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Filipe Santos
Opinião de Filipe Santos
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Os Rankings na Educação valem a pena?

09 set, 2024 • Filipe Santos • Opinião de Filipe Santos


O que não é medido não é gerido e o que não é comparado de forma transparente permite perpetuar políticas erradas e esconder fraquezas sem as corrigir.

Esta segunda-feira são anunciados os rankings de 2024 do Financial Times para os Mestrados em Gestão. O mestrado da CATÓLICA-LISBON tem novamente um resultado extraordinário sendo avaliado como o 27.º Melhor Mestrado em Gestão do Mundo. Este é o 14º ano que estamos presentes na lista dos 100 melhores mestrados do mundo e este resultado chega depois de uma semana excelente em que recebemos mais de 700 novos alunos de mestrado no campus, 75% dos quais são internacionais.

Para além dos conhecidos rankings anuais do Financial Times para as Escolas de Gestão que cobrem os principais programas (MBA, Formação Executiva e Mestrados em Gestão e em Finanças, nos quais a CATÓLICA-LISBON está no TOP 30 mundial ou TOP 25 Europeu em todos), há dezenas de outros rankings na área da educação. No ensino superior há variados rankings de Universidades publicados todos os anos. Todos os três anos são também amplamente divulgados e discutidos os resultados globais do PISA, que compara a literacia de jovens de 15 anos (em leitura, matemática e ciências) em mais de 80 países. Em Portugal são publicados anualmente os rankings do desempenho das escolas secundárias na preparação dos seus alunos para os exames nacionais. Vale a pena todo o investimento e atenção que os rankings na área da educação recebem?

A resposta é indubitavelmente sim, mas sendo necessário interpretar bem os resultados destes rankings. Em primeiro lugar há metodologias diferentes, algumas mais robustas que outras, e há sempre alguma capacidade das entidades ou países em manipular ou enviesar resultados. No entanto a informação revelada é muito valiosa para decisores políticos e para os alunos, bem como para as próprias instituições avaliadas.

Falemos primeiro de metodologias. Alguns rankings são baseados em dados objetivos, outros na avaliação de satisfação dos clientes, outros ainda são baseados em perceção de reputação. Os rankings de reputação (que fazem perguntas como “Qual é que acha que é a melhor Escola/Universidade?) são inúteis exceto para avaliar a força das marcas, ou o dinheiro gasto a influenciar os fazedores de opinião. Tendem a perpetuar o status quo e revelam pouca informação sobre o desempenho real das entidades a serem avaliadas.

Os rankings baseados em dados objetivos como os rankings PISA ou das Escolas secundárias são mais meritórios e permitem extrair informação relevante sobre a eficácia das políticas educativas, embora tenha de ser descontada no tempo. Por exemplo, Portugal esteve sempre abaixo da média da OCDE na avaliação dos rankings PISA até 2008, tendo depois uma recuperação notável entre 2009 e 2015. O que se passou de bom na educação nesses anos em que Portugal até atravessou uma enorme crise económica? O que se passou foi que dez anos antes, a partir de 1998, o governo de António Guterres implementou o alargamento universal do ensino pré-escolar, com um conjunto de medidas em que o Estado apoiava o sistema e as famílias para que todas as crianças tivessem acesso ao ensino pré-escolar. Dez anos depois, as crianças avaliadas no PISA, tendo mais 1-2 anos de aprendizagem formal que as gerações anteriores, obtiveram uma melhoria significativa nos seus resultados de literacia chegando inclusive à média da OCDE, o que antes nunca tinha acontecido.

Estes rankings são também úteis para identificar boas práticas educativas. Nos rankings das escolas secundárias há escolas públicas que apresentam excelentes resultados, mesmo depois de ajustar os dados pela demografia e situação económica dos alunos. Ao analisarmos as políticas educativas e de gestão destas Escolas podemos extrair boas práticas que podem ser replicadas para o sistema. Assim, estes rankings permitem retirar lições de política pública e educativa muito importantes. Os rankings têm também um efeito de trazer à terra com transparência as entidades ou países com piores desempenhos, levando a esforços de reflexão e melhoria.

Os rankings do Financial Times têm o mérito face a outros rankings do ensino superior de não serem baseados em reputação, mas antes numa combinação de dados objetivos de desempenho dos graduados no mercado de trabalho complementados pela avaliação por esses ou pelos clientes empresariais (no caso da formação executiva) da satisfação com o serviço educativo prestado. Estes rankings, que tipicamente apresentam as 100 melhores Escolas do mundo na combinação entre vários critérios, têm o mérito de dar evidências às Escolas que tem um desempenho acima do que seria expectável para a sua reputação e contexto. Por outro lado, ao ponderarem de forma transparente vários critérios dão informação granular para apoio à gestão das Escolas, o que é fundamental. Escolas podem perceber que, no contexto dos seus pares, estão melhores numas áreas e piores noutras e melhorar a sua gestão.

Os rankings quando se tornam muito importantes para um setor podem influenciar fortemente as práticas desse setor, para o bem e para o mal. Por exemplo, no caso dos programas de MBA, a realização de programas em parceria é descontada nos rankings para as melhores Escolas Europeias, o que é um contra-senso. A CATÓLICA-LISBON juntamente com a NOVA SBE e o MIT criou o The Lisbon MBA, que oferece o melhor MBA e Executive MBA em Portugal, ambos no ranking do TOP 30 da Europa. Mas esta parceria estratégica é penalizada na fórmula para o cálculo das melhores escolas de gestão da Europa, fazendo com que as escolas portuguesas sejam prejudicadas. Mesmo assim a CATÓLICA-LISBON consegue a posição de 22.º melhor Escola da Europa.

Sobretudo há que encarar e gerir os rankings com transparência e honestidade. Há países que manipulam a amostra dos alunos que são escolhidos para os exames PISA, para ficarem melhor na fotografia internacional. E há Escolas que manipulam a seleção dos alunos a enviar ao Financial Times, para subirem artificialmente nos rankings. São práticas erradas e muitas vezes contraproducentes que aos poucos o sistema e as entidades que fazem os rankings tendem a corrigir.

Globalmente, qualquer sistema com maior transparência, maior mensurabilidade e maior comparabilidade é um sistema em que as entidades conseguem analisar melhor e ajustar políticas públicas, educativas e de gestão. O que não é medido não é gerido e o que não é comparado de forma transparente permite perpetuar políticas erradas e esconder fraquezas sem as corrigir. Não há que ter medo dos dados e da transparência, essa é o melhor instrumento para a melhoria estrutural e contínua.


Filipe Santos, Dean da Católica Lisbon School of Business & Economics

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica-Lisbon School of Business and Economics

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