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Isabel Feix
Opinião de Isabel Feix
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Afinal, estão os portugueses felizes ou infelizes?

10 abr, 2023 • Isabel Feix • Opinião de Isabel Feix


Mesmo em situações adversas, as pessoas ainda buscam subterfúgios e ligações positivas para encarar as dificuldades. Sendo assim, a resposta dos portugueses para este momento de crise e vulnerabilidade ainda pode estar na vida em comum.

Nas últimas semanas, recebemos os resultados do Relatório Anual da Felicidade Mundial, que indicou que os portugueses estão mais infelizes, tendo caído do 34.º lugar no ranking de 2019 para o 56.º, quando feita uma média dos últimos três anos.

Não é possível dizer que fomos surpreendidos com esta informação, já que a CATÓLICA-LISBON havia realizado um estudo no início deste ano apontando para isso mesmo. Trata-se de um inquérito realizado no fim de 2022, com 1.001 portugueses, e empreendido pelo Observatório da Sociedade Portuguesa, uma iniciativa desta Universidade. Nos últimos oito anos, o Observatório tem monitorizado de forma regular as perceções sobre a vida no país, nomeadamente o sentimento de bem-estar da população, a avaliação da qualidade de vida, o nível de felicidade e a perceção de saúde e segurança, realizando também a sua contextualização com temas atuais.

Neste último estudo, foi possível observar um pessimismo dos portugueses em relação ao futuro e uma evolução negativa da sua avaliação com relação à qualidade de vida e satisfação com a vida face aos números de 2021. Essa avaliação é feita a partir da análise de diferentes segmentos da vida dos participantes, entre eles sua satisfação com a saúde, consigo próprio, com suas relações pessoais e com sua capacidade financeira.

O estudo da CATÓLICA-LISBON verificou que a maioria dos participantes considerava ter uma qualidade de vida razoável a muito boa (33.2% afirmam ser razoável, 52.0% boa e 5.9% muito boa), enquanto apenas 8.9% mencionou ter uma qualidade de vida fraca ou muito fraca (7.5% e 1.4%, respetivamente).

Olhando especificamente para este indicador, os resultados podem até parecer bons, mas quando comparados com aqueles aferidos no final de 2021, percebe-se o contrário. Há uma diminuição em todos os itens que compõem o Índice de Qualidade de Vida, que neste ano teve uma variação negativa de 1,6%. As descidas mais acentuadas correspondem aos pontos relacionados à saúde (“Até que ponto está satisfeito(a) com a sua saúde?”), que teve uma redução de 3.6%, e à qualidade de vida (“Como avalia a sua qualidade de vida?”), que caiu 2.6%.

Em relação à satisfação com a vida ocorre algo semelhante. Apesar de a maioria dos participantes terem relatado que se sentem satisfeitos (69.2%) ou muito satisfeitos (8.3%) com sua vida em geral, quando comparamos com os resultados obtidos no ano anterior percebe-se uma diminuição generalizada nos seus indicadores específicos. A questão “Se pudesse viver a minha vida de novo, não alteraria praticamente nada” registou o valor mais baixo desde que este indicador é medido pelo Observatório da Sociedade Portuguesa (novembro de 2016). Refletindo este encolhimento, a Medida Absoluta da Satisfação com a Vida dos portugueses apresenta uma variação negativa de 1.9%.

Os indicadores de perceção de saúde também foram mal, visto que em comparação com o mesmo período do ano anterior os participantes se mostram menos otimistas quanto à sua saúde atual. Pior, observando toda a série de estudos realizados desde outubro de 2015, é possível perceber que a percentagem de participantes que considera a sua saúde fraca se encontra no valor mais alto de sempre (4.2%).

Assim sendo, na média dos últimos anos podemos estar vendo aos poucos a satisfação com a vida e a perceção de felicidade dos portugueses diminuírem. Esses indicadores trazem evidências de uma avaliação negativa dos portugueses das circunstâncias em que estão vivendo.

As explicações para isso podem ser muitas, mas esses estudos, como o Observatório da Sociedade Portuguesa e o já referido no início deste texto - o Relatório Anual da Felicidade Mundial -, procuram essas respostas. Avaliar os sentimentos da população e perceber suas interpretações sobre o quotidiano têm sido ferramentas de pesquisa importante para melhor compreender as consequências das políticas económicas e sociais. A monitorização da sua evolução ao longo do tempo tem ajudado a compreender como questões económicas e políticas acabam por afetar a vida das pessoas.

