18 set, 2024
No verão de 2012 o então presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, anunciou que faria o que fosse preciso (“whatever it takes”) para salvar a moeda única europeia, que então atravessava uma grave crise. E Draghi salvou mesmo o euro, graças a medidas tomadas pelo BCE.
Agora Draghi, lamentando que a economia europeia esteja a perder competitividade em relação à economia americana e à chinesa, apresentou num relatório de quase 400 páginas um conjunto de medidas e reformas que a UE deverá fazer para travar aquele declínio. Só que, agora e ao contrário do que acontecia em 2012, não é a Draghi que compete concretizar as medidas e reformas que ele propõe. Daí o ceticismo quanto às possibilidades de o “relatório Draghi” mudar mesmo a economia da UE.
Os dois países, França e Alemanha, de quem tradicionalmente se espera um impulso reformador na UE, têm agora lideranças fracas. Marine Le Pen tem fortes probabilidades de vir a ser, em 2027, presidente de França. Macron, que se propunha exercer uma presidência “jupiteriana”, perdeu força política.
E na Alemanha, pela primeira vez desde o fim da II guerra mundial, a extrema direita ficou à frente num estado (Turíngia); o governo de coligação na Alemanha dificilmente toma decisões e provavelmente será derrotado nas próximas eleições nacionais.
Mas há mais. Na Hungria V. Orban promoveu uma “democracia iliberal”, que não é democrática. E nos Países Baixos o partido mais votado nas últimas eleições foi de extrema direita, muito pouco europeísta.
O envelhecimento da população europeia não ajuda a produtividade. As insuficientes
melhorias económicas poderão pôr em causa o “modelo social europeu”.
E na UE nem sequer a união bancária foi completada. O mesmo se diga do Mercado Interno. Não se pode esperar da Comissão Europeia que, por si só e sem o concurso dos Estados Membros, concretize as propostas de Draghi.