Emissão Renascença | Ouvir Online
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

A Fed vai promover a inflação

01 set, 2020 • Francisco Sarsfield Cabral • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A nova política da Fed, anunciada por J. Powell, será tolerar uma inflação mais alta para estimular o crescimento e o emprego. A meta continuará a ser uma subida de 2%, mas no longo prazo, admitindo curtos períodos durante os quais a subida geral de preços possa ser superior.

Trump andou anos a insultar a Reserva Federal (Fed), o banco central dos EUA, por não baixar mais as taxas de juro diretoras, de maneira a impulsionar o crescimento económico. Em 2018 a Fed até subiu essas taxas, apesar de a economia americana não se encontrar em situação de pleno emprego.

Depois, em 2019, baixou duas vezes aquelas taxas, mas Trump não ficou satisfeito: queria taxas zero ou mesmo negativas. Mas na sexta-feira passada, na conferência anual de banqueiros centrais e economistas, Jay Powell, o presidente da Fed, apresentou uma nova política.

Cedência a Tump, a dois meses de eleições? Talvez. Mas não parece provável, até pela conferência onde foi apresentada; com juros muito baixos e até negativos, as munições dos bancos centrais para estimular a economia ficaram reduzidas e tornam-se necessárias mudanças.

É certo que a Fed atacou a crise de 2007/8 com medidas não convencionais, como a compra de dívida no mercado. Mas o banco central do Japão já o fazia há muitos anos, sem sucesso – o crescimento económico e a inflação permanecem estagnados naquele país. E o Banco Central Europeu (BCE), depois de uma célebre declaração de M. Draghi no verão de 2014, também se lançou na compra de dívida pública, o que muito tem ajudado Portugal.

Só que essas medidas, se evitaram a deflação (descidas sucessivas de preços), o que seria dramático para o crescimento da economia, não conseguiram subir a inflação. Powell reconheceu-o, ao referir que níveis muito baixos de desemprego não provocam, afinal, altas de preços.

Ora com a pandemia desapareceu o quase pleno emprego na economia americana. Como irá um banco central, habituado durante décadas a combater a inflação, contribuir para o inverso, acelerar a subida de preços?

A nova política da Fed, anunciada por J. Powell, mas quase desconhecida entre nós, será tolerar uma inflação mais alta para estimular o crescimento e o emprego. A meta continuará a ser uma subida de 2%, mas no longo prazo, admitindo curtos períodos durante os quais a subida geral de preços possa ser superior.

Esta nova orientação cumpre plenamente as duas finalidades estatutárias da Fed – estabilidade de preços e combate ao desemprego. Veremos se ela será eficaz.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.