Para além da posição de Portugal, o Estudo da Felicidade Mundial coloca a Finlândia na primeira posição há seis anos, enquanto o Afeganistão e o Líbano continuam a ser os dois países mais infelizes.

Segundo os investigadores responsáveis pela pesquisa, o relatório deste ano usa diferentes medidas para estudar a desigualdade da felicidade. Uma delas é a diferença de felicidade entre as metades superior e inferior da população. Essa lacuna é pequena em países onde quase todos estão muito infelizes e nos principais países onde quase ninguém está infeliz.

A partir disso, eles afirmam que, de modo geral, as pessoas são mais felizes vivendo em países onde a diferença de felicidade é menor. Indicam ainda a benevolência e o suporte social como fatores importantes para que um povo seja considerado feliz.

Para eles, uma das características marcantes do estudo foi o aumento global da benevolência em 2020 e especialmente em 2021. Os dados de 2022 mostram que os atos pró-sociais ainda são cerca de um quarto mais frequentes do que antes da pandemia.

A respeito do conflito entre Rússia e Ucrânia, a benevolência cresceu acentuadamente na Ucrânia durante 2022, mas caiu na Rússia. Apesar da magnitude do sofrimento e danos na Ucrânia, as avaliações de vida em setembro de 2022 permaneceram mais altas do que após a anexação de 2014, apoiadas por um senso muito mais forte de propósito comum, benevolência e confiança na liderança ucraniana.

Já com relação ao suporte social, os novos dados mostram que as conexões sociais positivas e o apoio em geral estão fortemente ligados a avaliações favoráveis sobre a vida. Assim, a importância das ligações sociais ajudaria a explicar ainda mais uma certa resiliência nas respostas em tempos de crise.

Podemos então pegar nas interpretações do estudo mundial e aplicá-las à realidade portuguesa. Diz o relatório final do Estudo da Felicidade Mundial que as vidas foram melhores onde a confiança, a benevolência e as conexões sociais de apoio continuaram a prosperar, já que, para além dos incontestáveis custos que o momento de crise impõe, ele também pode construir um senso de comunidade.

Ora, vivemos um período de instabilidade económica provocada por uma pandemia mundial recém controlada e também temos visto a tensão na Europa aumentar com o conflito entre Rússia e Ucrânia, mas, apesar disso, ainda há resultados positivos.

Mesmo em situações adversas, as pessoas ainda buscam subterfúgios e ligações positivas para encarar as dificuldades. Sendo assim, a resposta dos portugueses para este momento de crise e vulnerabilidade ainda pode estar na vida em comum – fortalecer ainda mais as interações com os seus grupos sociais.


Isabel Feix, Behavioral Insights Unit da Católica Lisbon School of Business & Economics

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics

Comentários
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  • maria barreto
    26 set, 2024 Horta 00:44
    Só sei que a vida não foi um presentepara mim, como para muitas outras pessoas, provávelmente. A morte para mim seria boa.Não tenho esperança na vida, mas uma vida sem esperança.
  • Anastácio José Marti
    10 abr, 2023 Lisboa 08:06
    Como podem os portugueses ser felizes algum dia se estão ano após anos a serem empurrados para a pobreza e miséria com aumentos de ordenados e pensões abaixo da taxa de inflação? Simultaneamente os DEFICIENTES, a quem a vida foi madrasta, continuam a ser impedidos de se pré-reformarem, após terem estado 14 meses a aguardarem a publicação do Regulamento da Lei Nº 5/22, mas que quando viram em 3/3/2023 publicado o Dec-Lei Nº 18/2023, que regulamentou aquela lei, foram imoral, desumana e intelectualmente de formas desonestas de acederem à sua pré-reforma, porque tal Dec-Lei lhes exigiu um período mínimo de 15 anos com um grau de incapacidade igual ou superior a 80%, quando, simultaneamente, no mesmo Estado, país e Administração Pública, até os polícias, saudáveis, sem grau de incapacidade algum, podem usufruir de acederem à sua pré-reforma desde que tenham 55 anos de idade, o que além de imoral, pergunta-se se será assim que o Princípio da Igualdade é algum dia respeitado e feito respeitar por quem, como o Presidente da República, que assiste impávido e sereno a estas realidades, veio a público qualificar os ciganos como vulneráveis só porque são ciganos e não por terem algum grau de incapacidade quando os DEFICIENTES continuam assim a serem ignorados e desrespeitados com estas práticas e comportamentos por quem tem o dever de dar o exemplo.