10 jul, 2023
Passado o grande coro de ataques às declarações de Christine Lagarde, coro que veio da esquerda e da direita do espetro político, começam a surgir comentários sensatos ao BCE e à subida dos juros para combater a inflação. É o caso de Teixeira dos Santos, que foi ministro das Finanças de J. Sócrates. Foi ele quem, contra a vontade de Sócrates, forçou em 2011 a ajuda internacional ao país, evitando uma bancarrota declarada.
Em entrevista à Renascença e ao Público, à pergunta “como é que viu as reações do Presidente, do primeiro-ministro e dos partidos, que criticaram a presidente do BCE?” afirmou Teixeira dos Santos: “Vi essas observações como despropositadas. Algumas delas não parecem ter percebido bem o que está em jogo neste combate à inflação e questionam aquilo que é a missão do BCE. Creio que não é neste momento que se deve questionar o papel do BCE e o que se deve fazer. Isso está previsto nos tratados”.
Por outro lado, Teixeira dos Santos alertou para que um país com a dívida de Portugal não se pode iludir com a folga orçamental e entrar em despesismos. Mas defendeu manter apoios às famílias de baixos rendimentos. “Não podemos é ter apoios para toda a gente, porque seriam contrários à política monetária anti-inflacionista do BCE”. Ou seja, pretende apoios direcionados e não gerais, como igualmente defende o FMI.
Teixeira dos Santos também é favorável a que a folga orçamental (resultado de uma forte subida das receitas fiscais por causa da inflação) leve a alguma baixa de impostos, nomeadamente no IRS, como aliás foi promessa de Fernando Medina e consta do Programa de Estabilidade enviado para Bruxelas. Mas não estamos ainda em condições de termos descidas muito significativas nos impostos, avisou, até porque “as despesas com o envelhecimento da população tendem a ser maiores”.
É a prudência que resulta de quem há doze anos passou por aflições financeiras. São coisas que não esquecem.