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União Europeia

Ao ritmo atual, fosso salarial entre homens e mulheres só vai desaparecer no próximo século

06 out, 2020 - 17:19 • Vasco Gandra, correspondente em Bruxelas

Segundo um estudo com base em dados do Eurostat, mulheres portuguesas ganhavam menos 16,2% que os homens em 2018.

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A manter-se a tendência atual, o fosso salarial entre homens e mulheres na União Europeia só deverá desaparecer no próximo século, alerta um estudo da Confederação Europeia de Sindicatos (CES) divulgado esta terça-feira. Em certos países, poderá mesmo demorar mil anos. Portugal está no grupo de Estados-membros onde a desigualdade vai continuar a aumentar.

O estudo da CES baseia-se nos dados do gabinete de estatísticas Eurostat, dados esses que indicam que a desigualdade salarial entre homens e mulheres diminuiu 1% no decorrer dos últimos oito anos, o que significa que as mulheres terão de esperar 84 anos até alcançar a igualdade salarial. Se a tendência se mantiver, e sem alteração de políticas, as disparidades salariais na UE só deverão desaparecer em 2104 (média do conjunto dos Estados-membros).

Portugal é um dos países onde o fosso continuará a aumentar, juntamente com a Bulgária, Croácia, Eslovénia, Letónia, Lituânia, Malta e Polónia. Segundo o estudo, em 2010, as mulheres portuguesas ganhavam, em média, menos 12,8% do que os homens e essa diferença aumentou até aos 16,2%, em 2018.

De resto, só três Estados-membros vão conseguir atingir uma situação de igualdade de género ainda esta década - Luxemburgo (2027), Bélgica (2028) e Roménia (2022). Contudo, a CES sublinha que, neste último caso, os salários são "inadmissivelmente baixos".

Em mais nove países, como a Dinamarca ou a Áustria, a igualdade salarial só será alcançada na segunda metade deste século. Noutros casos será ainda mais tarde, como na Alemanha (2121) e França, onde as mulheres terão de esperar cerca de mil anos para terem um salário idêntico ao dos homens, já que o ritmo de redução das disparidades é de 0,1% desde 2010.

Uma diretiva para promover a transparência salarial

A CES manifesta-se preocupada com a situação e pede a Bruxelas legislação europeia nesta matéria, lamentando "o adiamento de 4 de novembro para 15 de dezembro da apresentação da diretiva sobre transparência salarial por parte da Comissão Europeia".

A diretiva para a transparência salarial faz parte da nova estratégia da Comissão de Ursula von der Leyen para promover os direitos das mulheres, tendo sido lançada uma consulta pública para recolher informações sobre o impacto das regras da UE em matéria de igualdade de remuneração entre homens e mulheres.

"Algumas grandes empresas gostam de repetir que a redução da disparidade salarial está no bom caminho através de medidas voluntárias. Se as coisas continuarem ao ritmo atual, as mulheres ainda terão que esperar mais de 100 anos antes de conseguirem salários iguais na Europa. Agora é o momento de estabelecer justiça salarial para todas as mulheres que, durante a crise da Covid-19, trabalharam na linha de frente ocupando empregos sistematicamente desvalorizados, seja na área de cuidados de saúde ou limpeza", afirma a secretária-geral adjunta da CES, em comunicado.

A CES pede à Comissão para "dar prioridade às medidas urgentes de transparência salarial, a fim de fazer progressos reais no sentido da igualdade".

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