Emissão Renascença | Ouvir Online
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

Tentar Perceber

A difícil transição

11 jan, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os benefícios fiscais para combustíveis fósseis em Portugal atingiram em 2019 o mais elevado nível de sempre. Está em causa uma boa gestão da despesa pública.

A Comissão Europeia elegeu o combate às alterações climáticas como prioridade do seu mandato – é o já célebre Pacto Ecológico Europeu.

O vice-presidente executivo da Comissão, Frans Timmermans, veio a Lisboa celebrar “o facto de a cidade se tornar a Capital Verde da Europa em 2020”. É positivo para Lisboa e para Portugal.

Mas a indispensável descarbonização energética – isto é, reduzir cada vez mais a utilização de combustíveis fósseis, como petróleo ou carvão, enquanto fonte de energia – não é de concretização fácil. Foi já anunciado o encerramento de duas centrais que produzem eletricidade a partir do carvão, mas trata-se apenas de um pequeno passo.

Por exemplo: foi há dias divulgado que os benefícios fiscais para combustíveis fósseis em Portugal ultrapassaram em 2019 os 521 milhões de euros. E, segundo o diário “Negócios”, essa despesa no corrente ano deverá manter-se neste nível, o mais elevado de sempre, apesar da promessa do Governo de ir reduzindo gradualmente os benefícios fiscais prejudiciais para o ambiente.

Como foi divulgado num estudo em junho do ano passado, há 542 benefícios fiscais existentes. Em 2018 custaram quase 12 mil milhões de euros aos contribuintes. Mas a equipa que elaborou o referido estudo não conseguiu encontrar qualquer tentativa de justificação para esse benefício em 127 casos…

O Governo previu no Programa de Estabilidade para 2019-2023 uma redução de despesa pública com benefícios fiscais de 90 milhões de euros por ano entre 2020 e 2022. E o ministro das Finanças prometeu levar a cabo, “num futuro próximo”, a reavaliação e efetiva monitorização dos benefícios fiscais.

Tudo faz crer que muitos desses benefícios foram atribuídos por pressão dos beneficiários e deixaram de ter sentido, se alguma vez o tiveram. O cancro dos benefícios fiscais não contraria apenas a descarbonização energética. Prejudica a racionalidade económica desta despesa do Estado em múltiplas áreas.

O que não é aceitável, até porque afeta uma boa gestão da despesa pública. E, como vemos no sector dos combustíveis fósseis, frequentemente contraria as prioridades do próprio Governo.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.