12 jul, 2023 • Francisco Sarsfield Cabral
No Jornal da Noite da SIC de domingo passado foi noticiada uma operação policial contra perigosos grupos de extrema-direita, na Áustria. Viu-se muito material de propaganda nazi, bem como um impressionante arsenal de armas. Também no mesmo Jornal da Noite foi referida a preocupação dos serviços secretos alemães com a extrema-direita; em 2022 terão sido identificados mais de 40 mil extremistas na Alemanha.
Notícias destas não são convenientes para os partidos da direita radical que ambicionam chegar ao governo por via eleitoral, como é o caso do Vox espanhol. É conhecida a estratégia de Marine Le Pen, em França, de tornar menos agressiva a imagem do seu partido, que curiosamente agora se chama União Nacional. Outros partidos da direita radical na Europa tentam também seguir essa linha moderada, que facilita eventuais acordos com a direita democrática – como aqueles que o PP celebrou com o Vox, em algumas autonomias espanholas.
Por sua vez, a direita democrática evita condenar a direita radical, pois pode precisar dela para chegar ao poder. Mas, infelizmente, por vezes vai tomando para si bandeiras radicais, como uma certa hostilidade aos imigrantes.
Não podemos esquecer que os nazis chegaram ao poder pela via eleitoral, em 1933. Hitler foi então nomeado chanceler (primeiro-ministro). Uma vez aí instalados, os nazis acabaram com as liberdades e passaram a mandar com violência na Alemanha. Assim chegaram ao Holocausto, porventura a mais tenebrosa das violências.
Daí a oportunidade de notícias como as que referi no início desta crónica. Elas alertam-nos para a violência radical que existe no coração da extrema-direita, que a vai encobrindo por oportunismo. Mas, no fundo, os extremistas consideram uma fraqueza a norma democrática, segundo a qual os derrotados num combate político não são liquidados e até podem vir a ser os vencedores em combates futuros.
Não acredito que os atuais dirigentes de alguns partidos europeus da direita radical sejam nazis. Simplesmente, eles poderão ser afastados por elementos mais violentos do partido, assim que as circunstâncias o permitam. Nessa altura já não haverá eleições nem liberdades democráticas.