografia digital, porque é acompanhado de um holograma com imagens escondidas e um reflexo próprio à luz. Qualquer consumidor, com um simples telemóvel de gama média, ao aproximar do produto em causa, consegue verificar se o selo é seguro ou não.

O novo selo no tabaco foi o nosso primeiro teste industrial, antes de irmos para o mercado com operadores privados. Vai ser agora aplicado num clube de futebol e numa marca de vinhos de gama alta.

Este é um contributo que tem a nossa assinatura. Aproximamo-nos muito das universidades, que nos estão a ajudar a lançar produtos completamente inovadores.

No projeto desenvolvido com a Universidade de Coimbra, para a impressão da face em 3D de cartões de identificação, que desenvolvimentos existem?

Esse projeto, para além da impressão da face em 3D, visa criar um algoritmo de reconhecimento facial. Que eu saiba não há nada deste género certificado em Portugal e o nosso objetivo é certificar esse algoritmo.

Começámos por um projeto de impressão da face em 3D para ganharmos conhecimento e esse projeto está a evoluir para o reconhecimento facial.

O objetivo é conseguirmos, através do telemóvel, reconhecermos a pessoa e permitir operações seguras, fazendo isto com um algoritmo desenhado em Portugal, por uma universidade portuguesa. Isto poderá, por exemplo, permitir operações bancárias ou de compra e venda muito mais seguras.

É preciso perceber que o mercado de algoritmos de reconhecimento facial ainda não é estável, sem entidades certificadoras ou entidades certificadoras não reconhecidas. É, portanto, algo de muito relevante.

Não deixaremos de olhar para a nossa impressão digital, mas o reconhecimento facial será cada vez mais relevante. É uma boa notícia que uma empresa pública portuguesa esteja a colaborar com uma universidade portuguesa, para garantirmos o nosso próprio algoritmo e diria que estamos a um ano de ter esta inovação disponível.

Face ao crescente receio de contágios, pode revelar-se útil o projeto desenvolvido com várias instituições de ensino superior de Lisboa para diminuir o risco de colonização por bactérias nas moedas metálicas.

Esse estudo foi feito e oferecido à comunidade. Libertámos todo e qualquer direito de propriedade intelectual sobre esse estudo que, como fabricantes de moedas enviámos a outros fabricantes e partilhámos com a comunidade académica.

Este projeto pretendeu, em laboratório, na fase de desenho e projeção de como a moeda será a três dimensões, perceber como se vai comportar uma bactéria nas superfícies da moeda, gerando um algoritmo capaz de fazer os cálculos para as melhores curvaturas. Com isso, o próprio artista e as pessoas que estão a pensar a cunhagem, conseguem melhorar os desenhos e as curvas da moeda para que a bactéria se aloje menos.

Hoje em dia posso afirmar que qualquer moeda que esteja no seu bolso tem menos possibilidade de conter uma bactéria ou um vírus, do que o seu telemóvel ou um cartão Multibanco que tenha acabado de usar.

As moedas são seguras, como ainda recentemente foi referido por um banco alemão. Uma moeda aloja uma bactéria ou um vírus menos tempo do que outros materiais que usamos com mais frequência.

Já que entrámos neste campo, gostaria de saber se poderemos, a curto prazo, ter novos tipos de moedas, em que os artistas estejam já a trabalhar.

Não, que eu saiba, não. A moeda está estável e só tenho estimativa de produção de moedas com o atual "design" . E estamos a fazer cunhagem de moedas neste momento. Elas são renovadas de tempos a tempos.

As moedas têm uma vida muito longa, ao contrário da nota, mas circulam por toda a Europa e os países têm que manter um "stock" de moedas. Nós não somos responsáveis pelas decisões; somos uma fábrica, obedecemos às estimativas e à procura gerida pelo Banco de Portugal e o Banco Central Europeu.

Mas gostava ainda de lhe dizer algo sobre as questões de inovação, que me parece muito relevante. Pensamos muitas vezes – académicos, políticos e empresários – que não há uma suficiente ligação entre a academia e as empresas, apesar de haver uma boa investigação em Portugal e boas universidades; a investigação livre a aberta parece nunca se concretizar para ajudar as empresas.

