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Geração Z
Nasceram na era das tecnologias de informação, são mais práticos e mobilizam-se por causas. Até dispensam o carro e a casa, também porque não têm grandes salários para pagá-los, mas arriscam ter o seu próprio negócio. Como podemos ajudá-los? Quais os medos que enfrentam? Que tal começarmos por ouvi-los? "Geração Z" é um podcast quinzenal, publicado à quarta-feira, às 18h, da autoria do jornalista Alexandre Abrantes Neves. Esta é uma parceria Renascença/Euranet Plus.
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Os cinco maiores partidos estão prontos para responder aos problemas dos jovens?
Ouça aqui o episódio desta semana. Foto: Beatriz Pereira/RR

Geração Z

Os cinco maiores partidos estão prontos para responder aos problemas dos jovens?

10 abr, 2024 • Alexandre Abrantes Neves , João Campelo (sonorização)


Seja pela crise na habitação ou pelos baixos salários, os jovens queixam-se de que é difícil construir uma vida em Portugal. Pedem ação aos políticos, mas para isso é preciso consensos - principalmente num parlamento tão fragmentado. No Geração Z desta semana, deixamos a pergunta a representantes dos cinco maiores partidos: afinal, com que acordos é que os jovens podem contar?

O governo vai criar apoios à habitação para os jovens? Quando vão ser implementados? E os salários? Que estratégias defendem os partidos para acabar com a precariedade à entrada no mercado de trabalho?

Em 2024, as gerações mais novas queixam-se de que é cada vez mais difícil começar uma vida em Portugal: os dados mais recentes apontam que um terço dos jovens portugueses já terá emigrado.

Com um parlamento tão fragmentado – entre quem está no poder e o maior partido da oposição, há uma distância de apenas dois deputados –, só com acordos é se vão concertar soluções para os problemas do país.

Por isso, neste episódio do Geração Z da Renascença e da EuranetPlus, abrimos a casa a jovens representantes dos cinco maiores partidos e discutimos as prioridades e os consensos que podem surgir no hemiciclo. Eis um guia feito a pensar nos jovens - e naquilo que podem esperar nos próximos anos.

A social-democrata Eva Brás Pinho garante que apoios à habitação vão abranger todos os jovens até aos 35 anos. Foto: Beatriz Pereira/RR
A social-democrata Eva Brás Pinho garante que apoios à habitação vão abranger todos os jovens até aos 35 anos. Foto: Beatriz Pereira/RR
Iara Sobral o BE duvida que sejam possíveis entendimentos com o governo quanto à habitação. Foto: Beatriz Pereira/RR
Iara Sobral o BE duvida que sejam possíveis entendimentos com o governo quanto à habitação. Foto: Beatriz Pereira/RR
Para Daniel Teixeira do Chega, o governo tem de apostar em parcerias público-privadas para garantir habitação jovem. Foto: Beatriz Pereira/RR
Para Daniel Teixeira do Chega, o governo tem de apostar em parcerias público-privadas para garantir habitação jovem. Foto: Beatriz Pereira/RR

Apoios à habitação “já em 2025”

O horizonte temporal é claro: os apoios para a primeira habitação dos jovens são para avançar “já no Orçamento do Estado para 2025”. Quem o diz é Eva Brás Pinho, deputada pelo PSD e que se estreia no parlamento aos 24 anos.

No programa do governo, o executivo decidiu avançar com uma garantia pública que ajude os jovens a pagar a entrada para uma casa. Para aceder a este pacote de medidas de apoio à habitação – e onde também está a isenção de IMT e imposto de selo na compra de habitação por jovens até aos 35 anos –, os joven não vão ter de responder a muitos critérios: o objetivo é “mesmo ser abrangente”.

Aqui o objetivo é incluir os jovens todos, precisamente porque os jovens têm ficado nos últimos anos absolutamente impossibilitados de chegar a esta solução e, portanto, nós temos de garantir que os jovens todos têm essa possibilidade. Vamos começar já a pensar nisto, com o Orçamento do Estado”, explica.

Aqui o objetivo é incluir os jovens todos, que têm ficado impossibilitados de chegar à habitação

O Bloco de Esquerda (BE) também classifica a crise na habitação como uma “catástrofe social”, mas até agora as medidas anunciadas pelo governo PSD/CDS-PP “não auguram nada de bom”.

Sobre um possível aumento dos subsídios à renda – que constava em ambos os programas eleitorais, da AD e do BE –, a bloquista Iara Sobral duvida que seja possível chegar a entendimentos sobre esta matéria e coloca o ónus em Luís Montenegro.

“O Bloco vai sempre votar de acordo com o seu programa. A questão aqui é se a AD vai querer implementarestas medidas. Não me parece. (...) A verdade é que não vejo [como podemos alinhar] com programas políticos que querem travar o que o Bloco quer, que é aumentar o parque público de habitação”, vaticina.

