06 set, 2024 - 17:40 • Luís Aresta
O golo 900 de Cristiano Ronaldo foi celebrado por Leonel Pontes em Shangai, a quase 11 mil quilómetros de distância do Estádio da Luz, em Lisboa
Madeirense (tal como Cristiano), o ex-adjunto do Sporting e das seleções nacionais - atual coordenador técnico do Shangai Shenhua – é como que um parente próximo do recordista de golos entre todas as seleções do futebol mundial. Questionado pela Renascença se o golo 900 de Cristiano Ronaldo chegou até à China, a resposta de Leonel Pontes surge sem hesitações.
“Claro que chegou aqui à China, principalmente para emigrantes portugueses que estão longe do país, que seguem a seleção nacional, o futebol, os seus ídolos e neste caso seguem o nosso capitão Cristiano Ronaldo. Chegou e muito bem. Eu próprio segui as incidências do jogo e a opinião de vários treinadores e colegas no meu clube. Falámos neste facto durante esta tarde e até comentei com o João Teixeira e com o Wilson Manafá, que estão aqui no Shanghai Shennua. Falámos sobre o assunto, Realmente é um facto extraordinário e que nos faz pensar se haverá alguém que possa voltar a fazer esta marca de 900 golos, que é um número incrível”, declara.
Aos 39 anos de idade, Cristiano tem afirmado repetidas vezes que quer viver o dia a dia, sem definir objetivos a longo prazo. Alcançada a marca dos 900 golos, estará no seu pensamento disputar em 2026 aquele que será o seu 6º Campeonato do Mundo? Leonel Pontes acha que é possível e mais, com Cristiano Ronaldo, parece provável, apesar da idade e dos 2 anos que o separam do próximo Mundial.
“Em alta competição, 2 anos não é a mesma, quando se tem 20 ou 30 de idade, do que quando se tem quase 40. No entanto, estamos habituados a que Cristiano defina os seus próprios objetivos. Acredito que ele, sentindo que o seu corpo tem capacidade para aguentar, também em função da forma como se cuida e prepara, é provável que isso possa acontecer, se essa for uma meta que tenha para daqui a 2 anos. Com Cristiano Ronaldo estamos habituados a que, aquilo que para nós parece difícil ou impossível, para ele torna-se possível. Essa é uma grande caraterística de quem consegue corresponder às adversidades da vida” considera.
Golo 900 tranquiliza Cristiano. Frasco do “ketchup” desentupido com Nuno Mendes na posição certa.
Cristiano regressou aos golos pela seleção nacional, depois de um campeonato da europa em que não marcou e chegou a transmitir sinais de desconforto emocional perante a situação (quem não se recorda das lágrimas que se seguiram ao penalti falhado no prolongamento, frente à Eslovénia?). O golo 900 pode ser o bálsamo que estava a faltar para devolver a confiança ao capitão da seleção nacional, admite Leonel Pontes.
“Este golo 900 é uma etapa, um objetivo que ele certamente perseguia; isto vai dar-lhe tranquilidade para encarar os próximos tempos de forma muito mais natural” diz Leonel Pontes, para quem Cristiano não foi o único responsável pela seca de golos no recente campeonato da Europa.