O que fizemos na INCM foi mostrar que isso era perfeitamente possível, que deve ser o normal. Temos várias regras quando financiamos projetos das universidades.

Deixamos sempre a propriedade intelectual nas universidades para que seja possível, uma dia mais tarde, os próprios investigadores criarem uma "startup", descobrirem outro uso que não estávamos a ver inicialmente para aquela matéria investigada.

O financiamento destes projetos permite aos doutorados continuar a trabalhar na universidade em vez de, por exemplo, irem para o estrangeiro, o que significa que os cérebros continuam a produzir conhecimento em Portugal. Não temos petróleo, mas temos grandes cérebros que nos têm permitido conseguir invenções extraordinárias .

E temos um prémio, que é o maior em Portugal nesta área e que rivaliza com qualquer prémio europeu, que é de um milhão de euros para a inovação, recompensando ideias inovadoras para os produtos e serviços que a INCM presta já hoje ou pode vir a prestar no futuro, que tenham a ver com a sua cultura, com o seu DNA.

Isto é um exemplo extraordinário de aproximação às universidades, transformando a investigação livre em investigação aplicada. Se nenhuma empresa consegue perceber o que está a ser feito nas universidades, há que criar mecanismos para as universidades se aproximarem das empresas e com isso transformar a investigação livre em investigação aplicada e o exemplo da INCM é exemplar na aproximação entre academia e empresas.

De todos estes projetos em que a INCM está envolvida, há algum que lhe mereça especial atenção?

O projeto "Unicode", o tal selo não copiável é muito relevante. Mas temos um outro projeto, pouco visível para quem não está dentro da INCM, que é um projeto de " robótica 4.0"; trata-se de " robots" com inteligência artificial, que decidem o que vão fazer, observando os humanos e as máquinas, e poderem ajudar em todo o processo de logística dentro da fábrica.

E destacaria ainda o projeto "papel secreto", liderado pela professora Elvira Fortunato, que visa construir capacidade de processamento utilizando apenas a energia do próprio papel, o que é absolutamente revolucionário.

É um projeto a mais longo prazo e se chegar a bom porto, sendo passível de ser industrializado, significa, por exemplo, que um pacote de leite possa mudar a cor do papel se o conteúdo estiver estragado. É a capacidade de ter sensores no papel para recolher a informação e dar um sinal ao consumidor de aquele produto já não está bom .

Outra aplicação poderá ser no papel de parede, com capacidade para medir a temperatura de um compartimento e a fazer alguma coisa com esses dados. Acho que é um projeto extraordinário.

Com o surgimento do novo coronavírus, tem-se falado muito no passaporte imunitário, para se perceber se somos imunes a determinadas doenças, ou mesmo se, em deslocações ao estrangeiro, somos turistas seguros do ponto de vista sanitário. Tudo isto mexe com a privacidade de cada um de nós. Vamos chegar ao dia em que o passaporte imunitário fará parte do passaporte eletrónico?

Antes de irmos à questão dos dados pessoais, devo dizer que tenho sempre muito receio deste tipo de medidas que por vezes são até contraproducentes. O ser humano é avesso ao risco e vai sentir-se muito confortável por ter em seu poder algo que diga que não está contaminado.

A verdade é que pode estar contaminado já depois de ter esse documento, seja ele uma "app" num telemóvel ou o que for. Portanto, vai ter um comportamento como se estivesse tudo bem, com menos cuidados.

Temos de olhar para essas medidas e perceber se elas não vão ser contraproducentes para o efeito do comportamento que todos nós temos. Acho que talvez não seja a melhor forma de abordar a questão.

E para além disso há a questão dos dados pessoais.

Que é ainda mais relevante. Sabemos e temos dados sobre o que está a ser feito relativamente às aplicações nos telemóveis, que permitem de uma forma confidencial saber se eu me cruzei com determinadas pessoas.

Isso está a ser discutido em Portugal, em toda a Europa e alguns países asiáticos tornaram disponíveis essas aplicações. Não vou falar de países que conseguem tornar isto obrigatório e forçar a que seja utilizado. Mas nalguns países ocidentais, ou mesmo no caso de Singapura, a percentagem de pessoas que instalou esse tipo de aplicações é muito baixa, o que tira eficácia à própria aplicação.