Por outro lado, Daniel Teixeira, estreante no parlamento pelo Chega, reforça que garantir casa aos jovens tem de passar por parcerias público-privadas no setor da habitação.

"Acima de tudo, é muito importante que o Estado entenda que não cabe a ele resolver todos os problemas. Regra geral, historicamente falando é a iniciativa privada que tende a solucionar este estes grandes dilemas, seja no campo da habitação, seja no campo profissional", detalha.

Fim de todos os estágios sem remuneração à vista?

Mas não é só de habitação que os jovens se queixam atualmente – e à mesa do Geração Z os cinco partidos mostraram-se preocupados com a precariedade laboral e com o facto de um terço dos jovens já ter deixado o país.

A deputada da Iniciativa Liberal (IL) Patrícia Gilvaz reforça que “antes de mais é preciso aumentar o salário líquido dos jovens e colocar o salário médio nos 1.500 euros por mês”.

A liberal Patrícia Gilvaz diz que é uma "tarefa hercúlea" adotar as "políticas certas depois de oito anos de governo socialista". Foto: Beatriz Pereira/RR
A liberal Patrícia Gilvaz diz que é uma "tarefa hercúlea" adotar as "políticas certas depois de oito anos de governo socialista". Foto: Beatriz Pereira/RR
O presidente da Juventude Socialista, Miguel Costa Matos, defende maior fiscalização dos contratos a termo. Foto: Beatriz Pereira/RR
O presidente da Juventude Socialista, Miguel Costa Matos, defende maior fiscalização dos contratos a termo. Foto: Beatriz Pereira/RR

Para alcançar esse objetivo, os liberais jogam as fichas todas numa redução dos impostos, mas também num aquecimento da economia com “mais atração de capital estrangeiro, empresas, competitividade e atratividade”. E se o contexto económico português atual dificulta a adoção deste tipo de políticas, a representante da IL aponta o dedo à governação socialista.

“Isso é responsabilidade do Partido Socialista. Portanto, agora temos uma tarefa muito hercúlea que é começar aadotar as políticas corretas e para que, aos poucos, porque obviamente não vai ser de um ano para o outro, os saláriospossam começar a ir aumentando”, detalhou.

À esquerda, o deputado socialista Miguel Costa Matos compromete-se a propor soluções para os jovens que continuam a passar por sucessivos estágios não remunerados – os chamados “estágios de muita curta duração”.

Os partidos fecham-se sobre si e não discutem os problemas dos jovens

Porém, o presidente da Juventude Socialista acrescenta ainda outro ponto para combater a precariedade: reforçar a fiscalização dos contratos a termo que, com a Agenda do Trabalho Digno, passaram a poder ser renovados apenas quatro vezes.

“[Há] contratos a termo que vão se sucedendo uns aos outros, sem passar a contratos sem termo. Quando houve fiscalização da Autoridade para as Condições do trabalho, foram notificadas 80 mil empresas e a mesma coisa com os falsos recibos verdes. Portanto, essafiscalização já aconteceu e tem de voltar a acontecer e a mesma coisa com os estágios”, propôs.

Política jovem precisa de independentes e do voto aos 16 anos

É um voto unânime de “mea culpa”: os cinco maiores partidos admitem ter de “refletir” sobre o que fez os jovens afastar-se da política tradicional e das juventudes partidárias.

Para a bloquista Iara Sobral, os mais novos “vão ao encontro das soluções para os seus problemas” e a razão para que prefiram o ativismo e as coletividades é simples: “os partidos fecham-se sobre si e não se discutem os problemas dos jovens”.

O socialista Miguel Costa Matos alinha-se com esta perspetiva e, apesar de não rejeitar a introdução de quotas para jovens nas listas do parlamento, pede medidas para “atrair jovens com qualidade para a política”.

À direita, a social-democrata Eva Brás Pinho deixa logo uma sugestão: perceber quais são os temas que interessam aos jovens e pedir-lhes contributos. A também advogada gostava que se criassem “espaços onde os independentes possam contribuir sobre temas específicos, como as alterações climáticas”.

Com as eleições europeias à porta, Chega e IL deixam propostas para reduzir a abstenção entre os jovens. Daniel Teixeira destaca que não é contra a União Europeia, mas considera que os “últimos acordos põem em causa a soberania nacional e os frutos de cada nação”. Por isso, o terceiro deputado mais novo da bancada do Chega pede que se repensem as instituições europeias para “reforçar os laços com os diferentes países”.

Já a liberal Patrícia Gilvaz prefere focar-se em baixar a idade do voto para os 16 anos – medida com a qual todas as juventudes partidária presentes concordam, à exceção do Chega. A deputada acredita que é um “caminho para reduzir a abstenção”: “mostramos aos jovens que estamos empenhados em que eles também participem democraticamente”, remata.

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