15 mar, 2023 • Anabela Góis
Há e, ao contrário do que tem sido a aposta prometida por sucessivos Governos de inverter a desertificação do interior, os censos mostram que continuou o movimento da população para o litoral e para as cidades, por oposição ao interior.
Por exemplos, os municípios de Barrancos e Nisa, no Alentejo, Tabuaço e Torre de Moncorvo, no Douro, perderam cerca de 20% da população na última década.
Há outros números que dão bem uma ideia das diferenças: se nas áreas urbanas vivem mais de 450 pessoas por quilómetro quadrado, nas zonas rurais vivem apenas vinte e duas; e nas áreas costeiras vivem seis vezes mais pessoas do que nas restantes.
Foi mais ou menos isso. O aumento da população verificou-se, em especial, nas periferias das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, mas também no Algarve.
Das 201 freguesias com mais de mil habitantes por quilómetro quadrado, 76 ficam na Área Metropolitana de Lisboa e 52 na área metropolitana do Porto. Sendo que as três freguesias mais densamente povoadas do país, com mais de 15.000 habitantes por quilómetro quadrado, são as das Águas Livres, na Amadora, Arroios, em Lisboa e a União de Freguesias de Massamá e Monte Abraão, em Sintra. Claro que, em contrapartida, a população diminuiu no resto do território nacional, com pequenas excepções, nomeadamente em algumas cidades de pequena e média dimensão no interior.
Muita, só na última década mais de metade da população nacional (51,3%) mudou a residência para outro município. Se olharmos para um período mais curto - entre 2020 e 2021 - foram 13,7%, o que mostra um grande aumento da mobilidade em comparação com 2011.
De estrangeiros ou pessoas que antes viviam no estrangeiro, nota-te um aumento. A nível nacional, a percentagem aumentou de 6,6% em 2011 para 10,3% em 2021. E, já agora, se pensarmos nos trabalhadores sazonais, comprova-se que o município de Odemira é o que tem mais população de fora: quase 6% da população residente no município em 2021, um ano antes vivia no estrangeiro.
Sim, na maior parte dos casos. A proporção de população empregada num município diferente daquele em que reside aumentou 34,1%. Aliás, em 40 municípios, o número de empregados é superior à população residente que lá trabalha, destacando-se nestes casos Lisboa e o Porto. Já em municípios suburbanos de Lisboa, como a Moita, o Seixal ou Odivelas, é ao contrário - trabalham lá menos de metade das pessoas que lá vivem.
É uma maioria esmagadora, sete em cada dez portugueses vão de carro para o trabalho. Apenas um em cada quatro vai a pé ou de transportes públicos. E há dez anos eram mais. O que mostra que aumentou o uso do carro para as deslocações diárias e, em todo o país. Isto torna mais difícil atingirmos as metas que o Governo traçou para 2030, que é ter 35% dos portugueses a ir a pé para o trabalho ou para a escola.
Em 2011, 15,6% das pessoas usavam transportes como comboio, autocarro, Metro ou barco, a caminho do trabalho, essa percentagem baixou para 12,2% em 2021.
E basta apresentar aqui uma conta simples para percebemos porquê: quem vai de carro para o trabalho gasta em média 18,8 minutos a fazer o trajeto, a população empregada que anda de transportes coletivos leva bastante mais do dobro do tempo: 43 minutos e meio.