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Acusação de assédio contra treinador do Famalicão pode desencadear mais denúncias

29 set, 2022 - 18:15 • Inês Braga Sampaio

Carla Ferreira, responsável da APAV, sublinha em declarações à Renascença, que as situações de violência sexual de que se toma conhecimento são apenas "a ponta do icebergue".

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A Associação de Apoio à Vítima (APAV) considera que as acusações de assédio sexual contra Miguel Afonso, treinador da equipa feminina do Famalicão, por parte de jogadoras que orientou no Rio Ave podem ser o clique necessário para a denúncia de outros casos no futebol português.

Segundo o "Público", o treinador enviava mensagens íntimas a pedir vídeos e fotografias a algumas jogadoras, na época 2020/21, quando comandava a equipa vilacondense. Em entrevista à Renascença, Carla Ferreira, gestora técnica do projeto CARE da APAV, diz que a exposição pública deste caso pode levar à denúncia de outras situações:

"Estas situações, quando tomam este tipo de proporções e de mediatismo, acabam por ser sempre propulsoras de outras revelações. Acaba por ser um movimento saudável. Há sempre esta tendência a haver uma revelação de outras situações que venham a ser conhecidas."

A responsável da APAV avisa, contudo, que, embora haja "situações de relato de violência no desporto", os casos que são denunciados são somente uma ínfima parte daqueles que, realmente, se verificam.

"São num número muito, muito inferior às situações que, de facto, efetivamente acontecem. Ou seja, estamos a falar aqui de uma realidade que conhecemos que é mesmo a ponta do icebergue", assinala.

O que fazer quando se é vítima ou testemunha


Carla Ferreira explica que há vários fatores que podem levar a que uma vítima de violência sexual guarde silêncio. No contexto desportivo, especialmente a nível profissional, "pode significar a perda de benefícios, a perda de confiança do clube em que estão inseridas ou perda de confiança, até, dos próprios familiares, que depositam nestas vítimas a esperança de uma carreira desportiva de alto rendimento".

"No desporto, sobretudo quando há uma vertente mais profissionalizante, há uma maior dificuldade em desocultar as situações violentas. Também há razões que podem ter a ver com tentativas anteriores de revelar a situação e de ter havido uma descrença das pessoas que receberam esta informação, ainda que parcial. Portanto, há sempre alguns obstáculos que surgem e que depois podem retardar ou fazer com que estas revelações de situações de vitimação nunca acabem por acontecer", sustenta.

A responsável da APAV salienta que a vítima "deve saber sempre que pode pedir ajuda". Seja na própria estrutura desportiva, em que há mecanismos, como o da Federação Portuguesa de Futebol, de denúncias de violência sexual, seja fora, nomeadamente junto da APAV, cuja linha de ajuda, o 116006, é gratuita e está disponível todos os dias úteis.

Quem saiba de uma situação pode pedir ajuda, ligar com a APAV ou oferecer auxílio à vítima, disponibilizando-se para a ouvir, "sem a julgar".

Treinador do Famalicão desmente acusações


Segundo o jornal "Público", algumas jogadoras do Rio Ave acusam Miguel Afonso de lhes ter enviado mensagens de cariz íntimo na época 2020/21, quando orientou a equipa feminina do clube de Vila do Conde.

Contatado pelo jornal, a propósito das acusações, Miguel Afonso, de 40 anos, recusou-se a comentar o caso, dizendo apenas: "Não sei onde querem chegar com isso e que tipo de conversas são essas."

O Rio Ave confirma ter tido conhecimento, na altura, de relatos sobre "abordagens despropositadas", mas diz que não deu seguimento ao caso a pedido das próprias jogadoras. A Renascença sabe que Miguel Afonso foi despedido, no final da época, devido às alegações de assédio.

O Famalicão, que de acordo com o "Público" teria sido avisado sobre as acusações de alegado assédio sexual que pairavam sobre Miguel Afonso, diz, em comunicado, desconhecer a existência de tais alegações.

O Conselho de Disciplina da Federação, ao que apurou a Renascença, vai abrir um processo disciplinar para apurar os factos.

Trata-se do primeiro processo, segundo explica Lúcio Correia, professor de Direito do Desporto. A confirmarem-se as queixas, Miguel Afonso pode ser sancionado a três níveis: desportivo, laboral e cível.

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