Portanto, o que sabemos hoje não é nenhuma surpresa – é que o cidadão comum não só tem aversão ao risco, como tem cada vez mais consciência da proteção os seus próprios dados e não quer correr risco de esses dados poderem circular e terem usos não legítimos.

Se olharmos para países como Singapura, em que a aplicação não atingiu os tais 60% de população de que se fala para ser eficaz, isto diz-nos alguma coisa sobre o que as pessoas pensam quanto à proteção dos seus dados pessoais.

A engenharia informática, a gestão do conhecimento e a "business intelligence" são "a sua praia". Um dos riscos que vimos aumentar nesta fase da Covid-19 foi o risco cibernético, com tentativas – algumas consumadas – de acesso indevido a plataformas digitais. De que forma está a contribuir a INCM para esta questão específica da segurança, numa altura em que se caminha cada vez mais para a cidadania digital?

A INCM não tem como missão as questões da segurança informática. Nesta matéria, o Gabinete Nacional de Segurança e do Centro Nacional de CIbersegurança têm feito um ótimo trabalho.

Digo-o enquanto cidadão, o que se percebe até pelas campanhas, quando as pessoas começaram a estar mais em teletrabalho, sobre regras básicas a cumprir para minimizar os riscos cibernéticos, sabendo como se precaver ao trabalhar em casa, com recurso a mais meios telemáticos.

A questão não está propriamente na tecnologia, mas sim no comportamento das pessoas que usam a tecnologia. Estas campanhas de sensibilização são importantes e espero que tenham dado e continuem a dar frutos para termos menos crimes cibernéticos.

O Eng. Gonçalo Caseiro tem uma larga experiência na modernização do atendimento na administração pública. Ainda não há muitos meses assistimos a um atraso significativo e generalizado na atribuição de cartões de cidadão. A obtenção de vistos de residência também é uma dor de cabeça para os cidadãos estrangeiros e para o próprio SEF não tem, muitas vezes, capacidade de resposta para o volume de pedidos. O que poder ser feito para evitar este tipo de situações?

Evitar deslocações. Ter capacidade de antecipar aquilo que vai ser a necessidade do cidadão, consoante o ciclo de vida que está a viver, evitando deslocações.

Dou como exemplo a medida do "simplex" em que, sabendo que um cartão de cidadão vai expirar, a pessoa recebe um ‘sms’ para responder sim ou não à renovação automática, para receber os códigos multibanco, para ir pagar e finalmente para receber o documento ou ir levantá-lo.

Mas com isto já se evitou uma deslocação. Foi antecipada uma necessidade que já é algo muito positivo, e o Estado tem todos os dados para poder antecipar as necessidades e evitar a deslocação do cidadão, se não houver uma alteração significativa dos seus dados. Este tipo de medidas podem retirar pessoas das filas de espera, filas onde, aliás, não queremos estar hoje em dia.

No caso dos cidadãos estrangeiros coloca-se outro tipo de reservas, é isso?

Podem existir, mas à medida que olhamos para o ciclo de vida de um cidadão, desde que ele nasce até que vai estudar, chega à universidade, casa, compra uma casa, e, quando à medida desses eventos de vida, conseguimos construir serviços que tentem antecipar o máximo de necessidades, e evitar deslocações mudando para o "online", diria que vamos ter muito sucesso para depois podermos atender os casos mais específicos e complexos.

Nestes, aquilo que tipicamente é a resposta é fazer agendamentos prévios. A Covid-19, por acaso, trouxe-nos uma dessas novidades. Hoje em dia, para ir a uma repartição de finanças é preciso fazer um agendamento, e é assim que deve ser.

Isso significa que consigo fazer "online" tudo aquilo de que necessito; o IRS automático é um exemplo disso; o Estado antecipa o pré-preenchimento e qualquer dia será mesmo automático e só precisaremos de nos dirigir pessoalmente quando o caso é extremamente complexo.

Para esses casos existe o agendamento prévio, que permite a quem vai receber todo o dossier, identificar o problema e ter uma resposta ou um conjunto de cenários para apresentar.

Para os mais idosos, por vezes, tudo isso torna-se mais complicado.

