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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Acelerou o despovoamento do interior

07 jul, 2023 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Dados recentes mostram que o despovoamento do interior se acentuou mais rapidamente do que o esperado. O que põe em dúvida uma eventual aposta na dinamização das cidades do interior. Em Espanha as autonomias não travaram o despovoamento de inúmeras zonas.

O recente Relatório do Estado do Ordenamento do Território mostra que 24 concelhos perderam nos últimos 10 anos pelo menos 15% da população. Nesses concelhos, praticamente todos do interior do Continente, previa-se que o despovoamento atingiria 15% ou mais em 2030. Só que essa marca negativa foi atingida em 2021, em confronto com 2011 – ou seja, em apenas dez anos e não 19. E 65 municípios registaram baixas de população superiores a 10% entre 2011 e 2021.

Parece, assim, imparável o despovoamento do interior. Houve cidades onde a população aumentou. Foi o caso de Braga, bem como de Tavira e Portimão, cidades que não se situam no interior do país.

Sabe-se ser praticamente impossível reverter o gradual despovoamento das áreas rurais do interior, muitas delas já hoje quase desertas. Mas havia alguma esperança em dinamizar as cidades do interior. Ao contrário das aldeias, de onde desapareceram escolas, bancos, comerciantes e serviços públicos, nas cidades do interior ainda muitas dessas entidades e serviços são possíveis e desejáveis. Ora o declínio da população em cidades como Elvas, menos 9% em dez anos, e Portalegre, menos 8,5%, entre 28 centros urbanos que perderam população, põe em dúvida aquela esperança.

Perante este desolador despovoamento de grande parte do território continental há quem fale da necessidade de regionalizar. Só que o exemplo de Espanha não é animador a este respeito.

Depois do centralismo que caracterizou a ditadura de Franco, a democracia espanhola criou 17 comunidades autónomas. Cada uma destas comunidades tem governo e parlamento próprios, à semelhança do que entre nós se passa com os Açores e a Madeira. Mas o despovoamento tem-se acentuado em numerosas áreas do território espanhol, não obstante a regionalização das autonomias.

Comentários
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  • J Silva
    10 jul, 2023 Dublin 10:35
    A regionalização não irá trazer os empregos e serviços necessários para que as pessoas fixem-se no interior do pais. Ou estamos a espera que o Estado ou poderes regionais venham socorrer com fundos e novos empregos areas economicamente deprimidas? Um estado centralizado não pode resolver tudo, mas parece-me que a regionalização e mais uma forma de oferecer tachos a mais gente do que uma forma de melhorar a gestão do pais. No final, isto tem a ver com orçamento, e uma região com menos gente e menos empresas competitivas ira recolher menos impostos e receber menos dinheiro do que uma area como Lisboa.
  • Petervlg
    07 jul, 2023 Trofa 07:40
    Quando se tem pessoas no poder, que o povo as colocou lá, a lutar, apenas pelos seus interesses pessoais, e não pelo interesse dos Portugueses, não existe mais nada para dizer. Julgo que era uma aposta, destes governantes, dinamizar o interior, nota-se, são mentiras atrás de mentiras.