“Muitas vezes, quando estamos sob pressão, podemos não ter o discernimento de fazer as coisas como devem ser feitas, mas reconheço que, durante o Europeu, Cristiano Ronaldo não foi bem servido. Curiosamente neste jogo foi o Nuno Mendes a cruzar para a finalização. Recordo-me que o Nuno Mendes, no seu processo formativo e no período em que trabalhou comigo nos sub23, era o jogador com mais assistências no jogo. No PSG, joga do meio-campo para a frente e, do ponto de vista ofensivo, tem grande capacidade de chegar a zonas de cruzamento e de executar cruzamentos muito perigosos. A verdade é que, no Europeu, foi usado como terceiro central, dando-lhe pouca liberdade para ser ele próprio. Sendo Nuno Mendes ele próprio, jogando mais no ataque, dando largura e profundidade no corredor, será um jogador que poderá permitir criar mais situações de golo. Repito, é um facto que Cristiano Ronaldo não foi bem servido neste último Europeu. Se for bem servido na zona de finalização, não tenho dúvidas de que ele continua a ser o melhor e está provado que, nas poucas oportunidades que tem, faz golo. Se a equipa estiver equilibrada e perceber que ainda há um jogador que, com os seus 39 anos, bem servido, faz golos, provavelmente a equipa vai ter mais rendimento e concretizar as oportunidades que cria”, sublinha.
Contra a Escócia, ausência de Vitinha não será problema
Vitinha lesionou-se frente à Croácia. Após o jogo, Roberto Martinez deixou claro que não conta com o médio do PSG para desafio que segue, frente à seleção escocesa, este domingo, de novo na Luz. Um problema de fácil resolução, considera Leonel Pontes, que não deixa de reconhecer o cunho distintivo que Vitinha transporta na sua forma de atuar.
“Realmente é um médio de caraterísticas muito particulares, porque liga todo o jogo ofensivo, com grande capacidade para manter a bola e criar situações mais ofensivas no jogo. Mas nós temos uma grande seleção, com grandes jogadores e de certeza que há soluções para este jogo. Também temos de olhar a que a seleção escocesa perdeu com a Polónia e que nós ganhámos a uma Croácia sempre difícil, portanto os níveis de confiança de toda a equipa são elevados. Não tenho dúvidas de que, qualquer jogador que substitua o Vitinha dará uma grande resposta”, considera.
Regresso a Portugal está nos planos a curto prazo. Calendário chinês pode ser inspirador.
Desde Agosto de 2023 que Leonel Pontes está na China, como diretor técnico do Shanghai Shenhua.
“Tem sido uma experiência incrível. É um clube grande aqui na China, um clube organizado, com potencial humano e financeiro. Estamos a lutar pelo 1º lugar, estamos na Taça e na Liga dos Campeões Asiáticos. Nesta pausa para as seleções, conseguimos colocar vários jogadores a trabalhar na equipa principal, potenciar jogadores dos sub21 que, pela sua qualidade, podem jogar na Europa. Portanto, o trabalho que me foi proposto está a ser conseguido” declara orgulhoso.
Com mais um ano de contrato no Shanghai Shenhua, Leonel Pontes, nesta entrevista a Bola Branca, assume o claro desejo de regressar a Portugal. Se acontecer no final de 2025, pelo calendário chinês coincide com o Ano da Serpente, animal que na tradição asiática simboliza sabedoria e harmonia. Pode ser uma boa ajuda, para um regresso pela porta grande.
“Quero voltar ao campo e espero em breve estar a trabalhar no futebol português, preferencialmente na 1ª Liga. Não tenho dúvidas de que estou preparado. Tive azar em dois momentos da minha carreira que me marcaram profundamente, mas não duvido de que ainda vou a tempo”. Pontes refere-se à passagem pelo Marítimo (2024/2015) e à segunda época no Sporting da Covilhã (2022/2023) a sua última temporada em Portugal antes de rumar à China. A experiência positiva no Shanghai Shenhua e a introspeção que tem feito, levam Leonel Pontes a acreditar fortemente que estão reunidas as condições para um regresso a curto prazo.
“Acredito no que vivi, nas minhas experiências, todas elas muito diferenciadas: Seleção Nacional, 1ª Liga, 2ª Liga, e adjunto também. Essencialmente reconheço que recolhi aquilo de que preciso para assumir um cargo de treinador principal, a qualquer momento. Quero voltar ao campo nos próximos tempos, mas, para já, quero fazer o trabalho bem feito e deixar algo muito positivo no Shanghai Shenhua”, remata.