Ninguém pode ficar para trás. Não vi, de todo, a expansão da rede de lojas do cidadão ou de espaços cidadão a travar nestes últimos anos.

Acho que foi uma questão muito feliz desta legislatura e também da anterior, saber que o "online" é importante, mas que ninguém pode ficar para trás, e a resposta para que isso aconteça é ter serviços junto das câmaras municipais, nos espaços e lojas do cidadão, com uma rede capaz de receber essas pessoas.

Um dos serviços importantes da INCM é o das contrastarias. O setor da ourivesaria queixou-se do impacto que o encerramento temporário desse serviço durante o estado de emergência teve na atividade do setor, com constrangimentos à renovação de "stocks" para vendas "online". Não havia outra forma de lidar com a situação que não passasse pelo encerramento?

Se nos posicionarmos a 16 de março, o que tínhamos de cuidar primeiro era da saúde todos. Nem sequer vale a pena lembrar tudo o que temos vivido e as pessoas que já morreram em Portugal. Num primeiro momento havia que cuidar da saúde, para logo a seguir cuidarmos da economia, até para não morrermos da cura.

À data de 16 de março a melhor decisão foi o encerramento, porque não era um serviço essencial à população naquele momento e não podíamos transformar a INCM em mais um centro de contágio, sabendo nós que os metais são ótimos transmissores do vírus. O bem da vida não deve ser posto nunca em causa.

Encerrámos entre os dias 16 de março e 30 de abril, considerando as limitações impostas pelo estado de emergência e as recomendações das autoridades de saúde pública, para proteção da saúde dos trabalhadores das contrastarias, mas também dos clientes e operadores económicos. Não fomos caso único. Em Espanha, Reino Unido, Polónia, Irlanda, Lituânia, Chipre e num vasto conjunto de países fez-se o mesmo e pelos mesmos motivos.

O que está a INCM a fazer para recuperar o tempo perdido? Que ações estão a ser desenvolvidas pela INCM para estar mais próximo dos clientes deste setor?

Quem não fez refeições nos restaurantes não vai fazer mais refeições por causa disso. Quero com isto significar que em vários setores de atividade, recuperar o tempo perdido não é possível.

Aquilo para que devemos olhar é voltar a estimular a procura porque ela também caiu. Como deve imaginar, ninguém foi à rua para ir à procura de ourivesarias; isso não existiu. Devemos ter formas de estimular a procura e a criatividade das pessoas do setor, certamente, dará a volta.

A INCM deve, já nesta fase de retoma, ter todos os mecanismos para que seja fácil interagir para a certificação das peças. É isso que temos procurado fazer, com agendamento prévio para deslocações, recebimento de valores e peças por transporte seguro garantimos, a nosso custo, que o transporte de peças para o operador é feito por transporte seguro, caso esse operador queira estar mais protegido na sua fábrica, etc.

A contrastaria nasceu no século XV, é uma forma muito antiga de proteção do consumidor. No fundo é uma marca que garante que o ouro e a prata presentes num determinado objeto têm um determinado valor. Esta forma antiga de proteger o consumidor também tem de evoluir.

A nossa área de evolução já olhou para o setor e apresentámos, a nível europeu, uma forma de marcação de peças a "laser", também inviolável e que permite uma reconstituição da história da própria peça, com o seu registo quando é vendida.

Com este tipo de aplicações valorizamos a peça, com uma marca que a torna única; é algo que podemos passar oferecer ao setor: verem na contrastaria uma forma de valorização das suas peças e não um custo.

Qual é a perceção que tem sobre o momento da ourivesaria e da joalharia em Portugal, atendendo aos pedidos de avaliação de metais preciosos e gemológicos que têm chegado às contrastarias de Lisboa e do Porto, após a retoma?

Ainda decorreu pouco tempo, depois da reabertura dos serviços de contrastaria. Já entraram mais de 50 mil peças e espero que seja um bom sinal para o setor iniciar um processo de recuperação.

A cooperação com os países de língua oficial portuguesa tem sido uma das vertentes da INCM nos últimos anos. Neste momento, quais são os principais projetos em curso e a que países se dirigem?

