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Oiça aqui a reportagem de Isabel Pacheco em Bruxelas

EUROPEAN WEEK

A politica ambiental é a única que consegue unir a Europa

24 jul, 2019 • Isabel Pacheco


​O tom da urgência climática pintou o Parlamento Europeu e os discursos das diferentes famílias politicas. É a única causa que disfarça uma Europa, cada vez mais fragmentada. O diagnostico é traçado pelos eurodeputados portugueses no inicio de mais um mandato no Parlamento Europeu, em que ninguém arrisca a falar de “coesão” entre os 28 estados - membros da União Europeia.

Os próximos anos serão decisivos e, talvez, os mais difíceis da história da União Europeia que, longe dos valores que estiveram na sua génese, terá agora de se reconstruir. A opinião é de Marisa Matias da Esquerda Unitária Europeia que alerta para a “desunião” da agenda da União Europeia, fruto das “contradições e tensões permanentes”.

“Como socióloga aprendi que as grandes mudanças são aquelas que não temos capacidade de ver a olho nu, mas tenho perfeita consciência que, mais tarde, vamos perceber que estamos a viver um momento de grande transformação da Europa e da União Europeia”, diz a eurodeputada bloquista.

Mas, nesta (des)união da Europa a política ambiental consegue unir esquerda e direita. É o “desafio dos desafios”, ressalva Francisco Guerreiro do PAN – Pessoas, Animais e Natureza da família europeia dos Verdes que considera que esta é a “oportunidade” para se fazer “as mudanças que têm de ser feitas”.

“AS três principais famílias politicas europeias [PPE, Esquerda Unitária Europeia e Socialistas e Democratas] estão alheadas a esta realidade climática. Já a integram no discurso só porque perceberam que há um eleitorado desperto”, critica o também vice-presidente da Comissão de Agricultura no Parlamento Europeu.

Lídia Pereira, que integra uma dessas três famílias, a do PPE, explica que “não é bem assim”. A deputada lembra que “a agenda verde não é exclusiva da esquerda ou da direita, mas uma responsabilidade de todos”. Para a estreante em Bruxelas, a emergência climática tem de ser encarada “não como uma fatalidade”, mas como uma “oportunidade para a transição para uma economia verde”.

O “tom verde” do discurso parece ser o único ponto de acordo entre os políticos europeus. Tudo o resto parece ser de difícil entendimento, lamenta João Ferreira do PCP, que dá o exemplo do novo mandato das instituições europeias. O momento em que caiu a “encenação da democracia”, atira o comunista.

O eurodeputado do CDS/PP, Nuno Melo vai mais longe e descreve o processo que resultou na nomeação de Ursula Van der Leyan para a presidência da Comissão Europeia como “conflituoso”.

“Há uma grande conflituosidade entre os partidos dentro do Conselho e, não me parece, que deste processo eleitoral se tenha conseguido mostrar um rumo mais pacifico e coeso para o futuro da União que, bem precisava dessa coesão”, lamenta o centrista.

A coesão é a “urgência da União Europeia” que se vê abraços com a crise de refugiados, ainda, sem os “consensos certos”, critica João Ferreira.

“O consenso deveria ser o de reconhecer o direito de acolhimento e não o de criminalizar as migrações, mas tem sido exatamente ao contrário”, lamenta. “Tem havido consensos para levantar fortalezas ou criar policias de fronteira. É inaceitável”, reprova o eurodeputado.

A saída do Reino Unido da UE é outra nuvem que paira sobre os 28 Estados Membros. Independentemente de “como” ou “quando”, uma coisa é certa, diz o eurodeputado Pedro Marques, “o Brexit vai marcar a situação da União Europeia”, ainda, “por muito tempo” com profundas alterações geoestratégicas, sobretudo, no “atual contexto de relações com os EUA”.

“Se perdermos o Reino Unido, a Europa terá que se fazer valer mais do ponto de vista da sua presença internacional e das políticas de defesa”, aponta o socialista.

Estará a Europa preparada para lidar com futuras crises? Para os socialistas, a resposta passa pelo reforço da defesa dos direitos sociais e pela reforma da zona euro. Estas deveriam ser, segundo Pedro Marques, duas das prioridades da União Europa, que terá, neste mandato, que arrumar as contas e definir o orçamento no Quadro Financeiro Plurianual para 2021‑2027.

“Uma negociação dificilíssima”, antevê o socialista, “tal como qualquer outra em que alguém tem de pagar e alguém tem de receber”.

Orçamento, ambiente, defesa, brexit e a crise dos refugiados são alguns dos dossiês dos próximos anos em cima da mesa da União Europeia que, para muitos, começa agora um dos seus mandatos mais exigentes.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus

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