Quando falamos de cooperação estamos, sobretudo, a falar da vertente da Língua Portuguesa. Um das nossas missões é preservar a língua e a cultura portuguesa. Neste sentido, por exemplo, temos criados prémios literários em países onde também atuamos comercialmente .

Fabricamos os passaportes e cartões de cidadão de Cabo Verde e, ao mesmo tempo, em cooperação com as autoridades cabo-verdianas, atribuímos anualmente um importante prémio literário que visa descobrir novos talentos literários.

Fazemos o mesmo em São Tomé e Príncipe, em Timor Leste e até em países que não são de língua portuguesa. Na Colômbia, por exemplo, onde assinámos recentemente um contrato para fabrico de um importante cartão, estamos a financiar uma Cátedra de Língua Portuguesa, que é uma forma muito interessante de continuarmos a expandir a nossa língua e a nossa presença cultural.

Para concluirmos, o que mudou com a Covid-19 no interior da INCM?

Dir-lhe-ia que mudou o que mudou no mundo inteiro . O trabalho passou a ser uma das formas mais usuais de produzir. Por exemplo, o Diário da República está a trabalhar a dois turnos, como era normal, mas as pessoas estão em sua casa.

De um dia para o outro tivemos de criar todas as condições para que isso fosse possível e assim vai continuar a ser porque a saúde das pessoas está em primeiro lugar e o regresso tem de ser gradual.

Já em termos fabris não se pode levar uma máquina industrial para casa. O que mudou foram as perceções e os cuidados que fomos obrigados a passar ter, individualmente e nas áreas comuns. Mas mesmo durante este período nunca deixámos de produzir cartões de cidadão, ou passaportes, para quem tinha essa urgência, sempre com a noção do que são serviços essenciais neste momento da vida em sociedade”, conclui.

Quem é Gonçalo Caseiro

O atual Presidente do Conselho de Administração da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, SA, tomou posse no cargo em 2017. Antes desempenhava funções de vogal no órgão social que dirige a INCM. Gonçalo Caseiro é licenciado em Engenharia Informática e Computadores pelo Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, com pós-graduação em "Business Intelligence" e Gestão do Conhecimento pelo Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação da Universidade Nova de Lisboa. Na sua formação destaca-se ainda o Programa de Alta Direção de Empresas, pela AESE Business School.

Entre outras funções, no "curriculum vitae" do PCA da INCM sobressai a vice-coordenação da "Estratégia para a Reorganização dos Serviços de Atendimento da Administração Pública", na Presidência do Conselho de Ministros, cargo que desempenhou em 2014 e 2015.

Gonçalo Caseiro é orador convidado em diversos eventos nacionais e internacionais, com diversos artigos publicados em jornais "online" na área da tecnologia. Membro do conselho geral da APDSI - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, fez parte do grupo de trabalho que, em 2015, elaborou o estudo "Contributos para a reforma do Estado - Uma visão da sociedade da informação".

INMC – 700 anos, desde o fabrico industrial das primeiras moedas até às tecnologias de ponta e aos "robots"

A Imprensa Nacional-Casa da Moeda, SA é uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos, resultante da fusão, em 1972, da Imprensa Nacional com a Casa da Moeda, talvez o mais antigo estabelecimento fabril do Estado português, com uma laboração contínua desde, pelo menos, o final do século XIII.

Passados mais de 700 anos a INCM é uma empresa voltada para o futuro. São suas atribuições a produção de bens e serviços fundamentais ao funcionamento do Estado português, como os documentos de identificação e viagem, a cunhagem de moeda metálica e a edição de publicações oficiais com destaque para Diário da República.

Paralelamente, desenvolve um conjunto relevante de produtos e serviços, para dentro e fora do país. A identificação de pessoas e a proteção de marcas têm levado a INCM a apostar em projetos de Inovação e Desenvolvimento, em parceria com universidades e empresas, no intuito de levar por diante a missão de criar, produzir e fornecer bens e serviços que exigem elevados padrões de segurança, focados no cliente e em soluções inovadoras.

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  • Helder Santos
    19 mai, 2020 Lisbon 13:07
    Entrevista em linguagem clara, simples, esclarecedora e muito informativa não só para o cidadão, mas também para os colaboradores da INCM. Muito bom.

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